A RFI obteve autorização para conversar com os instrutores de 11 pilotos ucranianos em uma base aérea secreta no sudoeste na França, onde eles estão sendo treinados. O país cedeu 40 caças F-16 para ajudar a Ucrânia na guerra contra a Rússia.
(RFI) Os primeiros 11 pilotos ucranianos que fazem parte do treinamento proposto pela França têm entre 21 e 23 anos, mas não são novatos. Na Ucrânia, eles já haviam voado cerca de 100 horas. Antes de vir à França, eles também fizeram um curso na Grã-Bretanha, para se familiarizar com o inglês, a língua usada nos cockpits ocidentais.
Na França, os pilotos ucranianos treinam em ritmo acelerado no Alpha Jet, uma aeronave usada nas escolas de aviação que facilita a transição para a pilotagem dos caças F-16 e Mirage, que serão utilizados nos combates na Ucrânia.
Como o tempo é curto, a formação acontece em ritmo acelerado, explica Franz, o instrutor. “É a primeira vez que treinamos pilotos de caça de um país em guerra, sim. Acho que teremos tomado consciência da velocidade do treinamento quando eles forem embora.”
Segundo o instrutor, o treinamento inclui situações que vão ficando cada vez mais complexas. “Temos que focar na distância do objetivo, coordenadas, altitude, velocidade. Um ‘briefing sempre está em andamento na sala de operações, com um instrutor para cada piloto. A missão de hoje é a simulação de um bombardeio a um estoque de munição”, diz Benjamin, outro instrutor.
“Temos um estagiário que está quase na metade do seu treinamento. Depois de ter realizado muitas missões em baixa altitude, ou seja, missões de navegação, para aprender a não se perder, ele agora recebe um treinamento mais tático”, explica. “São pilotos muito jovens”, ressalta. “Por isso são verdadeiras ‘esponjas’ para aprender, muito motivados e atentos. Aqui só temos instrutores muito experientes, que têm em média 20 anos de experiência como pilotos de caça.”
Autonomia
“A autonomia é a base da aprendizagem. E é isso que estamos tentando fazer com que eles descubram aqui. Os métodos russos são muito baseados em informações do solo. Nos métodos ocidentais, os pilotos são menos dependentes do controle de solo e são muito mais autônomos”, continua Benjamin.
Franz complementa que para ter mais autonomia, é preciso o domínio dos fundamentos da pilotagem. “Nesse treinamento, vamos ensinar toda a base e também como aplicar procedimentos e evoluir em situações táticas, além de saber como reagir quando se tem um problema técnico ou mau tempo. A ideia é que eles aprendam o máximo de coisas possíveis”, diz.
A França treinará um total de 26 pilotos. A primeira turma deve começar a atuar em campo no próximo outono, no calendário europeu. Depois do estágio na França, os pilotos poderão pilotar sem dificuldade o F-16 e o Mirage 2000.
Até lá, o aprendizado continua, com pouco descanso e amizades que surgem entre os pilotos ucranianos e os instrutores franceses. “Raramente falamos sobre o conflito ucraniano porque acho que eles não precisam ser lembrados disso diariamente”, ressalta Franz.
“Por isso mantemos o profissionalismo na instrução. Explicamos como fazer no F-16, como lutar, como fazer guerra. Eles recebem objetivos simulados. Mas não falamos sobre o conflito diariamente. Deve ser duro o suficiente para eles.”