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Embraer enfrenta nacionalismo americano

Alex Ribeiro

A fabricante de aviões Hawker Beechcraft está apelando para a retórica nacionalista na tentativa de tomar da Embraer contrato de até US$ 1 bilhão para fornecer aeronaves para a Força Aérea americana. Mas sua estratégia está sendo diluída pelos interesses locais de diferentes regiões dos Estados Unidos.

Na quarta-feira, a Força Aérea comunicou a suspensão temporária da encomenda de 20 aviões Super Tucano fabricados pela Embraer até que a Justiça americana julgue ação movida pela Hawker Beechcraft que questiona o processo de licitação.

Numa recente nota sobre o processo judicial, a Hawker Beechcraft usou argumentos protecionistas em seu favor. "O contrato, a caminho de beneficiar uma empresa não americana, é avaliado em US$ 1 bilhão em recursos dos contribuintes americanos", afirma. O valor inicial do contrato é de US$ 355 milhões, mas pode subir a perto de US$ 1 bilhão ao longo do tempo.

A companhia mantém site em defesa do concorrente do Super Tucano, o avião AT6, afirmando que ele cria "empregos americanos". Também estimula cidadãos a pressionarem parlamentares e a Força Aérea. Deputados do Estado do Kansas, onde a companhia está sediada, subiram no palanque em defesa da Hawker Beechcraft.

"É simplesmente errado o governo Obama contratar uma empresa brasileira para lidar com a segurança nacional quando temos uma companhia americana competente", declarou o deputado Tim Huelskamp, na semana passada, quando a Força Aérea comunicou que a Embraer venceu a licitação. Ele recebeu US$ 5 mil em doações da Hawker Beechcraft para a sua campanha de reeleição em 2012, segundo dados da Open Secrets, uma entidade que monitora doações políticas.

"É pertubador que a Força Aérea dos Estados Unidos prefira ter essas aeronaves construídas em outro país, quando empregos são tão necessários em nossa casa", declarou outro deputado, Mike Pompeo, que também recebeu US$ 5 mil para sua campanha.

O lobby do Kansas, porém, está sendo combatido por outro Estado com mais peso político dentro do Congresso, a Flórida. A Embraer pretende montar os Super Tucanos numa fábrica em Jacksonville, numa região com forte indústria aeroespacial no norte do Estado, utilizando alguns fornecedores locais. A estimativa é que vá criar 50 empregos.

"Esse é um importante negócio para a Flórida", afirmou o governador Rick Scott ao saber que a Força Aérea americana concedeu o contrato para a Embraer. Na ocasião, o governador agradeceu os esforços em favor da empresa brasileira feitos por parlamentares do Estado.

A Embraer, cuja sede nos Estados Unidos fica na cidade de Forte Lauderdale, ao norte de Miami, tem cultivado boas relações com autoridades governamentais da Flórida. Com incentivos fiscais, a empresa inaugurou, no ano passado, uma fábrica de jatos executivos em Melbourne. Executivos da Embraer acompanharam uma delegação comercial ao Brasil liderada pelo governador Scott em fins de 2011.

A Embraer também tem investido em lobby em Washington. A empresa mantém um escritório com vista para a Casa Branca e, em 2011, gastou em US$ 480 mil em lobby, segundo a Open Secrets. O lobby é uma atividade legal, regulamentada e disseminada nos Estados Unidos. A Hawker Beechcraft gastou US$ 210 mil.

A Força Aérea comunicou, na quarta-feira, ao Tribunal de Ações Federais dos Estados Unidos que irá suspender a contratação da Embraer, que atua por meio de sua associada americana, a Sierra Nevada Corporation, até o julgamento final. A Força Aérea pede que o processo seja acelerado. A Hawker Beechcraft obteve segredo de justiça na maior parte do processo para proteger informações comerciais.

Em novembro, a Força Aérea comunicou à companhia americana a sua desclassificação porque "múltiplas deficiências e fragilidades significativas encontradas na proposta da Hawker Beechcraft a tornaram inaceitável tecnicamente e criam riscos inaceitáveis para as missões". A Força Aérea pretende usar os Super Tucanos em patrulhas no Afeganistão.

A Hawker Beechcraft tentou apresentar um recurso contra a decisão, mas a Força Aérea o rejeitou alegando que o prazo havia vencido. A empresa americana então entrou com uma reclamação num órgão que supervisiona o governo, o GAO, que deu razão para a Força Aérea.

O Valor encaminhou questões escritas para a Hawker Beechcraft, mas não havia recebido resposta até o fechamento desta edição. A Sierra Nevada divulgou nota afirmando "permanecer confiante de que o assunto será resolvido rapidamente".

No Brasil, a Embraer informou estar tranquila quanto ao desfecho do processo. "Essa reação da concorrente já era esperada", informou a fabricante brasileira.

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