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Venezuela deve mais de um ano em importações ao Brasil

Fabio Murakawa


Enfrentando uma profunda crise econômica, a Venezuela já acumula atrasos de US$ 5 bilhões a exportadores, empreiteiras e companhias aéreas brasileiras, de acordo com estimativa da Câmara de Comércio Brasil-Venezuela (Cavenbra).

Esses atrasos já superam o valor total das exportações anuais do Brasil ao país vizinho, que somaram no ano passado US$ 4,63 bilhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

O número corresponde também a cerca de 40% do total de US$ 12 bilhões em atrasos acumulados pela Venezuela a fornecedores e empresas do mundo todo, que vem sendo estimado por analistas locais.

Desde meados de 2013, os importadores venezuelanos vêm encontrando dificuldades para comprar dólares junto ao governo para honrar seus compromissos junto a fornecedores no exterior.

Segundo Fernando Portela, diretor-executivo da Cavenbra, além das empreiteiras e aéreas, os atrasos afetam principalmente o pagamento por importações de produtos não considerados essenciais pelo país vizinho, caso dos têxteis, calçados e autopeças.

Somente os setores de alimentos e medicamentos, tidos como prioritários pelo governo chavista, diz ele, não acumulam atrasos superiores a seis meses.

No caso das empreiteiras e outras empresas brasileiras que operam no país, como as companhias aéreas, a grande dificuldade é conseguir trocar os bolívares que recebem localmente por dólares, para remetê-los à matriz no Brasil. Esses atrasos, diz Portela, estão contemplados em sua estimativa. "A situação está confusa.

Algumas empresas que operam aqui estão com portas fechadas, outras em férias coletivas", disse Portela. "As companhias não sabem com que câmbio vão operar nos próximos meses e que dólar considerar para dar um aumento aos seus funcionários", afirmou, referindo-se às diversas taxas de câmbio em vigor no país.

Os atrasos vêm se acumulando e dificultando a operação das empresas localmente. Não há um número preciso, dado o receio das companhias de expor o assunto, mas em março do ano passado fontes disseram ao Valor que os atrasos nos pagamentos por serviços prestados pelas construtoras brasileiras no país ficavam entre US$ 2 bilhões e US$ 2,5 bilhões – diante de um portfólio de obras estimado à época em US$ 20 bilhões.

Desde então, as empresas vêm diminuindo o ritmo das obras contratadas no país vizinho e dispensando funcionários para enxugar custos. Àquela época, os atrasos aos demais setores eram estimados em cerca de US$ 1,5 bilhão. Uma fonte do governo brasileiro disse ao Valor não ter certeza do montante dos atrasos.

Mas afirmou que as empresas brasileiras têm solicitado a Brasília que mantenha o assunto na pauta das conversas bilaterais com o país vizinho.

Afirmou também que o governo está trabalhando para encontrar uma solução para o tema. "Nós temos interesse em que os compromissos sejam mantidos e honrados", afirmou a fonte. "É um tema que está na nossa pauta e está na mesa das conversas que mantemos com o governo venezuelano."

Portela, da Cavenbra, disse prever que Caracas cortará ainda mais neste ano as compras "de tudo o que não for alimento e medicamento", com impacto nas exportações brasileiras, embora a maior parte das vendas para a Venezuela seja composta por animais vivos, carnes e produtos farmacêuticos.

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