Manhã de domingo (14) no pantanal sul-matogrossense. O dia ensolarado anima turistas e pescadores a trafegarem pelo rio Paraguai. A bordo da embarcação “Lontra”, da Capitania Fluvial Pantanal, o sargento Waldir avista uma lancha que dá sinais de fuga por uma das margens do rio. Sem pestanejar, o militar aciona a lancha Tuiuiu que, em poucos minutos, faz com que o barco pare. Saída recentemente do estaleiro, a pequena embarcação se aproxima do cerco e o condutor recebe ordens para apresentar a documentação e a habilitação do piloto.
Com a negativa, a equipe de fiscalização notifica o condutor e abre processo que correrá na Capitania dos Portos de Corumbá. Gerente de uma casa comercial na cidade, Oscar Francisco da Silva Neto retornou para sua residência mais cedo. Por ordem do sargento Marco Antonio Francisco Leal, a lancha foi recolhida e caberá aos trâmites legais a definição da punição para a infração considerada gravíssima.
A ação do rio Paraguai foi uma das 2.131 inspeções em embarcações realizadas por tropas da Força Naval Componente em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Acre e Rondônia, como parte da Operação Ágata 6. As inspeções resultaram em 312 notificações e 95 apreensões na região de fronteira do Brasil com a Bolívia e o Peru. Além disso, os militares da Marinha apreenderam 13 quilos de pasta base de cocaína.
“Trafegar pelo rio sem a documentação é o mesmo que você circular pela cidade sem o documento do carro. Isso é considerado gravíssimo. No caso em questão, o condutor estava sem o documento da lancha. Aplicamos a notificação e o barco foi recolhido”, informou o sargento Leal.
Operação Ágata 6
Há uma semana, 7,5 mil militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica estão realizando a Operação Ágata 6 num trecho de 4,2 mil quilômetros, indo de Corumbá (MS) a Mâncio Lima (AC). Coordenada pelo Ministério da Defesa sob orientação do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), a operação tem por finalidade combater os crimes na região de fronteira, como tráfico de drogas, contrabando de armas e produtos, desvio de madeira, pistas clandestinas, e demais ilícitos.
Instituído por meio de decreto da presidenta Dilma Rousseff, no ano passado, o Plano Estratégico de Fronteiras (PEF) estabelece presença mais frequente do Estado numa região de 16.880 quilômetros – do Oiapoque (AC) ao Chuí (RS). A Ágata 6 é a terceira intervenção das Forças Armadas na área fronteiriça. A ação militar sempre vem sucedida pela Operação Sentinela, sob o comando do Ministério da Justiça.
Na área de ação da Ágata 6, a execução está sob a coordenação do Comando Militar do Oeste (CMO), com sede em Campo Grande (MS) e apoio do Comando Militar da Amazônia (CMA), sediado em Manaus (AM).
Na região de Corumbá, a Força Naval está sob liderança do 6º Distrito Naval. De Ladário, município vizinho, onde encontra-se o comando do 6º DN, as embarcações partem para as inspeções e patrulhas. Ontem (15), nas proximidades de Porto da Manga, o navio de transporte fluvial Paraguassu dava suporte para que os militares percorressem o rio numa ampla fiscalização de embarcações que trafegam para o rio Paraguai.
“Temos oito navios na região. Certificamos a documentação dos barcos e das tripulações. Além disso, recebemos apoio de um helicóptero que percorre trechos do rio e, quando avista um navio ou qualquer outro tipo de barco, nos aciona para que possamos fazer a inspeção”, conta o capitão Maurício Leite de Pontes, comandante do navio Paraguassu.
Na região do Acre e Rondônia, a operação está a cargo do 9º Distrito Naval. Para isso, estão sendo empregados oito navios-patrulha, dois navios de transporte, uma embarcação de apoio logístico e três de assistência hospitalar.
Já o Exército atua na região por meio de bloqueio nas rodovias e estradas vicinais que cortam a região. A Força Aérea está participando com ações a partir de Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Cáceres (MT), Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC). A Aeronáutica dispõe de aviões como o A29 e o F5, além dos radares, helicópteros e o Vant Hermes 450.
Atendimento médico-hospitalar
Além do emprego militar na fiscalização, as Forças Armadas se fazem presentes em ações cívico-sociais (Acisos). Nesta primeira semana, apenas os militares da Força Naval atenderam moradores das localidades ribeirinhas com 677 atendimentos médicos, realizaram 2.813 procedimentos odontológicos e mais 1.040 outros procedimentos de saúde. Foram distribuídos 8.715 medicamentos para os moradores.
Nesta segunda-feira (15), o navio-hospitalar Tenente Maximiano encontrava-se atracado nas proximidades de Porto da Manga. O capitão Marcelo Pinto Werneck, comandante do navio, contou que nos primeiros dias a equipe formada por um médico, dois dentistas e seis enfermeiros formalizou cerca de cem consultas nos localidades de Barra de São Lourenço, Baía do Castelo e Paraguai Mirim.
“A nossa meta é atingirmos entre 450 e 500 consultas. Ainda iremos a Porto Esperança, Porto Albuquerque e Codrasa”, contou o comandante Werneck.
A presença da equipe do navio-hospitalar foi comemorada por Eliane Silva, 31 anos. Com a filha Júlia Gabrielle, de 11 meses, no colo, ela acabava de receber medicamentos após o relato que a menina está sem se alimentar há cinco dias. A dona de casa explicou que se não fosse a consulta médica, teria dificuldades para se deslocar até Corumbá.
“Acho que se ela tomar o remédio direitinho vai poder comer. Até então ela só mamava. Estou muito agradecida. Ontem foi meu aniversário. Foi muito triste. Amanhã (16) minha filha completa um aninho e estaremos mais felizes”, disse.