O julgamento de quatro pessoas acusadas de provocar a explosão em 2014 do voo MH17 sobre a Ucrânia, matando as 298 pessoas a bordo, começou nesta segunda-feira na Holanda, na ausência dos acusados.
Os quatro suspeitos, três russos e um ucraniano, não compareceram à audiência. O julgamento continuará apesar de sua ausência, decidiu o tribunal.
As famílias das vítimas, muitas das quais viajaram para assistir à audiência, exigem que "a justiça seja feita", mais de cinco anos após o desastre.
Na abertura do julgamento, que pode se estender por cinco anos, a acusação, em um momento solene, listou um a um todos os nomes das vítimas, homens, mulheres e crianças.
O julgamento ocorre no tribunal de Schiphol, subúrbio de Amsterdã, a poucos passos do aeroporto de onde o Boeing decolou antes de ser atingido em pleno voo por um míssil BUK de fabricação soviética.
Os russos Serguei Dubinsky, Igor Guirkin e Oleg Pulatov, bem como o ucraniano Leonid Khartchenko, quatro separatistas pró-russos do alto escalão do leste da Ucrânia, são acusados de assassinato e por deliberadamente causar a queda do avião.
Dubinsky, Guirkin e Khartchenko serão julgados à revelia, enquanto Pulatov optou por ser representado por um advogado holandês, disse o juiz Hendrik Steenhuis.
"O tribunal está ciente do impacto da perda de tantas vidas, e a maneira como terminaram tão repentinamente é inconcebível", declarou.
"Dia muito importante"
Para os familiares das vítimas, que lutam há mais de cinco anos por justiça, este é um "dia muito importante".
"Este é o primeiro dia em que saberemos o que aconteceu, quem foi o responsável, por que o avião foi abatido", disse Piet Ploeg, presidente de uma associação holandesa de vítimas e que perdeu seu irmão, cunhada e sobrinho no desastre.
"Também teremos respostas para perguntas como: 'qual foi o papel da Rússia'?", acrescentou ele aos jornalistas antes da audiência.
O Boeing 777 da Malaysian Airlines, que partiu de Amsterdã para Kuala Lumpur em 17 de julho de 2014, foi atingido em pleno voo por um míssil BUK sobre a área de conflito armado com separatistas pró-russos no leste da Ucrânia.
As 298 pessoas a bordo, incluindo 196 holandesas, morreram.
Os quatro acusados, os primeiros suspeitos a serem acusados neste caso, são processados por terem fornecido o sistema de mísseis antiaéreos BUK, que foi disparado por outras pessoas não identificadas.
A equipe internacional de investigadores, liderada pela Holanda, estabeleceu em maio de 2018 que o avião havia sido abatido por um míssil da 53ª brigada antiaérea russa baseada em Kursk (sudoeste).
Após estas revelações, Holanda e Austrália culparam a Rússia pela morte de seus cidadãos.
Moscou sempre negou veementemente qualquer envolvimento no acidente e atribuiu a culpa a Kiev.
Os quatro acusados enfrentam prisão perpétua.
O mais famoso deles, Igor Guirkin, apelidado de "Strelkov" ("Atirador"), era um dos principais comandantes dos separatistas no início do conflito contra o exército ucraniano, há cinco anos, e provavelmente seu representante. Ele nega o envolvimento dos separatistas ucranianos pró-russos na tragédia.
Os investigadores responsáveis por esclarecer a explosão da aeronave ainda tentam identificar as pessoas que acionaram o lançamento do míssil, sem descartar novas acusações no futuro.
Em meados de novembro divulgaram o conteúdo de conversas telefônicas revelando "laços estreitos" entre os suspeitos e as autoridades russas, incluindo Vladislav Surkov, influente consultor do presidente russo Vladimir Putin e do ministro da Defesa russo Serguei Shoïgu.