O resto do mundo esfrega os olhos estupefato. Em menos de três décadas, a China cresceu de um miserável país em desenvolvimento a um gigante da economia mundial. Agora, trabalha para se tornar uma potência global. Uma ascensão acompanhada, ao mesmo tempo, com medo e admiração.
Os chineses – e especialmente a classe política em Pequim – consideram o fortalecimento de seu país sobretudo como uma correção de uma anomalia histórica. Esta atitude é alimentada pelo "sonho chinês" propagado por Xi Jinping. Desde que assumiu o cargo, em 2012, o chefe de Estado prometeu o retorno à grandeza das dinastias passadas. A estratégia o vincula duplamente à consciência histórica dos chineses.
Por um lado, os chineses modernos se veem como herdeiros de uma civilização milenar que era liderança mundial em cultura, ciência, tecnologia e administração até o século 16. A China – o "país do meio", como ainda é chamada em chinês – estava no centro do mundo, segundo este ideal, cercado de bárbaros que, atraídos pela luminosidade da civilização chinesa, prestavam tributo a ela.
Por outro lado, o chamado "século da vergonha" destaca-se ainda mais contra esse pano de fundo. O começo: a abertura imposta pela Inglaterra, por força das armas, dos portos chineses ao ópio britânico em 1842. No primeiro dos chamados "tratados desiguais", a China também foi forçada, entre outras coisas, a ceder Hong Kong à Inglaterra. E, oficialmente, essa aberração da história tem um fim formal e propagandístico: a fundação da República Popular da China em 1949, pelo Partido Comunista.
Este "século da vergonha" constitui a antítese à ascensão da China. Quem se lembra que a participação da China na produção econômica mundial em 1820 ainda era superior a 30%? Mas depois de rebeliões internas chinesas, da exploração colonial, depois do colapso estatal, da ocupação japonesa e da guerra civil, essa parcela havia caído, no começo dos anos 50, para apenas 5%.
Essa dor no membro fantasma pela perda da grandeza imperial é mantida viva na memória coletiva. Livros de história, séries de televisão e artigos de jornais repetidamente evocam a humilhação da nação chinesa por forças estrangeiras, o declínio e a miséria. Essa cultura da recordação abriu caminho para a repercussão popular do "sonho chinês" de Xi Jinping. Mas essa visão coletiva proclamada a partir de cima é exatamente o oposto do "sonho americano" da realização da felicidade individual.
"Real potência mundial até 2049"
Os planos para o "grande renascimento da nação chinesa" se estendem até o ano de 2049: no seu 100º aniversário, a República Popular da China deve ser uma potência mundial real. Nesse ponto, parece haver uma confirmação: quanto mais elevados os objetivos declarados e quanto mais no futuro estes se encontram, maior os sacrifícios que podem ser exigidos do povo.
Onde se fala em nada mais nada menos do que o "renascimento da nação chinesa", nenhuma consideração pode ser dada, na visão de Pequim, a liberdades cívicas ou também a complicados processos de Estado de Direito. Dissidentes, ativistas de direitos humanos, até mesmo os advogados deles acabam na cadeia. O que já havia sido conquistado em termo de liberdades – mesmo na mídia – é revertido.
A visão de um "sonho chinês" é tão vaga e ao mesmo tempo tão abrangente que uma grande variedade de mensagens têm espaço sob um mesmo teto. Aqueles com a devida autoridade para interpretar o conteúdo da fórmula podem definir quase tudo como um elemento para a realização do "sonho chinês".
Um exemplo: quando Xi Jinping visitou a barragem das Três Gargantas, em abril, ele era a capacidade para desenvolvimento tecnológico independente. Quando se encontrou em meados de março com militares de alta patente, era a integração mais forte das esferas civil e militar. E sempre sendo citadas: unidade e, em geral, e o desenvolvimento de força.
Em sua riqueza de possibilidades de interpretação, o "sonho chinês" também é adequado como ferramenta para fomentar o nacionalismo chinês, cada vez mais pronunciado nas últimas duas décadas. Isso é importante como fonte de legitimidade para o governo do Partido Comunista. Pois, ideologicamente, ele está esvaziado: como o organizador de um capitalismo de Estado, embora este seja altamente eficaz; com funcionários e autoridades como beneficiários, apesar de inéditas campanhas anticorrupção.
O posicionamento robusto da China, por exemplo, na disputa com o Japão em torno de ilhas no Mar da China Oriental, e a controversa construção de ilhas artificiais no Mar da China Meridional também servem às deliberadamente incentivadas expectativas nacionalistas do público interno.
Ao mesmo tempo, o grande projeto de Xi Jinping, a iniciativa da Nova Rota da Seda, também se encaixa como uma luva no seu "sonho chinês". Com imensos recursos, projetos de infraestrutura e tráfego são incentivados nos arredores próximos e distantes da China. A China é atualmente o único país do mundo a perseguir uma visão global, com este ambicioso projeto. E certamente não é coincidência que a iniciativa também tenha um nome ligado aos tempos áureos.
Com sua inteligente política de investimento, a China pode transformar cada vez mais força econômica em influência política. As novas conexões de transporte e as novas conexões econômicas desempenharão naturalmente seu papel no desenvolvimento do "sonho chinês" –fortalecendo o papel da China como centro de gravidade eurasiano, como o "país do meio".