FABIANO MAISONNAVE
Nas últimas semanas, o horário de maior movimento no chão da fábrica da Embraer em Harbin (1.250 km ao norte de Pequim) tem ocorrido no intervalo do almoço.
É quando os funcionários chineses aproveitam o tempo livre para praticar badminton e jianzi (peteca jogada com os pés) no imenso galpão quase vazio.
A produção está parada desde 26 de abril, data da entrega da última unidade do ERJ-145 (50 passageiros).
Sem demanda, 90 dos 213 funcionários (apenas sete são brasileiros) ganharam licença remunerada, e US$ 7 milhões em peças e equipamentos estão parados no armazém da empresa.
Para que a fábrica volte a funcionar, o trabalho tem sido intenso em áreas como a comercial e a financeira, em meio aos passos para viabilizar a montagem de jatos executivos Legacy 600/650, a nova aposta da Embraer para o mercado chinês. O processo pode levar até 24 meses.
A migração do ERJ-145, já sem demanda no mercado, para o Legacy é resultado de um acordo firmado em meados de abril entre a Embraer e sua sócia minoritária na fábrica, a estatal Avic, em meio à visita da presidente Dilma Rousseff a Pequim.
Inaugurada há oito anos, a joint venture Harbin Embraer Aircraft Industry Company (Heai) ocupa dois galpões de um imenso complexo da Avic, onde trabalham cerca de 12 mil pessoas e são produzidos helicópteros, aviões de espionagem não tripulados e até veículos.
A fabricação de jatos executivos não era a primeira opção da Embraer. A empresa queria montar o E-190, para cerca de cem passageiros, mas o governo chinês negou a autorização porque uma empresa do país desenvolve um avião semelhante.
Na frente burocrática, um dos primeiros passos é obter do governo a licença de negócios, sem a qual a fábrica não pode sequer importar as peças para fabricar o Legacy.
A fase de transição também inclui o treinamento, em São José dos Campos (SP), dos 90 operários hoje em licença remunerada.
"Não há números suficientes para justificar uma linha de produção na China", afirmou o analista americano Brendan Sobie, do Centro para a Aviação da Ásia e do Pacífico, com sede na Austrália.
"Há vários anos fala-se da abertura do mercado, mas isso nunca ocorre. A Embraer está confiante, mas as perguntas são: qual a velocidade dessa abertura do mercado? Qual será a participação da Embraer nesse mercado?"
Embora a Embraer seja a única a investir numa fábrica, outras empresas do setor vêm se interessando pela China. A fabricante francesa Dassault Falcon transferiu recentemente seu escritório asiático da Malásia para Pequim, enquanto a canadense Bombardier estima que a China precisará de 600 jatos privados até 2019.
Entre os funcionários da Embraer em Harbin o clima é de otimismo. "Por causa da influência estrangeira, as empresas e os milionários estão comprando aviões privados", diz o engenheiro de qualidade Lin Jiafeng. "Muitas estrelas de cinema chinesas já compraram o seu."