James Morgan
Com um mastro de altura equivalente a um prédio de 15 andares e comprimento similar ao de um campo de futebol, o barco Eagle é a principal escola para cadetes da Guarda Costeira americana.
Mas o barco tem um passado significativo: construído pelos nazistas, o Eagle (na época batizado de Horst Wessel) combateu em favor de Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial hasteando uma bandeira com a suástica.
A história é recontada pelo alemão Tido Holtkamp, de 89 anos. Certo dia, em 1959, ele passeava de carro pela costa leste americana quando viu um navio que, com seus três grandes mastros, lhe pareceu familiar.
"É o meu navio!", gritou ele na ocasião. "O que ele está fazendo aqui nos Estados Unidos?"
O navio foi construído em 1936, quando os nazistas estavam no poder e a Marinha alemã crescia rapidamente.
Hitler inclusive esteve presente no batismo da embarcação, que em 1942 partiu em serviço ao Mar Báltico.
Marinha
Um ano depois, em uma pequena cidade alemã perto da fronteira com a Holanda, um adolescente se preparava para ser convocado às Forças Armadas. Trata-se justamente de Tido Holtkamp.
"Eu provavelmente seria chamado ao Exército, o que significaria ir para a frente leste (da guerra)", lembra Holtkamp. "Eu não queria ir, então me voluntariei à Marinha."
E assim que ele foi parar no Horst Wessel e ali serviu, até que, com o fim da guerra, em 1945, o navio foi tomado pelas tropas britânicas.
Holtkamp primeiro tornou-se prisioneiro de guerra dos Estados Unidos, até mudar-se ao país em definitivo como imigrante.
E anos depois, em 1959, o acaso colocou-o novamente frente à frente com o barco que havia ajudado a comandar.
Holtkamp dirigiu-se à Academia da Guarda Costeira e pediu para entrar na embarcação, pedido que foi concedido quando os guardas notaram seu entusiasmo.
"Fui ao velho deck, onde eu costumava dormir. E, adivinhe só? Havia uma máquina de Coca-Cola ali."
Holtkamp decidiu reconstruir a história do Horst Wessel e passou anos na missão, até lançar o livro A Perfect Lady ("Uma dama perfeita", em tradução livre).
Sorteio no chapéu
Ele descobriu que, após o final da Segunda Guerra, quando os líderes dos países aliados – EUA, Reino Unido e Rússia – se reuniram em 1946 para dividir o espólio da frota alemã, o fizeram sorteando nomes recortados e tirados de um chapéu.
O Horst Wessel foi sorteado para os russos. Mas secretamente, sob a mesa, Moscou concordou em trocá-lo com o representante americano, que queria levar o grande navio aos EUA.
E assim, em junho de 1946, uma tripulação americana auxiliada pelo capitão original e marinheiros alemães levaram o barco – agora chamado Eagle – a Nova York.
No ano que vem será celebrado o 70º aniversário dessa viagem, que será marcada com uma ida do Eagle à Alemanha e uma reforma de US$ 28 milhões.
"Os alemães criaram (o Eagle), em 1936, como um barco-escola. E aqui estamos, 80 anos depois, e ele está desempenhando a mesma grande função para a qual foi projetado", diz o capitão Ernst Cummings, um dos ex-comandantes americanos do navio.
Escola
O Eagle é hoje o único navio de seu porte ativamente a serviço das Forças Armadas americanas.
Desde 1946, todos os cadetes em treinamento começaram suas carreiras a bordo dele.
"Pode parecer um barco antiquado, mas as lições que você pode aprender aqui a respeito do mar, dos ventos, das correntes e de si mesmo – e seus colegas de navio – você não aprenderia melhor em nenhuma outra plataforma", diz Cummings.
A bordo do navio já estiveram os ex-presidentes americanos John Kennedy, Richard Nixon e Harry Truman. O Eagle também já navegou o planeta como uma espécie de embaixador diplomático dos EUA.
Ao longo dos anos, Holtkamp se tornou um visitante frequente da embarcação.
"Fico feliz que ele esteja com a Guarda Costeira, porque antes éramos treinados para a guerra. Já a Guarda Costeira serve para ajudar as pessoas", diz. "E sim, Eagle é um imigrante também – outro imigrante que se saiu bem."