O governo do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, está vendendo suas reservas de ouro como parte de uma operação secreta no leste da África, em um modo de eludir a sanções impostas pelos EUA, afirmou reportagem publicada pelo Wall Street Journal nesta terça-feira (18).
De acordo com o jornal americano, apenas em dois voos no início de março, 7,4 toneladas de ouro com valor de mercado estimado em US$ 300 milhões (R$ 1,2 bilhão) foram transferidas da Venezuela para uma refinaria em Uganda.
O ouro foi embarcado em Caracas em uma aeronave russa fretada e chegou ao aeroporto internacional de Entebbe, segundo o porta-voz da polícia nacional de Uganda, Fred Enanga, diz o WSJ.
Papéis que acompanharam a carga identificaram os lingotes como sendo propriedade do banco central da Venezuela, embora em alguns o selo estivesse parcialmente raspado.
Para o jornal, a descoberta dos envios expõe um dos elos com a economia global que estão ajudando o Maduro a se manter no poder ao contornar o sistema financeiro internacional oficial.
Os EUA, ao lado de outros 50 países, reconheceram o líder oposicionista Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. Washington vem impondo uma série de sanções financeiras contra autoridades e instituições do país, ameaçando impor penalidades a outros que fizerem negócios com o regime Maduro.
Em meio ao colapso econômico, a exportação de ouro é um dos últimos modos de sobrevivência do regime, afirma o WSJ.
A carga de ouro que chegou a Entebbe passou pela refinaria African Gold Refinery (AGR) antes de ser exportada para o Oriente Médio, informou o jornal, tendo como fonte a polícia ugandesa.
O ouro processado pela AGR acaba sendo usado em cadeias de produção de empresas americanas, entre elas a General Motors, a General Electric e a Starbucks, segundo dados da Securities and Exchange Commission.
A gerente geral da AGR, Cherry Anne Dacdac, disse ao jornal que a empresa não processa ouro contrabandeado ou proveniente de conflitos e não quis comentar os envios de março. Segundo ela, a empresa determinou a não aceitação de transações relacionadas à Venezuela em uma reunião em 26 de março.
Entre o fim de 2017 e 1º de fevereiro de 2019, o banco central da Venezuela vendeu ao menos 73,3 toneladas de ouro com valor de mercado estimado em cerca de US$ 3 bilhões (R$ 11,6 bilhões) para empresas de países como os Emirados Árabes Unidos e a Turquia, segundo dados da Assembleia Nacional (oposicionista).
Em 1º de novembro do ano passado, a Casa Branca anunciou sanções para impedir a venda de ouro pela Venezuela.
Desde então, segundo políticos da oposição, várias dezenas de toneladas foram retiradas do banco central e exportadas secretamente.
"O regime está raspando o tacho e vendendo qualquer coisa de valor para se manter à tona", afirmou ao WSJ o deputado Ángel Alvarado.
Alta comissária da ONU visita uma Venezuela devastada pela crise
A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, visitará a Venezuela nesta quarta-feira, para observar a grave crise no país, que se aprofunda com a luta pelo poder e as sanções dos Estados Unidos.
Após meses de uma missão do Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos ter preparado a visita, Bachelet chegará ao país a convite do presidente Nicolás Maduro.
No governo de Maduro – iniciado em 2013 – a outrora potência petroleira caiu na pior recessão de sua história moderna.
A diplomata, que se reunirá ainda nesta quarta-feira com Maduro, permanecerá até sexta-feira no país, quando fará uma declaração final.
De acordo com a ONU, desde 2015 quase quatro milhões de venezuelanos emigraram pela crise, marcada pela escassez de produtos básicos, uma hiperinflação que o FMI projeta para 10.000.000% para 2019, o colapso do sistema de saúde e falhas nos serviços públicos.
A visita não escapa da disputa entre Maduro e Juan Guaidó, presidente do Parlamento que se autoproclamou chefe de Estado encarregado há cinco meses e recebeu o apoio de 50 países, liderados pelos Estados Unidos.
Maduro afirma que Bachelet chega com sua permissão, enquanto Guaidó alega que "é uma conquista do protesto" para exigir a saída do líder socialista, a quem ele chama de "ilegítimo".
"O regime vai tentar esconder os problemas", adverte o opositor, mas Bachelet anunciou que encontrará todos os personagens da crise, incluindo "vítimas de abusos e de violações dos direitos humanos, para não ser parte de nenhum tipo de estratégia".
A visita pode dar mais visibilidade à crise e motivar a União Europeia a "aumentar a pressão", afirmou à AFP o analista Mariano de Alba.