Uma frota de satélites fabricados pelos Estados Unidos ajuda o governo chinês controlar sua população e contribui para as operações de suas forças armadas, apesar de uma lei proibir a venda de satélites a esse país por motivos de segurança, informou nesta terça-feira o Wall Street Journal.
Apesar da norma e da crescente preocupação de Washington com o poder de Pequim, empresas americanas venderam satélites à companhia Asia Satellite Communications (AsiaSat), em parte controlada pela China e com sede em Hong Kong, território que tecnicamente não está sujeito à proibição.
Essa empresa então cede a capacidade dos satélites em órbita para clientes chineses e outros. A AsiaSat é controlada conjuntamente pelo banco de investimento Citic Group, respaldado pelo Estado chinês, e o americano Carlyle, que em conjunto representam 75%.
A empresa colocou em órbita nove satélites fabricados por companhias americanas, entre elas a Boeing e SSL, uma subsidiária de Maxar Technologies na Califórnia, com sede no Colorado, segundo o WSJ.
O jornal americano cita documentos apresentados à Bolsa, relatórios financeiros e a funcionários da empresa para explicar como a China driblou a norma americana.
Essas fontes, diz, descrevem as atividades da firma como transmissão de programas de televisão, inclusive esportivos. Mas os documentos escritos em chinês detalham que os satélites da AsiaSat ajudaram esse governo a reprimir as manifestações e protestos antigovernamentais no Tibete e na região muçulmano de Xinjiang em 2008-2009, informa o WSJ.
AsiaSat 7, um satélite fabricado para a AsiaSat baseada em Hong Kong, em Kazakhstan, em 2011
China se converte no laboratório dos carros do futuro
Diante da ascensão dos carros compartilhados ou com motorista, os fabricantes de automóveis transformaram a China em um laboratório para testar os modelos do futuro, hiperconectados e autônomos.
"Não podemos nos limitar a desenvolver carros elétricos. Terão que ser inteligentes, interconectados e naturalmente compartilhados", aponta Zhao Guoqing, vice-presidente do gigante chinês do automóvel Great Wall Motors.
No Salão do Automóvel de Xangai, que é realizado nesta semana, muitos fabricantes têm em mente o sucesso na China do Didi, o líder no país dos chamados veículos de turismo com condutor (VTC), onipresente em todas as grandes urbes.
O setor chinês de transporte sob demanda está 90% dominado por Didi e representou 28 bilhões de dólares no ano passado, a metade do mercado mundial, um volume que deve dobrar antes de 2022, segundo a consultora Statista.
Por isso os fabricantes propõem não só veículos clássicos mas também novos modelos cheios de tecnologia, e estão começando a colaborar com empresas de transporte sob demanda.
"Não podemos continuar sendo um fabricante tradicional, é preciso oferecer soluções de mobilidade, de conectividade", afirma Stephan Wöllenstein, diretor da Volkswagen China.
O francês Renault, que acaba de chegar à China, tem uma empresa conjunta com a Brilliance e assinou um acordo com Didi para fabricar 600 hatchbacks personalizados.
"Didi quer desenvolver veículos deste tipo com muitas marcas, mais adaptados a sua atividade, repensados para cada passageiro", explica Michael Dong, vice-presidente da Renault-Brillance.
Normalmente "os carros estão pensados para as famílias" e não estão adaptados para seu uso como VTC, com o que "põem os clientes atrás, no lugar das crianças, sem lugar para as pernas nem assentos reguláveis", aponta Laurent Petizon, analista da AlixPartners.
Muitos motoristas do Didi compram seus veículos, mas as autoridades chinesas estão incitando as companhias a terem suas próprias frotas.
Outras marcas presentes na China, como a alemã BMW, a Volkswagen e a Mercedes-Benz apontam também para este mercado com seus veículos VTC de gama alta.
Robô-táxis
A China é líder nesta transição do setor graças a sua população ultraconectada e às políticas do governo, que tentam descongestionar as grandes cidades.
Segundo a consultora Roland Berger, 10% dos carros na China em 2017 eram táxis, VTC ou veículos compartilhados.
Uma tendência que se estende a todo mundo. Em fevereiro a Daimler e a BMW anunciaram um bilhão de euros de investimentos em uma oferta comum de mobilidade que juntará seus serviços de carro compartilhado na Europa (Car2Go e DriveNow).
"É um serviço adicional, complementar, que não substituirá os veículos particulares", afirma Nicolas Peter, diretor financeiro da BMW.
Paralelamente continua se desenvolvendo a condução autônoma, uma tecnologia ideal para os pequenos veículos compartilhados no entorno urbano e que os fabricantes consideram essencial para seus novos carros particulares.
A companhia francesa de equipamento Valeo, que oferece sensores de ultrassom, câmeras e radares, indicou que no ano passado registrou pedidos no valor de um bilhão de euros relacionados com os 'robô-táxis' no mundo.
O surgimento desses novos veículos sem motorista é iminente, afirma François Marion, presidente da Valeo China.
"Chegarão em um entorno urbano controlado, com vias especiais, infraestruturas conectadas, itinerários conhecidos… e empresas operadoras capazes de intervir em caso de bloqueio", indica.
Na China, a Valeo também colabora com a Meituan, uma empresa de comida a domicílio, com o objetivo de criar automóveis específicos para as entregas.
Um visitante tira fotos de um carro-conceito elétrico Toyota Rhombus no Shanghai Auto Show em Xangai em 17 de abril de 2019