Search
Close this search box.

VENEZUELA – Prioridade cubana afeta Armada venezuelana


Prioridade cubana afeta Armada venezuelana


 

Roberto Lopes
Jornalista especializado em assuntos militares.
Em 2000 graduou-se em Gestão e Planejamento de Defesa
no Colégio de Estudos de Defesa Hemisférica
da Universidade de Defesa Nacional dos Estados Unidos, em Washington.
Em abril de 2012 lançou o livro “O Código das Profundezas,
Coragem, Patriotismo e Fracasso a bordo dos Submarinos
Argentinos nas Malvinas” (Ed. Civilização Brasileira).

Depois de levar a economia venezuelana a uma situação próxima da insolvência, radicalizar o diálogo político com os opositores do chavismo e manchar seriamente a imagem pública de seu país no concerto das nações, o presidente Nicolás Maduro está agora destruindo as últimas esperanças dos chefes navais da Venezuela de manter uma frota apta a operar em águas internacionais.

Determinado a manter a ajuda econômica venezuelana a Cuba, e ciente da impossibilidade de continuar transferindo quantidades cada vez maiores de petróleo subsidiado para a ilha dos irmãos Castro, Maduro ordenou, ainda em janeiro, que o Escritório Coordenador de Apoio Marítimo da Armada aplique quase meio bilhão de dólares – US$ 441,8 milhões – na encomenda de 20 embarcações ao Damex Shipbuiding & Engineering, estaleiro sediado na cidade de Santiago de Cuba que pertence ao grupo holandês Damen. A verba sairá do Fondo de Desarrollo Nacional, entidade que, na Venezuela, cumpre papel semelhante ao do BNDES no Brasil.

Serão seis lanchas de patrulha tipo Damen Stan Patrol 5009, por US$ 176,5 milhões, seis embarcações mais leves do mesmo gênero, tipo 4207 – por US$ 132,7 milhões –, e oito cargueiros de pequeno porte (porta-contêineres) Stan Lander 5612, que custarão US$ 132,5 milhões. A novidade é que o comando da Armada Bolivariana decidiu, recentemente, ampliar a compra, solicitando ao mesmo grupo Damen 18 botes de patrulha – unidades pequenas mas muito rápidas, que se destinam a missões de interceptação ao longo da costa.

À exceção dos cargueiros, todas as demais embarcações foram concebidas, prioritariamente, para missões de combate ao tráfego ilegal de mercadorias (drogas e armas), fiscalização aduaneira e repressão à pesca ilegal. Seu armamento não inclui mais do que metralhadoras pesadas. Nenhuma está habilitada, por exemplo, a transportar lançadores de mísseis, mesmo os menores.

Ainda no âmbito da cooperação Venezuela-Cuba, surgiram, ano passado, informações de que a Marinha do regime chavista planeja adotar um sistema de defesa litorâneo inspirado nas instalações fixas e móveis de mísseis terra-mar do aparato de defesa cubano. Entre os lançadores de mísseis considerados pelos chefes navais venezuelanos figura o russo BAL-E, que emprega mísseis Kh-35U Uran, capaz de alcançar alvos de superfície a 120 quilômetros de distância da costa.

O ensaio dessa nova estratégia será feito, entretanto, com uma viatura lançadora de foguetes de fabricação chinesa, que será entregue no lote de blindados comprados pelos fuzileiros navais venezuelanos à indústria militar da China.

A manutenção de linhas de crédito para a Venezuela por parte do governo de Pequim pode também determinar a exportação de dois submarinos leves, de propulsão diesel elétrica (novos ou usados), para a esquadra do país sul-americano. Essa opção já havia sido examinada na metade inicial da década de 2000, mas os almirantes venezuelanos consideraram os navios chineses pouco automatizados e demasiadamente barulhentos – duas das principais críticas feitas aos submersíveis chineses no Ocidente.

A falta de um acordo financeiro entre Caracas e Moscou para a negociação de submarinos russos – os prediletos dos chavistas – pode, entretanto, forçar a aquisição dos navios na China. A Venezuela só opera atualmente um pequeno submarino tipo IKL-209, de fabricação alemã, com quase 40 anos de uso. Um segundo barco dessa classe está em reparos, sem perspectivas de voltar a operar este ano.

Na falta de meios de superfície importantes, o poderio dissuasório da Armada venezuelana ficaria configurado pelos submarinos e pelos mísseis de defesa costeira – o que não é muito, mas é o possível diante do quadro de penúria econômica do governo Maduro.

O destino do esquadrão de fragatas leves classe Lupo, de origem italiana, comprado pelos venezuelanos no início da década de 1980 é incerto. Desse agrupamento de seis unidades, apenas duas permanecem disponíveis para os patrulhamentos e exercícios navais de adestramento das tripulações.

Algumas estão no estaleiro venezuelano Dianca, para serem submetidas a modernização, há mais de sete anos (!).

A Lupo foi um projeto concebido na metade final dos anos de 1970, como um navio não muito grande (2.500 toneladas), capaz de atingir alta velocidade (até 35 nós por meio do sistema turbogás) e fortemente artilhado, inclusive por sua dotação de mísseis.

Ocorre que essas embarcações usam intensivamente a eletrônica militar ocidental, hoje de difícil acesso para o governo Maduro em razão de bloqueios políticos.

Atualmente o comando da Marinha venezuelano estuda desativar uma ou duas fragatas para que suas peças possam servir de componentes de reposição para os outros barcos da mesma classe. As unidades restantes permaneceriam em atividade até meados da década de 2020, funcionando como uma escola para a marujada venezuelana se adestrar na operação de navios grandes.

Ao lado dessa linha de ação os venezuelanos pretendem comprar lançadores de mísseis navais para os seus quatro navios de patrulha oceânica fabricados na década passada no estaleiro espanhol Navantia.

Quando esse plano for viabilizado, os barcos, possivelmente, serão reclassificados como corvetas. O armamento terá que ser adquirido à indústria militar chinesa, ou a fornecedores russos – mas os chineses surgem como a opção mais viável, devido às facilidades de financiamento.

A longo prazo, a ideia dos almirantes da Venezuela é examinar a possibilidade de renovar a sua força de superfície com um dos diferentes modelos de fragatas e destróieres que estão sendo lançados pela indústria naval chinesa. Um dos navios que chama mais a atenção é a fragata porta-mísseis rápida Tipo 056 – classe Jiangdao. Essa embarcação, de apenas 1.440 toneladas, possui características stealth, mísseis de cruzeiro para atingir alvos de superfície, canhões operados remotamente e capacidade de desenvolver velocidades de até 28 nós.  

Todas essas mudanças tendem a modificar o equilíbrio naval no Mar do Caribe, permitindo o predomínio da Armada colombiana – uma aliada incondicional da Marinha dos Estados Unidos –, que se encontra em fase de expansão, e já mantém acordos operacionais com as forças navais do Panamá, da Costa Rica e de Honduras.
 

Compartilhar:

Leia também
Últimas Notícias

Inscreva-se na nossa newsletter