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China recusa supercargueiros da Vale

Claudia Trevisan – Correspondente OESP
 

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Vale recebe o maior navio mineraleiro do mundo Link

A Vale recebeu seu primeiro supercargueiro em maio, mas até hoje o navio não teve autorização para atracar em portos da China, destino de quase metade das exportações da empresa. Concebidos principalmente para atender ao que é o maior mercado de minério de ferro do mundo, os navios enfrentam a resistência dos transportadores marítimos chineses, que pressionam o governo de Pequim a não permitir sua utilização no país.

"Todos esperávamos que esses navios fossem servir ao mercado chinês e é estranho que não saibamos até agora se eles poderão operar na China", disse ao Estado Ralph Leszczynski, da empresa italiana Banchero Costa, que faz a intermediação entre donos de cargas e de navios.

Maior cargueiro do mundo, o primeiro Valemax saiu do Brasil no dia 24 de maio com destino à China, mas nunca chegou ao país. Em junho, foi desviado para o porto de Taranto, na Itália, porque não tinha autorização para atracar na cidade chinesa de Dalian. O navio chegou até o Cabo da Boa Esperança, deu meia volta e retornou ao Atlântico. "Eles não deveriam ter checado antes se havia aprovação técnica para a embarcação?", pergunta Leszczynski. Procurada, a Vale disse que não iria comentar o assunto.

O problema não é só o primeiro navio, mas todo o investimento estratégico de US$ 2,35 bilhões feito pela empresa para atender o mercado asiático e, em especial, a China. Os recursos foram destinados à construção de uma frota de 19 dos maiores cargueiros do mundo, cada um com capacidade para transportar 400 mil toneladas do produto, quase três vezes mais que as 160 mil toneladas carregadas pelas embarcações comuns. Quatro deles serão entregues neste ano e o restante, até 2013. Além disso, outras 16 embarcações serão contratadas com exclusividade de armadores.

Clientes

Além do lobby dos armadores, a Vale enfrenta a má vontade das siderúrgicas, com as quais trava constantes embates em torno da cotação do minério de ferro. A menos que a empresa decida transferir ao preço do produto a economia no frete trazida pela nova embarcação, há poucos incentivos econômicos para as siderúrgicas verem sua utilização com simpatia. "Ninguém na China quer que a frota da Vale venha", disse à agência Bloomberg Chang Tao, analista da Merchants Securities.

A Vale anunciou a construção dos supercargueiros em 2008, antes do estouro da crise financeira global. Os navios foram encomendadas em um momento de boom econômico, mas começaram a ser entregues neste ano, quando há excesso de capacidade no transporte marítimo, afetado pela desaceleração econômica mundial. "O movimento da Vale foi visto como um gesto de confronto e provocou reação dos donos de navios em todo o mundo", disse Leszczynski.

A ofensiva contra a Vale é capitaneada pela Associação de Proprietários de Navios da China (CSA, na sigla em inglês) e a COSCO (China Ocean Shipping Company), a gigantesca estatal que é uma das maiores empresas de transporte marítimo do mundo. "A Vale está tentando controlar o mercado de frete, assim como fez com o preço do minério de ferro", disse à Bloomberg o vice-presidente da CSA, Zhang Shouguo, em entrevista concedida em agosto. Segundo ele, as regras em vigor na China não permitem que nenhum porto do país receba navios com mais de 300 mil toneladas, por questões de segurança e ambientais.

O estaleiro chinês Rongsheng Shipbuilding and Heavy Industries é responsável pela construção de 12 dos 19 supercargueiros da Vale, em um contrato de US$ 1,6 bilhão. Os outros 7 foram encomendados à Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering, por US$ 748 milhões.

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