Eric Yep e Wayne Ma
The Wall Street Journal, de Cingapura e Pequim
A China está acelerando a expansão da sua frota petroleira offshore – e enviando barcos da guarda costeira para protegê-la – agora que se aventura em águas mais profundas na busca de recursos energéticos, situação que ameaça criar mais disputas com os países vizinhos.
Empresas chinesas, da gigante China National Offshore Oil Corp. a pequenas prestadoras de serviços, encomendaram mais navios e plataformas para exploração em alto mar no primeiro semestre do que em qualquer ano completo desde 2010, segundo dados da IHS Maritime. E há mais encomendas a caminho.
A China também encomendou em 2013 uma enorme plataforma, de 30.000 toneladas, para águas profundas, projetada especialmente para operar no Mar da China Meridional. Outras duas estão em fase de planejamento.
As novas plataformas serão tão grandes quanto a maior existente na China, a HYSY 981, cuja instalação em águas também reivindicadas pelo governo vietnamita provocou um impasse náutico de dois meses e manifestações violentas contra a China no Vietnã. Ela foi retirada da área disputada em julho, mas as tensões continuam.
O que estimula o impulso para ampliar a frota é a enorme demanda energética da China e, especialmente para a Cnooc, principal produtora de petróleo offshore do país, a busca de novos campos petrolíferos que compensem a produção em queda de poços antigos.
A expansão da frota permitirá à China explorar e fincar sua bandeira em regiões que incluem quase todo o Mar da China Meridional, onde grandes áreas em águas profundas permanecem inexploradas, sujeitas a condições adversas e disputas territoriais.
A expansão da frota faz parte da política nacional chinesa em uma região onde os objetivos políticos de Pequim coincidem com suas metas de segurança energética, diz Philip Andrews-
Speed, especialista em segurança energética do Instituto de Estudos de Energia de Cingapura.
"Tenho certeza que usarão essas plataformas de perfuração como afirmação política, assim como para a simples exploração." A nova estratégia da China ficou clara quando a plataforma HYSY 981 foi levada para águas profundas e disputadas, ao largo das ilhas Paracel. A sonda foi acompanhada por dezenas de embarcações, segundo o analista Gary Li, da IHS Maritime.
Uma grande descoberta em águas profundas poderia ter o mesmo efeito transformador para a segurança energética da China que a extração de gás e óleo do xisto teve no setor energético dos Estados Unidos.
À frente do esforço está a Cnooc Ltd. e a também estatal China Oilfield Services Ltd., ou COSL, que possui e opera muitas das embarcações. A produção doméstica de petróleo e gás da Cnooc mudou pouco nos últimos quatro anos. Em 2009, a empresa anunciou que iria investir US$ 30 bilhões em projetos em águas profundas ao longo de 20 anos.
Uma porta-voz da Cnooc não quis comentar se a nova frota poderia entrar em conflito com os vizinhos da China e disse que a empresa vem seguindo o plano de exploração anunciado este ano. Ela recomendou que perguntas sobre novas embarcações fossem encaminhadas à COSL.
A COSL vai divulgar dados atualizados sobre sua frota e encomendas na apresentação de seu resultado financeiro neste mês, disse uma porta-voz da empresa, que também não quis comentar sobre potenciais conflitos.
A COSL, maior estatal de perfuração offshore do mundo, vem acumulando experiência na exploração em águas profundas no Mar do Norte, no Golfo do México e na Indonésia.
As encomendas chinesas para navios e plataformas no primeiro semestre deste ano somaram 126.300 toneladas, abrangendo todo tipo de embarcação necessária para operações offshore em grande escala, incluindo plataformas de perfuração para águas de profundidades rasas e médias, navios para pesquisas sísmicas em águas profundas e barcos de apoio, segundo a IHS Maritime.
Um esforço paralelo está sendo feito com a guarda costeira chinesa, que foi reorganizada em 2013 e agora reúne a polícia costeira e órgãos de fiscalização marinha e pesqueira sob um só comando.
A frota, que conta com mais de 100 embarcações, tem cerca de outros 40 navios encomendados e deve receber 15 este ano, de acordo com a IHS. O objetivo é ampliar a fiscalização, melhorar a proteção dos recursos oceânicos e salvaguardar melhor os direitos e interesses marítimos do país, informou em março a Xinhua News Agency, a agência noticiosa oficial da China.
Embora as explorações também devam aumentar no Mar da China Oriental, onde a China mantém disputas com o Japão, é o Mar da China Meridional que deve atrair a maior parte dos esforços, devido ao seu potencial de enormes reservas. As estimativas mais otimistas da Administração de Informações sobre Energia dos EUA considera que as reservas já comprovadas e as prováveis no Mar da China Meridional somam 11 bilhões de barris de petróleo e 5,4 trilhões de metros cúbicos de gás natural.
"Este é só o início de um esforço chinês grande e concentrado para aproveitar os recursos naturais do Mar da China Meridinal", diz Li.
Nota DefesaNet
Recomendamos a leitura da possível estratégia da Argentina para explorar bacias petrolíferas próximas às Malvinas / Falklands.
EXCLUSIVO: Buenos Aires se prepara para escalar crise no Atlântico Sul Link
Escolhida a plataforma marítima que desafiará argentinos Link
O Editor