Por Ana Paula MACHADO
O objetivo da grande maioria das companhias aéreas é expandir suas operações para além das fronteiras de seus países – voando para destinos mundo afora. O plano de negócios da Avianca no Brasil, no entanto, prevê o contrário. Para crescer no País e conseguir operar num mercado dominado pela TAM e pela Gol, a empresa do grupo colombiano Synergy, que detém 7,7% do mercado nacional e faturou R$ 1,35 bilhão em 2012 (último balanço disponível), aposta todas as suas fichas na aviação regional, setor hoje explorado pela rival Azul, do empresário americano-brasileiro David Neeleman.
O piloto da Avianca: Efromovich comandará a maior mudança
de rota da história da companhia no País
Para colocar a estratégia em operação, a Avianca negocia a compra de 15 jatos da Embraer, os modernos E-Jet 195-2, e outros 30 turboélices franceses ATR-72, segundo seu presidente, o boliviano naturalizado brasileiro José Efromovich. O negócio pode chegar a US$ 1,6 bilhão, considerando US$ 855 milhões pelas aeronaves brasileiras e um contrato de US$ 750 milhões com a fabricante europeia. A ideia é aproveitar o Plano de Aviação Regional, lançado pela presidenta Dilma Rousseff, em 2012, e definir as novas rotas que a Avianca vai operar, principalmente nas cidades pequenas. “Já temos opções de compra de aviões para voar para essas cidades”, diz Efromovich, referindo-se ao acordo firmado pelo Synergy para aquisição dos ATR, com capacidade para 70 passageiros.
A ofensiva da Avianca no mercado brasileiro é uma tentativa de reduzir a distância que a separa das líderes, TAM e Gol, que detêm 38,8% e 36,4%, respectivamente, do mercado interno, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A Avianca opera uma frota de apenas 39 aviões Airbus e Fokker, enquanto as líderes possuem mais de 130 aviões cada uma. “O projeto é conectar as rotas regionais com a nossa malha entre as capitais”, afirma Efromovich. “O que vai definir em quais cidades vamos atuar é a infraestrutura dos aeroportos.” O plano do governo federal é investir R$ 7,3 bilhões em 270 terminais em cidades de pequeno e médio porte.
O projeto ainda não saiu do papel, mas há uma pressão das companhias aéreas para que sejam definidas as regras ainda neste ano. “É a alternativa para a companhia”, diz o consultor e especialista em aviação comercial Respício do Espírito Santo. “Ou parte para outro segmento ou se contenta em crescer pouco.” Quando os novos aviões da Avianca começarem a chegar, daqui a quatro anos, os atuais Airbus A318 deverão ser aposentados. “Até o fim deste ano definiremos as compras”, diz Efromovich. A escolha pelo avião brasileiro deve ocorrer em razão da maior economia de combustível e da possibilidade de essa aeronave também operar em aeroportos de pistas curtas.
“A Avianca, assim como a Azul, tem perfil e experiência para operar em cidades médias e pequenas”, diz o consultor e professor da FGV Renaud Barbosa. “Elas são mais preparadas do que a TAM e a Gol e estão no caminho para o crescimento.” O novo plano de voo da Avianca surge no momento em que a companhia espera ter seu primeiro lucro em 14 anos de operação no Brasil – resultado que seria alcançado em 2013, mas se manteve no vermelho em razão da disparada do dólar. “Estamos voando alto com os pés no chão”, afirma Efromovich. A opção por uma espécie de ousadia cautelosa se justifica. Em 2007, a empresa quase faliu ao tentar expandir sua malha em demasia.
No ano seguinte, foi implementado um plano de reestruturação, com redução das rotas e um modelo de negócio mais enxuto, com a operação de uma frota de apenas 14 aviões. Com isso, vários destinos foram abandonados, inclusive em capitais importantes como Belo Horizonte e Curitiba. “Não podíamos operar nessas cidades com apenas dois voos porque não seria um serviço adequado aos olhos dos clientes”, diz Efromovich. O redesenho da cobertura geográfica da Avianca fez toda a diferença. Prova disso é que, no ano passado, a empresa atingiu uma taxa de ocupação de 82%, acima da média de 76% do setor, e transportou 6,2 milhões de passageiros. A meta para 2014 é um crescimento de 19% nesse indicador, chegando a 7,4 milhões de passageiros.
Um dos fatores que apontam a Avianca para cima é a entrada da companhia na StarAlliance, a maior aliança de empresas aéreas do mundo. Com 28 membros, a Avianca ocupará a vaga deixada pela TAM, que migrará para o OneWorld, grupo fundado por sua controladora, a chilena LAN. As mudanças ocorrerão até maio. “Tudo vai depender de a companhia estar ou não preparada operacionalmente para fazer parte da StarAlliance”, diz a coordenadora da aliança no Brasil, Rebecca Meadows. A julgar pelo investimento da Avianca, os prazos serão cumpridos. Efromovich afirma que já estão sendo gastos R$ 55 milhões na troca do sistema de reservas atual para o Amadeus, exigido pela StarAlliance e utilizado pela TAM. “Não queremos ser pegos de surpresa.”