Brasília, 12 de junho de 2017.
Ten Brig Ar Antônio Carlos Egito do Amaral
Comandante do Comando de Preparo
Ano: 1931! Relativamente, pouco tempo havia se passado desde que a inventividade de Santos Dumont assombrara o mundo com o voo histórico sobre o campo de Bagatelle, nos céus de Paris.
No Brasil, intrépidos pilotos e suas surpreendentes máquinas voadoras protagonizavam eventos extraordinários que ajudariam a desenvolver a Aeronáutica brasileira, apesar da precariedade dos meios e da limitada infraestrutura.
No dia 12 de junho de 1931, na manhã de uma sexta-feira, os tenentes Casimiro Montenegro Filho e Nélson Freire Lavenère-Wanderley partiram do Campo dos Afonsos rumo à cidade de São Paulo para uma histórica missão.
Sob o comando do biplano Curtiss “Fledgling”, de matrícula K263, os dois jovens oficiais enfrentaram as variações meteorológicas, a falta de comunicação e as limitações de combustível para transportar a primeira mala postal do Correio Aéreo Militar. Isso significou a materialização do sonho de um grupo de pilotos, liderados pelo então Major Eduardo Gomes.
Esse incrível feito marcou a História da Aeronáutica brasileira e passou a ser conhecido como o Dia do Correio Aéreo Nacional e da Aviação de Transporte.
Foi assim que, em seguida à criação do Ministério da Aeronáutica, no ano de 1941, surgiu o Correio Aéreo Nacional, levando outros valorosos “bandeirantes do ar” a desbravarem os céus do Brasil.
Progressivamente, o alastrar na infraestrutura aeronáutica e o desenvolvimento de novos vetores, mais velozes, com maior autonomia e com maior capacidade de carga, possibilitaram a ampliação das linhas de transporte aéreo do CAN, solidificando a presença do Estado nos mais longínquos rincões do país.
Hoje, a Força Aérea Brasileira emprega, diuturnamente, seus meios de Transporte Aéreo Logístico para apoiar as atividades operacionais, logísticas e administrativas das Forças Armadas brasileiras, garantindo o fluxo de pessoal, equipamentos e suprimentos onde a ação militar seja necessária e oportuna.
Do mesmo modo, os meios de transporte da FAB são aplicados em situações de emprego eventual de natureza não-militar, normalmente relacionadas à cooperação da FAB com o desenvolvimento nacional, com a defesa civil e com as campanhas institucionais de utilidade pública, levando a presença do Estado às regiões desassistidas ou em situações de emergência.
Atualmente, testemunhamos a evolução da Aviação de Transporte. O Projeto KC-390, cargueiro multimissão, continua em fase de desenvolvimento e certificação, com dois protótipos em testes. As primeiras aeronaves serão entregues a partir do ano que vem, como substitutas dos C-130 Hércules.
Por sua vez, com a chegada do novo vetor, a aeronave Boeing C-767, a Força Aérea recuperou a sua capacidade de transporte estratégico, seja em suporte às operações de paz, seja no transporte de tropas e forças auxiliares para as ações de garantia da lei e da ordem ou em situações de apoio à Defesa Civil.
Todavia, o avanço tecnológico advindo pela modernização torna essencial o aperfeiçoamento, cada vez maior, da Doutrina Aeroespacial. Para essa finalidade, destaca-se a importância da pesquisa operacional como a força motriz de toda atualização doutrinária.
Há que se repensar o emprego do Poder Aeroespacial em cenários prospectivos e ajustar os processos, as táticas, as técnicas e os procedimentos em vigor na Força Aérea. Urge conduzir ações efetivas que transformem a Força Aérea Brasileira em uma Instituição com grande capacidade dissuasória, operacionalmente moderna e capaz de atuar de forma integrada para a defesa dos interesses nacionais e plenamente apta a cumprir sua missão de “Manter a soberania do espaço aéreo e integrar o território nacional com vistas à defesa da Pátria”.
Dessa forma, a “Concepção Estratégica Força Aérea 100” traz em seu bojo três conceitos fundamentais que nos ajudarão a incrementar nossas capacidades e a alcançar a excelência nos processos operacionais: a concentração de atividades afins, a redução dos níveis organizacionais e a diminuição do custeio das atividades-meio.
É por essa razão que os processos de Preparo e Emprego da Força Aérea foram agrupados, respectivamente, no Comando de Preparo e no Comando de Operações Aeroespaciais.
Assim, o Comando de Preparo está encarregado de planejar o treinamento, fixar os padrões de eficiência e avaliar o desempenho das Alas e unidades subordinadas, além de coordenar a formulação da Doutrina Aeroespacial, a partir dos cenários e das capacidades estratégicas definidos pelo Estado-Maior da Aeronáutica. Na prática, o COMPREP agregou parte das atividades outrora realizadas pelo Comando-Geral de Operações Aéreas e pelas quatro Forças Aéreas.
Em contrapartida, o Comando de Operações Aeroespaciais, COMAE, passou a ser o Comando Conjunto permanentemente ativado responsável pela condução das operações aeroespaciais recorrentes e eventuais determinadas pelo Comandante da Aeronáutica e pelo Ministro da Defesa.
Com o novo modelo – atividades de preparo e emprego divididas em dois comandos – a racionalização e a economia no emprego dos meios aéreos, sobretudo em relação às aeronaves de Transporte Aéreo Logístico, têm apresentado expressivos resultados, como, por exemplo: a pronta-resposta para atender às ordens emitidas pelos escalões superiores; o estabelecimento de métodos científicos para o desenvolvimento de habilidades, conhecimentos e atitudes necessários aos combatentes; e as melhorias nos processos de gestão da informação e do conhecimento operacional.
Nesse cenário, a Ala passa a ser a ponta de lança da Força Aérea! Uma organização de nível tático imprescindível para o emprego do Poder Aeroespacial. O seu viés, prioritariamente operacional, fundamenta-se no adestramento de seus Esquadrões Aéreos, Grupo Logístico e Grupo de Segurança e Defesa, consoante os padrões fixados pelo COMPREP, mantendo-os aprestados para serem empregados pelo COMAE, quando e onde for determinado.
Não obstante, a modernização de nossas estruturas operacionais não seria possível sem o avanço dos processos administrativos. Nesse sentido, as atividades rotineiras de manutenção do patrimônio e da infraestrutura, de gestão dos recursos humanos, de subsistência e de aquisições, entre outras tantas, que antes estavam dispersas em inúmeras organizações, foram concentradas em grupamentos e destacamentos especializados, subordinados aos órgãos setoriais de Logística, Pessoal e Administração. Como resultado, esses procedimentos estão mais ágeis, confiáveis e econômicos, além de facultar aos comandantes das Alas mais tempo para se dedicarem aos assuntos técnicos e operacionais.
Integrantes da Aviação de Transporte,
Lançar! Suprir! Resgatar! O bradar do seu grito de guerra simboliza o vibrante espírito do trabalho em equipe e a firmeza no cumprimento da missão!
Por derradeiro, com júbilo, ecoemos as palavras do Tenente Brigadeiro Nelson Freire Lavanère-Wanderley, que refletem o sentimento emanado por todo tripulante ao conduzir mais longe as cores vivas da Bandeira do Brasil:
“A epopéia do Correio Aéreo Nacional não terminará; ela se transfere, de geração em geração. Sob novos tempos, ela prosseguirá impulsionada pelo anseio que empolga a Força Aérea Brasileira de servir à Pátria, de ser útil e de participar da integração e do desenvolvimento nacional.”
Com ajuda do CAN, sargento da FAB encontra o pai após 37 anos – Aeronaves da FAB ajudam a integrar o território nacional¹
No ano em que comemora 86 anos, o Correio Aéreo Nacional (CAN) continua atuando como forte instrumento de integração entre a população brasileira. E foi em uma dessas missões, no Norte do País, que o Esquadrão Guará (6º ETA), em coordenação com o Posto do CAN de Brasília, proporcionou o encontro da Sargento Graciene Constâncio de Lima com o pai, após 37 anos de espera.
“Foi por meio de uma reportagem sobre o Rio Amazonas que a sargento, do Grupamento de Apoio do Distrito Federal (GAP-DF), descobriu o paradeiro do pai. Genivaldo Constâncio Lima, de 73 anos, estava vivendo em uma comunidade ribeirinha localizada a mais de mil quilômetros de Manaus (AM), percurso que só é possível ser realizado por rio, em uma viagem de balsa que dura quatro dias.
Ao localizá-lo, a Sargento logo pensou em como a FAB poderia ajudá-la a encontrar o pai que ela nunca havia conhecido. “Quando descobri onde meu pai estava, conversei com o 6º ETA e o Grupo de Transporte Especial (GTE), os dois ficaram monitorando os voos, alguma oportunidade, via CAN, para trazer meu pai de volta pra casa”, conta a militar.
O Tenente Breno Rodrigues de Souza era um dos pilotos do voo que levou Genivaldo de Manaus para Brasília. “Inicialmente, nossa missão era levar material para uma equipe na região amazônica. Um pouco antes do embarque, ficamos sabendo que no retorno para Brasília traríamos o pai da Graciene. Imediatamente, a tripulação quis concretizar esse transporte do pai dela. Ficamos ansiosos para presenciar o encontro e foi emocionante, uma sensação muito boa, porque, após uma missão corriqueira de transporte de material, nós conseguimos carregar uma história”, relembra o militar.
O voo que proporcionou o encontro da Sargento Graciene com o pai aconteceu em janeiro deste ano e vai ficar registrado para sempre na memória. “Eu o conheci quando ele saiu do avião. Foi o primeiro abraço que dei no meu pai durante minha vida. E sem o empenho do
6º ETA, nada teria acontecido, eles foram os responsáveis por toda a mobilização”, reconhece.
86 anos integrando o Brasil
O ano era 1931. No dia 12 de junho, os Tenentes Casemiro Montenegro Filho e Nelson Freire Lavénère-Wanderley, da Aviação Militar, decolaram do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, a bordo de um avião Curtiss “Fledgling”, em direção a São Paulo. A missão era entregar um malote com duas correspondências à sede dos Correios e Telégrafos.
Idealizado pelo General José Fernandes Leite de Castro, Ministro da Guerra, e sob o comando do então Major Eduardo Gomes, o Correio Aéreo Militar expandiu-se pelo interior do País e foi um marco na aviação e na integração nacional. A ideia era criar rotas com destino a lugares isolados do Brasil. Com a criação do Ministério da Aeronáutica, em 1941, houve a fusão dos Correios Aéreos Militar e Naval, resultando no Correio Aéreo Nacional.
Nos anos 50, para atender as linhas da Amazônia, foram incorporados à frota os aviões-anfíbios CA-10 Catalina. “Era a minha aeronave preferida por suas características de operação aquática”, recorda o Coronel Aviador da Reserva Carlos José Pöllhuber que possui 11.500 horas de voo pela FAB. Além do Catalina, o militar também pilotou as aeronaves C-47 Douglas, C-115 Búfalo e C-95 Bandeirante em suas missões no CAN.
¹Agência Força Aérea, por Aspirante Aline Fuzisaki