Fernando Daquino
Quem já andou de avião sabe que durante os períodos de decolagem e pouso a orientação é que todos os aparelhos eletrônicos permaneçam desligados. Obviamente, essa medida não foi criada para importunar os passageiros, mas como uma forma de precaução e segurança.
Isso acontece porque existe o risco de os sinais emitidos pelos eletrônicos interferirem nos sistemas da aeronave, podendo derrubá-la. Por outro lado, ficar sem fazer nada dentro do avião é um tanto quanto angustiante.
Realmente existe o risco de um celular derrubar um avião? Como poderíamos contornar essa situação? Será que um dia poderemos usar nossos gadgets em voos sem medo? Descubra a resposta desses questionamentos agora.
Mito ou verdade?
De acordo com um estudo realizado pela International Air Transport Association (IATA), o risco de interferência é real, e o resultado pode ser desde um problema nos dados de navegação até o desligamento do piloto automático ou dos controles de voo. Os grandes vilões das aeronaves são o iPad e o BlackBerry.
Quando um eletrônico como esses permanece ligado durante o vôo, existe o risco de que o seu sinal atinja um dos sensores localizados na área de passageiros do avião e cause transtornos ao funcionamento da máquina. A IATA estudou 75 acidentes documentados nos últimos seis anos que poderiam ter relação com o uso de eletrônicos durante o voo. Desses, 26 apresentaram problemas nos controles da aeronave e 17 apresentaram problemas com a navegação.
Muitas empresas permitem o uso de celulares e tablets no modo de voo, porém em alguns casos nem isso pode ser totalmente seguro. O perigo é maior ainda em aeronaves antigas, nas quais os sensores e partes sensíveis não estão devidamente protegidos contra esse tipo de ameaça. Na dúvida, o melhor á fazer é desligar todos os aparelhos eletrônicos enquanto estiver em um voo.
Apesar de haver indícios dessa interferência, não há nada muito concreto sobre a queda de aviões devido à utilização de eletrônicos em seu interior, como afirma o repórter Nick Bilton, do The New York Times.
Neste artigo, comentamos sobre um dos capítulos do programa Caçadores de Mitos, do Discovery Chanel, no qual foram realizados testes com diversos equipamentos e frequências. Em nenhum deles foi constatado interferência na cabine da aeronave, chegando-se à conclusão de que tal fato não passa de um mito.
Todavia, é válido ressaltar que a hipótese de uma interferência não é descartada. Em teoria, isso pode mesmo acontecer, mas as possibilidades de um acidente causado pelo celular de um passageiro são quase nulas. E por que as companhias ainda orientam a não utilização dos gadgets?
O grande problema nesse cenário é o constante lançamento de novos dispositivos. Todos os meses surgem mais eletrônicos nas prateleiras das lojas, inviabilizando a realização dos testes necessários (que custam caro) em cada um deles.
Assim, acaba-se por proibir o uso. Além disso, as agências reguladoras procuram eliminar qualquer fator que possa aumentar o risco de acidentes. E como em teoria uma interferência pode ocorrer, acaba sendo mais seguro (e barato) manter a proibição.
A angústia do gadget desligado
Em voos entre cidades próximas, o período em que os aparelhos precisam ficar desligados é curto – bastam alguns minutos para que a aeronave estabilize sua trajetória e você possa utilizar seus dispositivos. Todavia, em viagens internacionais, o avião necessita subir até altitudes bem mais elevadas e, consequentemente, o tempo de desligamento dos gadgets é prolongado.
Nem precisa ser viciado em tecnologia para achar que as revistas disponíveis a bordo não proporcionam boas leituras e começar a sentir falta do seu smartphone, tablet ou notebook. Assim, caso você tenha se esquecido de levar um livro, a última saída é tirar um cochilo.
Tim Stevens, redator-chefe do site Engadget, chega a ficar angustiado sem os seus eletrônicos. De acordo com uma de suas publicações, o entusiasta chama esse período de “Terrible 10.000 Feet”, ou “Terríveis 10.000 Pés”, referindo-se à altitude que os aviões precisam alcançar para liberar a utilização dos gadgtes – valor equivalente a 3.000 metros.
Uma saída possível?
Embora esteja consciente de que há a possibilidade de interferência nas aeronaves por parte dos sinais dos dispositivos eletrônicos, Stevens questiona a atual periculosidade desse cenário com a modernização tanto dos aviões como dos nossos equipamentos.
Ele sugere que seja criado um tipo de programa de certificação. A ideia não é testar todos os aparelhos eletrônicos e a influência do sinal de cada um nos sistemas das aeronaves, o que seria um processo praticamente inviável devido à variedade de dispositivos comercializados atualmente.
A certificação seria voltada para os componentes dos sistemas das aeronaves, que já passaram por testes durante o seu desenvolvimento e a fabricação dos aviões. Seria preciso apenas averiguar quais ferramentas sofrem interferências e em quais frequências. Logicamente, tudo isso seria acompanhado e contaria com o aval dos órgãos controladores competentes, como a Federal Aviation Administration (FAA) e a Federal Communications Commission (FCC), no caso dos EUA.
O editor ainda comenta que testes adicionais seriam necessários para garantir que os dispositivos tenham um “modo avião” de fácil acesso, permitindo o bloqueio dos sinais de rádio não permitidos para uso em voo. Finalmente, seria preciso garantir que o tamanho e a composição de qualquer tipo de bateria fossem regulamentados pela FAA.
A certificação sugerida por Stevens seria adicionada aos testes atuais realizados pela FCC – claro, cobrando-se uma taxa adicional à paga pelas empresas de aviação. Assim, os órgãos arrecadam mais dinheiro, podendo investir em melhorias de infraestrutura, e as fabricantes de eletrônicos poderiam usar a certificação como mais uma justificativa comercial.
No Brasil
Você acabou de conferir que dificilmente uma aeronave seria derrubada devido ao uso de aparelhos eletrônicos e uma saída possível para desenrolar o impasse de termos que desligar os nossos gadgets durante os voos.
Aos poucos, com o avanço e desenvolvimento de novas tecnologias, as companhias aéreas e os órgãos reguladores começam a esboçar esforços para mudar esse cenário. Algumas empresas, como Emirates Airlines, AeroMobile e OnAir, já permitem o uso de celulares em suas aeronaves.
No Brasil, também pudemos ver mudanças ao longo de 2011. A TAM foi a primeira companhia nacional a anunciar que seus voos internacionais passaram a contar com acesso à internet. Pouco tempo depois, foi a vez da Gol disponibilizar internet banda larga através de sinais Wi-Fi em seus aviões. Isso nos revela bons sinais em relação à utilização dos aparelhos eletrônicos enquanto voamos.
Torcemos para que, de maneira planejada e segura, os órgãos reguladores (no nosso caso a ANAC) e companhias aéreas encontrem uma forma de liberar o uso dos gadgets a qualquer momento do voo.