Uma investigação do Ministério da Defesa da Argentina teria advertido sobre irregularidades na compra direta das baterias do ARA San Juan, submarino desaparecido desde o último dia 15 na região de Mar del Plata, com 44 tripulantes a bordo.
A informação foi divulgada ontem pelo jornal argentino “La Nación”, que teve acesso a uma cópia das ações que chegaram secretamente a três escritórios oficiais fazendo o alerta. Além disso, segundo o “Clarín”, um juiz arquivou praticamente sem investigar, em 2010, uma denúncia sobre supostas irregularidades cometidas durante a reparação do San Juan.
Ontem, um minissubmarino deixou a cidade de Comodoro Rivadavia, centro logístico de resgate, para ajudar nas buscas. A Marinha argentina admitiu, no sábado, não ter nenhum indício da embarcação, que provavelmente explodiu no Atlântico Sul.
Os investigadores teriam alertado o governo de Cristina Kirchner sobre a denúncia. Consultados pelo “La Nación”, representantes do governo de Mauricio Macri disseram que estão revisando “todos os processos dentro da Marinha” e que uma investigação interna “profunda” será aberta.
No entanto, a equipe reiterou que, neste momento, a prioridade é encontrar o submarino para, posteriormente, avaliar o que aconteceu. A denúncia coincide com uma auditoria do Sindicato Geral (Sigen), que também questionou o procedimento.
Segundo a investigação, realizada por especialistas da Defesa entre 2015 e 2016, a Marinha argentina teria violado padrões regulatórios e operacionais para o reparo da meia-vida e substituição de baterias. Ao que tudo indica, houve interesse em beneficiar certos fornecedores e suprimentos com garantias vencidas foram adquiridos.
“As informações coletadas são conclusivas pelo menos para sustentar que não só os contratos não estão em conformidade com o procedimento administrativo regulamentado, mas também que os militares encarregados por esse procedimento podem estar envolvidos em uma conduta ilegal que beneficiou as empresas premiadas, Hawker Gmbh e Ferrostaal AG”, disseram os investigadores da Defesa.
Outra notícia, publicada ontem pelo “Clarín”, indica que o polêmico juiz federal Norberto Oyarbide arquivou, em fevereiro de 2010, denúncia que investigava irregularidades nas tarefas de reparação do submarino San Juan.
Caso apareçam novos elementos, no entanto, o magistrado Sebastián Casanello, agora responsável pela investigação, poderia reabrir o caso. A denúncia foi feita em 2007 pelo suboficial José Oscar Gómez contra o então chefe da Marinha argentina, o almirante Jorge Godoy. De acordo com Gómez, várias irregularidades foram cometidas entre 2005 e 2006, como a contratação de empresas privadas para a manutenção e reativação do submarino. “Na prática, a manutenção foi feita por funcionários da Marinha, e os contratantes teriam recebido grande montante de dinheiro”, escreveu na denúncia.
‘Salvar Vidas’
Ontem, quando o desaparecimento do submarino completou 11 dias, o navio Sophie Siem, com capacidade para resgatar 15 pessoas, saiu em busca dos tripulantes, apesar das péssimas condições climáticas.
O navio, que leva um minissubmarino, deve demorar 24 horas para chegar à região onde, segundo a Marinha, seria o local da explosão registrada pouco depois do último contato do ARA San Juan. — A tarefa representou um enorme esforço de milhares de pessoas. Envolvemos toda a comunidade — disse ao GLOBO o chefe do Destacamento Naval de Comodoro Rivadavia, Claudio Ortigueria.
A bordo do Sophie Siem, partiram 15 tripulantes, 43 fuzileiros navais dos EUA e dois membros da Marinha argentina, além de dois médicos. — Vieram americanos e soldados da Marinha argentina com um só motivo: salvar vidas — afirmou Héctor Alejandro, oficial de Assuntos Públicos dos Fuzileiros Navais dos EUA.
Ainda ontem, o avião russo Antonov An-124 chegou à cidade com equipamentos e funcionários. Submarinos teleguiados de detecção a máxima profundidade estarão prontos para operar em alguns dias.
Marinha argentina omitiu informações sobre tragédia de submarino¹
A Marinha argentina sabia o que havia aconteceu com o submarino ARA San Juan, mas escondeu informações. Segundo o portal Infobae, a cúpula naval soube que a embarcação tinha problemas sérios no dia anterior à tragédia.
O capitão Pedro Fernández havia informado que uma das baterias sofreu um curto-circuito em razão de um vazamento no snorkel. Por duas vezes, Fernández comunicou à base de Mar del Plata que o problema havia sido solucionado.
No entanto, aparentemente, o comando naval subestimou a gravidade da avaria. Às 6 horas de quarta-feira, dia 15, quando navegava em alto-mar na altura do Golfo de São Jorge, o capitão requisitou uma mudança de rumo.
Neste momento, segundo o Infobae, o submarino estava a pouco mais de 300 km de Comodoro Rivadavia. À velocidade em que estava – entre 15 e 20 km/h –, a embarcação teria chegado em segurança em terra. A ordem, no entanto, foi seguir a caminho de Mar del Plata.
Em dificuldades em razão do vazamento, o ARA San Juan tinha sempre de emergir para se comunicar com a base. Com mar agitado e ondas de até 8 metros, ele era constantemente golpeado na superfície. Por isso, Fernández teria tomado a decisão de navegar submerso, perdendo a capacidade de propulsão a diesel e com a metade das baterias inutilizadas.
Três horas depois da última comunicação com a base em Mar del Plata, o submarino explodiu, segundo informações enviadas pela Organização do Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares, com sede em Viena – que tem sensores para monitorar detonações ao redor do mundo.
Em Mar del Plata, os subcomandantes não consideraram a situação grave. Tanto que o chefe da Marinha, o almirante Marcelo Srur, foi informado apenas na tarde de quinta-feira, dia 16 – mais de 24 horas após o acidente. O ministro da Defesa, Oscar Aguad, e o presidente Mauricio Macri só souberam da tragédia à noite e pela imprensa – o que enfureceu a Casa Rosada.
Mortos
A deputada governista Elisa Carrió disse ontem que o acidente "é um acontecimento irreversível" e a tripulação "está morta". "O Estado não pode dizer até que tenha certeza absoluta.
Mas eu posso", afirmou Carrió em entrevista ao Canal 13. "Tenho de dizer: estão mortos." Onze dias após o acidente, a Marinha argentina ainda não reconheceu a morte dos 44 tripulantes do ARA San Juan.
Ontem, em Buenos Aires, o porta-voz Enrique Balbi levantou a hipótese de que os marinheiros estejam "em condições extremas de sobrevivência". "Ninguém pode dizer que o acontecimento é irreversível porque ainda não conseguimos encontrá-los", disse.
Segundo edição de ontem do jornal La Nación, uma investigação do Ministério da Defesa encontrou "irregularidades" na compra das baterias do ARA San Juan.
Especialistas descobriram que, entre 2015 e 2016, a Marinha violou padrões regulatórios e operacionais para o reparo de meia-vida e substituição de baterias.
Ao que tudo indica, houve interesse em beneficiar determinados fornecedores e, no processo, foram adquiridos equipamentos com garantias vencidas.
Resgate
Enquanto isso, as operações de resgate seguiram ontem em Comodoro Rivadavia, onde equipes de 14 países participam das buscas. O navio norueguês Sophie Siem finalmente partiu para a área onde o submarino desapareceu. O minissubmarino que buscará a embarcação no fundo do mar se juntará a sete navios que vasculham a região.
¹com O Estado de São Paulo
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