Pelo quinto ano consecutivo, especialistas em controle de tráfego aéreo dos governos brasileiro e norte-americano se reuniram para trocar experiências sobre a modernização do setor, em um workshop realizado entre os dias 1º e 3 de março, no Rio de Janeiro. A parceria existe desde o ano de 2012, quando os dois países assinaram um Memorando de Entendimento, que oficializou a cooperação Brasil-Estados Unidos.
O objetivo é compartilhar experiências sobre as melhores práticas da indústria, melhorar a capacidade técnica e desenvolver soluções tecnológicas para os desafios do setor da aviação.
O workshop contou com a participação de órgãos governamentais de ambos os países, como representantes da Secretaria de Aviação Civil (SAC), do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), da Administração Federal de Aviação (FAA, Federal Aviation Administration) dos Estados Unidos, da Agência de Comércio e Desenvolvimento dos Estados Unidos (USTDA – United States Trade and Development Agency), de companhias aéreas e empresas de tecnologia nacionais e estrangeiras.
A importância da parceria entre as duas nações foi ressaltada na abertura do workshop pelo assessor especial para assuntos internacionais da SAC, João Batista Lanari Bó; pelo diretor regional da USTDA para América Latina e Caribe, Nathan Younge; e pela representante da FAA, Lorrie Fussell. O chefe do Subdepartamento de Operações do DECEA, Coronel Aviador Luiz Ricardo de Souza Nascimento, ressaltou que, no âmbito técnico, a cooperação entre Brasil e Estados Unidos é bem mais antiga. “Temos esse memorando assinado desde 2012, porém, devemos ter em mente que a parceria na parte técnica existe há mais de 40 anos, entre o DECEA e a FAA”, observou.
As palestras realizadas ao longo dos três dias do workshop tiveram como finalidade dar aos participantes uma visão geral da gestão de tráfego aéreo no Estados Unidos e no Brasil, e dos processos de tomada de decisão colaborativa na gestão do tráfego aéreo. Foram abordados, ainda, temas como tecnologias de torre de controle remota, compartilhamentos de informação na gestão do tráfego e aeronaves remotamente pilotadas.
RPA – Greg Byus, da FAA, tratou da integração de aeronaves remotamente pilotadas (RPA) no espaço aéreo norte-americano. “Qualquer um pode comprar uma aeronave remotamente pilotada e voar no espaço aéreo, mas nem todos reconhecem que isso pode ter impacto na segurança das operações aéreas”, disse. O foco da FAA é em educar os usuários, segundo Byus, por meio de informativos nas embalagens e aplicativos nos quais o usuário busca orientação. “As pessoas compram aeronaves remotamente pilotadas para se divertir, mas precisam ter noção dos requisitos do tráfego aéreo”, afirmou. Existem 350 mil RPA registradas no Estados Unidos e, entre as que têm uso comercial, a maior parte é empregada na agricultura.
Representando o DECEA, o Capitão Aviador Leonardo Haberfeld Maia tratou do mesmo tema. No Brasil, existem 80 mil operadores de RPA registrados, mas um mesmo operador pode possuir mais de uma aeronave. “A RPA abre grandes possibilidades operacionais, porém o uso irregular é reconhecidamente uma ameaça nos céus. Por isso, é preciso a coordenação com os órgãos de tráfego aéreo e as regras precisam ser obedecidas”, ressaltou.
Grandes eventos – O Capitão José Airton Patricio, especialista em controle de tráfego aéreo, tratou da questão dos grandes eventos. Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos serão o quinto e o último de uma sequência de eventos internacionais de grande porte, como a Conferência Rio+20 (2012), Copa das Confederações (2013), Jornada Mundial da Juventude (2013) e a Copa do Mundo (2014). “Temos certos complicadores como a questão das zonas de exclusão aérea, que era uma em eventos anteriores e serão cinco nos Jogos Olímpicos, o que aumenta a complexidade de interação das ações da defesa aérea com o controle de tráfego aéreo. Estamos preparados”, concluiu o Capitão Patrício.
Encontro reúne pilotos e controladores de tráfego aéreo no Paraná
A influência dos fatores do serviço de tráfego aéreo na mitigação do acidente aeronáutico é o tema de encontro entre pilotos e controladores da região de Curitiba (PR). A palestra será realizada no Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA II) nesta quinta-feira (10/03) em dois horários, às 10h e às 14h.
O objetivo é evidenciar, por meio de estudo e análise de casos reais, ações voltadas para a melhoria da coordenação entre pilotos e controladores, na tentativa de eliminar ou minimizar o impacto nas consequências de um acidente aéreo. O Chefe do Quinto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA V), Tenente-Coronel Luís Renato Horta de Castro, vai abordar casos reais analisados oriundos das investigações de acidentes, cujos ensinamentos podem ajudar o piloto e o controlador a mudar o desfecho da ocorrência. O evento integra o programa de trabalho com objetivo de disseminar aspectos da prevenção para elevar a segurança na atividade aérea.
De acordo com o Chefe do SERIPA V, diversas situações acontecem durante o gerenciamento do tráfego aéreo, em especial, quando há uma aeronave em situação de emergência. O controlador de tráfego aéreo é o único “elo de ligação” capaz de ajudar o piloto na operação da aeronave de maneira assertiva e segura. Pelos auxílios à navegação aérea, ele pode sugerir orientações que são decisivas para aquele momento. “Não é necessário esperar que a situação aconteça para depois agir. Basta que o controlador tenha iniciativa, experiência e informação para intervir na hora certa”, avalia o Tenente-Coronel Renato. A eficácia da ação do controlador está relacionada ao conhecimento e atualização das normas, bem como a capacidade de administrar o problema.
Quando o piloto notifica ao controle aéreo uma situação crítica, cada segundo passa a ser decisivo na vida desse profissional. Diante da tela do radar, o controlador, que acompanha a trajetória da aeronave, possui informações úteis, como o comprimento de pista, aeródromos alternativos, procedimentos para pouso, vento e pressão atmosférica em localidades próximas, além de outros ajustes que podem ajudar no julgamento e na decisão do piloto.
Boas práticas – Em relação às boas práticas, o palestrante lembra que, antes de tudo, a comunicação deve ser bem entendida pelo piloto. Na situação tensa, é aconselhável reduzir a velocidade das instruções e, quando possível, solicitar a moderação no uso da frequência por outros pilotos, direcionando total atenção à emergência. “Na língua inglesa ou no português, o mais importante é a clareza na comunicação”, destaca o oficial. "Para que aconteçam melhorias são necessárias experiências e ações compartilhadas.
Controladores e pilotos devem ser estimulados a conhecer, reciprocamente, seus locais de trabalho, identificando as rotinas, os protocolos e as limitações técnicas e funcionais de cada atividade. Tais ações terão influência direta no planejamento das atividades, com impacto na segurança de voo", finaliza.