Sergio Leo
A Embraer é, ainda, a maior aposta do governo brasileiro para aumentar, no curto prazo, a parcela de produtos de alto valor agregado nas exportações brasileiras para a China, hoje dominadas por commodities, como soja e minério de ferro. É grande a expectativa que a visita da presidente Dilma Rousseff ao país, em 11 de abril, seja acompanhada de anúncios positivos de abertura do mercado de carnes chinês, com a permissão de exportação de carne suína ao país. Há preocupação, no governo, porém, com a dificuldade em vender mais manufaturados aos chineses, como quer a presidente.
"Temos de trabalhar naquilo que exportamos, o mercado de aviação regional é excelente, há empresas que querem comprar", disse ao Valor o embaixador Clodoaldo Hugueney. Ele informou que o Itamaraty ainda discute com os chineses o possível aproveitamento da fábrica montada pela Embraer no país para fabricação do jato de médio porte EMB-190, já que o plano original de montar o menor EMB 145 foi considerado inviável. Como alternativa há o plano de venda de jatos executivos Legacy e a fabricação desses aviões na China. Em contatos prévios, autoridades chinesas indicaram que podem aprovar essa solução.
No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a mandar duas cartas ao governo chinês, seguida de carta do ministro da Defesa, Nélson Jobim, em favor da produção do EMB 195 na China, mas não houve resposta. As expectativas sobre um anúncio positivo em relação à Embraer são baseadas na promessa feita pelos chineses ao receberem, há poucas semanas, os ministros da Relações Exteriores, Antônio Patriota, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel.
Em Brasília, integrantes do governo reconhecem, em conversas reservadas, que são grandes os obstáculos para engajar mais indústrias no esforço exportador brasileiro. A dificuldades começam com a disparidade no câmbio, que encarece produtos brasileiros em dólar, e com a preferência dos empresários brasileiros por mercados mais próximos ou mais conhecidos.
Nos últimos anos, porém, o Itamaraty e a Agência de Promoção de Exportações (Apex) têm buscado nichos de mercado para produtos brasileiros, e esperam ampliar negócios durante a visita de Dilma a Pequim. "Há uma classe média emergente de 200 milhões de pessoas na China, em busca de produtos para se diferenciar", explica o presidente da Apex, Maurício Borges, que, durante a viagem à China, promoverá encontros entre compradores ou sócios chineses com empresários brasileiros.
Desde 2009, a Apex mantém em Pequim um centro de negócios, que atendeu a 94 empresas desde então, entre elas a Alpargatas, que montou 90 pontos de venda das Havaianas no país, e a Labtest, empresa brasileira de diagnóstico in vitro, que abrirá na semana que vem escritório na capital chinesa.
As empresas têm sido estimuladas a buscar mercado para produtos que tenham mais tecnologia e design em sua composição, diz Borges. O projeto de "plataforma comercial", baseado na cidade de Dongguan, para apoiar empresas brasileiras, tornou viáveis, desde 2010, negócios da ordem de US$ 1,6 milhão, segundo a Apex.
Parte do esforço de divulgação de marcas brasileiras irá à mesa do almoço oferecido pelo governo brasileiro a 800 convidados, após o seminário empresarial promovido pelo Itamaraty.
Entre espumantes nacionais e pães de queijo, haverá produtos de empresas, como Brasil Foods, Seara-Marfrig, JBS, Vinícola Miolo, Predilecta, Forno de Minas, Novo Mel, Sufresh e Agrofood /Café Machado. Borges diz que os programas de promoção têm dado preferência a produtos alimentares de valor agregado, como os chamados nutracêuticos -sucos com adição de vitaminas ou com propriedades terapêuticas.
Os negócios obtidos até agora, na casa dos milhões de dólares, ainda são insuficientes para afetar a pauta de exportações brasileiras à China, que soma US$ 3,8 bilhões, 87% dos quais concentrados nas commodities que ocupam os sete primeiros lugares entre as mercadorias mais vendidas pelo Brasil aos chineses.
Borges aponta, porém, que o mercado chinês começa a se tornar alternativa importante para produtores em setores de ocupação de mão de obra, como a indústria do café e até de calçados -oito empresas do setor, após sondagens de mercado, abrirão centro de vendas multimarcas para calçados de luxo em Pequim, em breve.
Os empresários brasileiros estão se preparando, buscando informações antecipadamente, não vão como aventureiros para a China, diz o presidente da Apex, para explicar a ainda tímida presença brasileira no mercado chinês. Entre os produtos capazes de gerar grande volume de vendas em curto prazo, estão as carrocerias de veículos de carga da Marcopolo, que aguarda – até agora sem resposta positiva – autorização para instalar uma fábrica de montagem na China, de olho nas vendas ao mercado do Sudeste Asiático. Dilma tentará fazer avançar o projeto da empresa durante a viagem.
Além da Embraer, o impacto mais sensível no esforço exportador brasileiro terá de vir de mais uma commodity, a carne suína, que aguarda há cinco anos autorização de entrada na China. Uma missão de técnicos chineses esteve no Brasil em setembro. Na semana passada, o relatório, com as recomendações para garantir certificado de sanidade para a carne exportada,chegou ao Brasil.
Eles vieram, aprovaram a saúde animal no campo, aprovaram as fábricas. A nossa resposta vai para os chineses nesta sexta-feira, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de carne Suína (Abipecs), Pedro Camargo Neto. Uma missão do Ministério da Agricultura negociará os detalhes nos próximos dias, para garantir o anúncio durante a visita de Dilma.