Economia fraca leva governo a deixar para trás política de campeãs nacionais
Mudança em relação à maior participação de estrangeiras no setor aéreo indica nova estratégia
RIO – A mudança do governo em relação aos investimentos estrangeiros na aviação nacional não é fato isolado. Em outros setores, o PT e Dilma Rousseff têm se mostrado mais favoráveis ao capital privado. O economista Cláudio Frischtak, sócio da Inter B. Consultoria de Negócios, divide os 12 anos de governo do PT em três etapas. De 2003 a 2005, o governo de Lula acenou ao mercado e adotou políticas liberais. Foi sob a gestão de Antonio Palocci na Fazenda que foi aprovada a Lei das Parcerias Público Privadas (PPPs), por exemplo.
Com a saída de Palocci e a ascensão de Dilma e Guido Mantega, na Fazenda, o governo deu uma guinada ao nacionalismo: foi a época da escolha dos campeões nacionais do BNDES que visam à criação de multinacionais verde-amarelas, da intervenção na economia, da mudança no marco regulatório do petróleo. Com a chegada de Dilma ao Planalto em 2011, e sob a batuta de Arno Augustin no Tesouro Nacional, esta linha se intensificou, com aportes bilionários ao BNDES, intervenção no setor elétrico e mais proteção à indústria com o debate sobre conteúdo nacional.
Mas os problemas econômicos e o baixo investimento fizeram o governo retroceder. A chegada do “neoliberal” Joaquim Levy à Fazenda é um marco. O governo já articula nova rodada de privatizações, com mais leilões de aeroportos. Desta vez, com uma participação bem menor da Infraero do que os 49% definidos nos primeiros leilões.
— Não nos iludamos, eles não estão mudando por ideologia, mas por necessidade — diz Frischtak.
Para Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, as mudanças mostram incoerência:
— O governo está sem estratégia. Gasta bilhões com subsídios para criar campeãs nacionais, privatiza serviços e se abre ao capital externo.