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Embarque na insegurança

Renata Mariz e Ana Elisa Santana

Se mantido o ritmo atual de acidentes aéreos, 2011 será recordista em tragédias na última década. Oficialmente, foram computados 77 desastres com aviões civis até o último dia 4 pela Aeronáutica — o que representa 70% de todos os registros feitos em 2010 . Do total de acidentes notificados neste ano, 20% foram fatais, como o de ontem, no Recife, que vitimou as 16 pessoas que estavam a bordo. Uma das principais justificativas apresentadas para o aumento das ocorrências é o crescimento da frota aérea brasileira. Mas nem todos os especialistas aceitam a tese como única explicação.

"Claro que os acidentes serão mais frequentes na medida em que o número de aeronaves cresce, mas, por isso mesmo, é preciso investir em duas frentes: treinamento e fiscalização, que se dá na verificação da habilitação dos comandantes e na qualidade da manutenção dos aviões, atualmente a cargo da Agência Nacional de Aviação Civil", destaca o engenheiro aeronáutico Rogério Benevides, consultor em aviação. Números mais recentes da própria agência fiscalizadora mostram um incremento na quantidade de aeronaves voando no Brasil, entre 2001 e 2009, da ordem de 12,5%. No mesmo período, os acidentes cresceram 54%. Em um recorte mais recente, de 2007 a 2009, a discrepância também é nítida: a frota cresceu 7,5% e os acidentes, 10,7%.

"Diria que estamos dentro da média, apesar do número absoluto estar aumentando. O que nos preocupa muito é a forma como as companhias aéreas estão lidando com os profissionais. Esse acidente do Recife é um exemplo. Como um profissional que estaria de folga até sábado foi chamado de última hora? Folga em aviação é sagrada", queixa-se o comandante Carlos Camacho, diretor de Segurança de Voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA). Ele refere-se às informações prestadas ontem pelo irmão de Roberto Gonçalves, copiloto da aeronave acidentada. O diretor do SNA ressalta ainda a necessidade de um cumprimento mais rígido, por parte das companhias, das normas que se aplicam aos tripulantes de aviões.

Problemas críticos

Entre os motivos mais preponderantes dos acidentes registrados no Brasil está a falha do motor, apontada pela Aeronáutica como ocorrência presente em 29,3% dos desastres investigados entre 2000 e 2009. "De fato, problemas no motor e falhas humanas são dois fatores quase sempre presentes em qualquer acidente, mesmo porque são aspectos críticos. E, dependendo da falha no motor, sobra muito pouco a ser feito", diz Benevides, que também é piloto, além de engenheiro aeronáutico.

O segundo motivo apontado pelas autoridades para a ocorrência de acidentes, presente em 21,9% dos registros, é a colisão com obstáculos durante o voo, geralmente aves. Apesar da frequência desse tipo de acidente, raramente há consequências graves. Outros fatores importantes são a perda de controle em voo e a perda de controle no solo, segundo a Aeronáutica. Apesar dos dados, o órgão ressalta que não existe causa isolada para explicar um acidente, mas sim fatores combinados.

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