Nataly Costa e Renato Machado
Vistas no ar, aves parecem inofensivas. Perto de um avião, porém, podem causar estrago: o número de colisões entre pássaros e aeronaves nos aeroportos chegou a quase mil em 2010, alta de 10% em relação ao ano anterior. O perigo fez o Centro de Investigação e Controle de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) criar no mês passado um Plano Básico de Gerenciamento do Risco Aviário para investigar os casos.
Em casos extremos, uma batida dessas pode derrubar um avião. Mas o mais comum é provocar perda total nos motores, ferimentos na tripulação e atrasos para o passageiro. "Parece bobagem, mas imagine uma aeronave a 250 km/h se chocar com um pássaro de 3 quilos, também em movimento. Pode ser fatal", explica o coordenador de Ciências Aeronáuticas da Estácio de Sá, o piloto Marcus Reis.
Os chamados "birdstrikes" já mataram dois pilotos militares no Brasil e deixaram cegos pelo menos mais dois. Os números são estimados – o Cenipa acredita que as colisões reportadas representam apenas 25% do universo real dos acidentes.
Como os relatos são voluntários, muitos ficam só na suspeita e nem sempre o piloto percebe que bateu em ave. "Nos Estados Unidos, quando há acidente ou pane inexplicada, fazem teste de DNA para descobrir se tem restos de aves", explica o major Henrique Rubens, gerente do setor de Risco Aviário do Cenipa.
O país teve uma quase tragédia por "birdstrike": o pouso de emergência de um avião no Rio Hudson, em Nova York, em janeiro de 2009. Dois gansos de 5kg entraram em cada motor. "O pouso é considerado um milagre na aviação. O comandante virou herói", conta Rubens.
Prejuízos. Em colisões "cotidianas", os sinais geralmente aparecem em forma de prejuízo milionário para as companhias. O Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) estima perda de U$ 3 bilhões por ano para as empresas. "O custo indireto é ainda maior. O avião quebra, tem de retornar. O passageiro perde a viagem e a companhia, a credibilidade", diz o diretor técnico do Snea, Ronaldo Jenkins.
Nos lugares com mais colisões, as causas não são mistério: até 2009, o recordista era o Galeão, no Rio, que tem como vizinho o Aterro de Gramacho, considerado o maior lixão da América Latina. Ele apresentou queda, mas hoje ainda ocupa o quarto lugar.
Por outro lado, aeroportos com entorno mais urbanizado, sem nenhum foco aparente de atração, dispararam no ranking. Porto Alegre, por exemplo, subiu de 42 para 54 – uma das tentativas de acabar com as colisões foi usar falcões adestrados para afugentar as demais aves. Também aumentou a quantidade de casos nos aeroportos de Salvador, Brasília e Congonhas.
Um projeto de lei tramita no Congresso e prevê regras para diminuir o risco de acidente. O texto prevê a criação da Área de Segurança Aérea, com 20 km de raio, onde uso e ocupação do solo estariam sujeitos a restrições para evitar que atraiam aves.