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Com um jatinho no quintal

Lívia Alves

Sábado de manhã em Bragança Paulista, no interior de São Paulo. Ao terminar sua obrigatória partida de tênis, o diretor executivo da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), Joaquim Passos Maia, já pensa no menu do almoço: camarão. Para providenciar o ingrediente, vai até o hangar onde guarda sua aeronave Beechcraft Baron 58 turbo – há apenas quatro dessas no Brasil – , e levanta voo rumo à Florianópolis, a cerca de 600 km do ponto de partida. Por volta das 14 horas o prato está servido.

Histórias assim estão ficando cada vez mais comuns no Brasil com o crescimento de condomínios aeronáuticos, também conhecidos como fly-ins. Esses empreendimentos, além de toda a infraestrutura de um complexo de luxo, possuem a facilidade de ter uma pista de pouso homologada a apenas alguns metros das casas.

“Já perdi as contas de quantas vezes saímos daqui e fomos almoçar ou encontrar amigos em outras cidades, como Paraty e Ubatuba”, diz Beatriz Bueno, piloto e moradora do condomínio aeronáutico Vale Eldorado, em Bragança. “Para nós o avião é um hobby, é como andar de bicicleta.”

Só em São Paulo já existem, pelo menos, cinco condomínios desse tipo e outros cinco já estão programados para serem construídos em Minas Gerais e Santa Catarina. É o caso do Fly-Ville, no município de Governador Celso Ramos (SC) cujas obras deverão ser iniciadas nos próximos sessenta dias. “Os proprietários poderão construir hangares dentro do condomínio ou deixar os aviões na garagem de casa”, afirma Cristiano Cardoso, proprietário da Novoteto Empreendimentos Imobiliários, empresa responsável pelo projeto, em parceria com a construtora Lock’s.

Dessa mesma forma funcionarão o Fly-in e o Quintas Ponta do Sol, ambos com inauguração prevista para o segundo semestre de 2013, em Minas Gerais. Segundo Miguel Martins, presidente do grupo Design Resorts, responsável pelo Fly-in, o incremento do número de condomínios com pista de pouso deve-se ao aumento do poder aquisitivo do brasileiro, juntamente com a busca pela economia de tempo. “Uma viagem em avião comercial costuma demorar muito, se contarmos o deslocamento até o aeroporto, o atraso e a duração do voo”, afirma Martins. “Foi pensando no conforto e na economia de tempo que resolvemos construir o Fly-in”, completa.

Inspirado no modelo americano, o condomínio aeronáutico terá 200 lotes com cerca de 2 mil metros quadrados – vendidos inicialmente a R$ 600 mil –, dentro de um bairro planejado de 10 milhões de metros quadrados, batizado Reserva Real, que ficará a apenas 40 km do centro de Belo Horizonte.

“Esse tipo de condomínio será um sucesso daqui para frente no Brasil, uma que vez que a venda de aeronaves particulares só aumenta”, diz o presidente da Design Resorts. Segundo dados da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), o País conta hoje com 12 mil aeronaves executivas, número que pode crescer ainda mais se contabilizarmos aquelas não homologadas.

Já o Quintas Ponta do Sol, planejado pelo empresário Régis Campos, dono da construtora Emccamp, terá apenas 20 lotes de 10 mil metros quadrados em um braço de terra no lago de Furnas, em Minas, conhecido como Balneário Escarpas do Lago.

Todos os terrenos serão distribuídos apenas entre amigos de Campos. Entre eles o vice-presidente do banco BMG, Márcio Alaôr de Araujo, o presidente do clube de futebol Cruzeiro, Zezé Perrela, um dos proprietários da empresa Localiza e um dos sócios do Banco Pottencial.

“Foi um negócio informal. Nem fiz lançamento”, afirma Campos, o único a dar início às obras da casa. A pista de 712 metros, que permitirá estacionar as aeronaves no quintal de casa, já está pronta.

Fly-ins brasileiros
No Brasil, condomínios aeronáuticos estruturados para que o avião pare bem na porta de casa ainda são exceção, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos. Caso do Jumbolair, na cidade de Ocala, no Norte da Flórida, famoso por abrigar o ator John Travolta e seu Boeing 707.

“Lá, eles utilizam as ruas entre as casas como pistas. Aqui, na maioria dos empreendimentos, ainda é preciso ter hangares para estacionar as aeronaves”, explica o piloto Lucio Sallowicz, que tem dois aviões históricos no condomínio Vale Eldorado, em Bragança.

Investimento
Manter um avião em um empreendimento aeronáutico implica arcar com taxas mensais de condomínio (o que inclui a manutenção da pista), de segurança e de aluguel do hangar (caso não se tenha um no quintal de casa), que em Minas Gerais varia em torno de R$ 12 mil a R$ 30 mil, dependendo do tamanho da aeronave. Isso sem contar os investimentos com o avião em si.

“É possível gastar até R$ 6 mil por mês para manter uma aeronave parada no hangar”, diz João Carlos Ribeiro, administrador e empreendedor do condomínio Vale Eldorado. “Já cheguei a pagar R$ 30 mil apenas em documentos”, completa.

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