Por Fabio Murakawa
De Caracas
Por Fabio Murakawa | De Caracas
Um problema que já vinha afetando os exportadores brasileiros agora passa a preocupar também as empreiteiras do Brasil que atuam na Venezuela, onde elas possuem um portfólio estimado em US$ 20 bilhões em obras de infraestrutura e saneamento. Segundo fontes consultadas pelo Valor, os atrasos nos pagamentos pelos serviços prestados pelas construtoras no país vêm se agravando nos últimos meses, e a dívida do governo venezuelano com companhias do setor já soma entre US$ 2 bilhões e US$ 2,5 bilhões de dólares.
As dificuldades econômicas enfrentadas pela Venezuela, dizem as fontes, são apenas uma parte da explicação desse fenômeno. A outra questão, igualmente importante, está relacionada à articulação cada vez mais falha entre os dois países sob os governos de Nicolás Maduro e Dilma Rousseff, em comparação ao que ocorria quando Hugo Chávez e Luiz Inácio Lula da Silva eram presidentes.
"Antes, o Lula era amigão do Chávez. Quando eles se encontravam, destravavam todos os problemas", diz uma fonte próxima ao tema, que, como as demais fontes, pediu para não ser identificada. "Agora, com pouco dinheiro em caixa, o governo venezuelano está mais pragmático. O 'amigão' é quem traz financiamento. Nesse sentido, estamos perdendo cada vez mais espaço para a China."
O Valor apurou que cerca de 70% do endividamento do governo venezuelano com as empreiteiras brasileiras corresponde a serviços prestados pela Odebrecht.
A maior construtora brasileira é também a que tem mais projetos no país. E tinha uma relação muito próxima com Chávez. Mas, segundo fontes, essa relação começou a azedar na eleição presidencial de outubro de 2012, a última disputada pelo líder bolivariano, quando chegou aos ouvidos dos serviços de inteligência venezuelanos que a empresa se aproximou também do opositor Henrique Capriles.
"Assim como o Brasil deixou de ser o parceiro prioritário da Venezuela, em detrimento da China, a Odebrecht deixou de ter prioridade nos projetos e nos pagamentos dos atrasados pelo governo venezuelano", diz uma segunda fonte.
O Valor apurou que, por conta dos atrasos e das incertezas econômicas e políticas que rondam o país – que viveu nas últimas semanas uma onda de protestos contra o governo -, a Odebrecht está diminuindo o ritmo de obras e demitindo funcionários. A empresa emprega cerca de 13 mil pessoas na Venezuela. Dentre seus principais projetos no país estão duas linhas do metrô de Caracas, uma nova pista do aeroporto de Maiquetía, que serve a capital, uma hidrelétrica e duas pontes. A favor da empresa, diz uma fonte, ainda pesa a boa fama de entregar os projetos, apesar dos atrasos, enquanto empresas de outros países simplesmente abandonam as obras.
As outras grandes empreiteiras brasileiras – Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez – também enfrentam um aumento nos atrasos. Mas o montante devido a elas, assim como sua presença no país, são bem menores.
Consultada, a Odebrecht minimizou o problema. "O atraso nos pagamentos é normal no negócio de infraestrutura. Não tenho nenhum problema aqui que eu não tenha em outros lugares", disse José Claudio Daltro, diretor administrativo e financeiro da Odebrecht na Venezuela. "Nós temos um compromisso com o país e não temos nenhuma intenção de paralisar nossos trabalhos. Nosso compromisso é entregar todas as obras que temos contratadas", afirmou Daltro. Ele disse desconhecer os números de endividamento apurados pelo Valor.
Os atrasos nos pagamentos, tanto de exportações como relativos à prestação de serviços, sempre ocorreram na Venezuela chavista. Mas eles começaram a se intensificar no ano passado, com a deterioração da economia e as turbulências políticas, já sob o governo de Nicolás Maduro.
A disparada no gasto público, em meio a duas eleições presidenciais, entre outubro de 2012 e abril do ano passado, ajudam a explicar os problemas de caixa enfrentados por Maduro. O país também vem recebendo cada vez menos dólares com as vendas de petróleo, responsável por 96% das exportações. Segundo dados da estatal PDVSA, cerca de 350 mil barris diários, de uma produção total de 2,7 milhões de barris, são destinados a honrar créditos de US$ 40 bilhões concedidos pela China. Outros 400 mil barris são vendidos a preços subsidiados a aliados, sobretudo Cuba.
As reservas internacionais caíram mais de 30% em 2013, para US$ 20,7 bilhões, o menor nível em nove anos. Com poucos dólares em caixa, o governo, que detém as divisas obtidas com as exportações petroleiras, passou a controlar ainda mais as importações, priorizando setores essenciais, como alimentos e medicamentos.
Os importadores venezuelanos devem hoje cerca de US$ 10 bilhões a fornecedores no exterior, porque não conseguem obter do Banco Central os dólares necessários para pagá-los. A dívida com os exportadores brasileiros chega a US$ 1,5 bilhão, segundo fontes. Internamente, o resultado disso foi um aumento do índice de escassez medido pelo próprio governo. Em janeiro, o indicador subiu de 22% a 28%. A inflação disparou, de 20,1% em 2012 para 56,2% em 2013.
É unanimidade na comunidade de negócios brasileira em Caracas que a fria relação entre Dilma e Maduro tem dificultado a solução de problemas das empresas do Brasil no país. Uma fonte nota que a Venezuela foi o país mais visitado por Lula durante sua gestão, entre 2003 e 2010, assim como o Brasil está no topo da lista de países visitados por Chávez no período. Enquanto presidente, Lula esteve na Venezuela em 16 ocasiões. Chávez fez 20 visitas ao Brasil.
Maduro só viajou a Brasília uma vez depois de eleito, em maio, enquanto Dilma esteve na Venezuela apenas três vezes. Na primeira, em dezembro de 2011, Chávez ainda governava. Ela voltou para o velório do líder bolivariano, em março do ano passado, e ficou apenas algumas horas no país. Foi embora antes do discurso de Maduro, para o espanto de diplomatas, empresários e outros chefes de Estado presentes. Em abril, voltou a Caracas para a posse de Maduro.
Fontes afirmam que, sentindo a falta de uma boa interlocução entre os governos, as construtoras brasileiras passaram a contar, informalmente, com a ajuda do ex-embaixador da Venezuela em Brasília Maximilien Arvelaíz para ter melhor acesso ao Miraflores. Na semana passada, porém, ele foi designado para assumir a Embaixada da Venezuela em Washington. No novo cargo, não deve ter a mesma disponibilidade para interceder pelas empresas do Brasil.
Nota DefesaNet
É lícito pensar que o Tesouro Brasileiro, talvez via BNDES, arcará com esta conta.
O Editor |
Um problema que já vinha afetando os exportadores brasileiros agora passa a preocupar também as empreiteiras do Brasil que atuam na Venezuela, onde elas possuem um portfólio estimado em US$ 20 bilhões em obras de infraestrutura e saneamento. Segundo fontes consultadas pelo Valor, os atrasos nos pagamentos pelos serviços prestados pelas construtoras no país vêm se agravando nos últimos meses, e a dívida do governo venezuelano com companhias do setor já soma entre US$ 2 bilhões e US$ 2,5 bilhões de dólares.
As dificuldades econômicas enfrentadas pela Venezuela, dizem as fontes, são apenas uma parte da explicação desse fenômeno. A outra questão, igualmente importante, está relacionada à articulação cada vez mais falha entre os dois países sob os governos de Nicolás Maduro e Dilma Rousseff, em comparação ao que ocorria quando Hugo Chávez e Luiz Inácio Lula da Silva eram presidentes.
"Antes, o Lula era amigão do Chávez. Quando eles se encontravam, destravavam todos os problemas", diz uma fonte próxima ao tema, que, como as demais fontes, pediu para não ser identificada. "Agora, com pouco dinheiro em caixa, o governo venezuelano está mais pragmático. O 'amigão' é quem traz financiamento. Nesse sentido, estamos perdendo cada vez mais espaço para a China."
O Valor apurou que cerca de 70% do endividamento do governo venezuelano com as empreiteiras brasileiras corresponde a serviços prestados pela Odebrecht.
A maior construtora brasileira é também a que tem mais projetos no país. E tinha uma relação muito próxima com Chávez. Mas, segundo fontes, essa relação começou a azedar na eleição presidencial de outubro de 2012, a última disputada pelo líder bolivariano, quando chegou aos ouvidos dos serviços de inteligência venezuelanos que a empresa se aproximou também do opositor Henrique Capriles.
"Assim como o Brasil deixou de ser o parceiro prioritário da Venezuela, em detrimento da China, a Odebrecht deixou de ter prioridade nos projetos e nos pagamentos dos atrasados pelo governo venezuelano", diz uma segunda fonte.
O Valor apurou que, por conta dos atrasos e das incertezas econômicas e políticas que rondam o país – que viveu nas últimas semanas uma onda de protestos contra o governo -, a Odebrecht está diminuindo o ritmo de obras e demitindo funcionários. A empresa emprega cerca de 13 mil pessoas na Venezuela. Dentre seus principais projetos no país estão duas linhas do metrô de Caracas, uma nova pista do aeroporto de Maiquetía, que serve a capital, uma hidrelétrica e duas pontes. A favor da empresa, diz uma fonte, ainda pesa a boa fama de entregar os projetos, apesar dos atrasos, enquanto empresas de outros países simplesmente abandonam as obras.
As outras grandes empreiteiras brasileiras – Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez – também enfrentam um aumento nos atrasos. Mas o montante devido a elas, assim como sua presença no país, são bem menores.
Consultada, a Odebrecht minimizou o problema. "O atraso nos pagamentos é normal no negócio de infraestrutura. Não tenho nenhum problema aqui que eu não tenha em outros lugares", disse José Claudio Daltro, diretor administrativo e financeiro da Odebrecht na Venezuela. "Nós temos um compromisso com o país e não temos nenhuma intenção de paralisar nossos trabalhos. Nosso compromisso é entregar todas as obras que temos contratadas", afirmou Daltro. Ele disse desconhecer os números de endividamento apurados pelo Valor.
Os atrasos nos pagamentos, tanto de exportações como relativos à prestação de serviços, sempre ocorreram na Venezuela chavista. Mas eles começaram a se intensificar no ano passado, com a deterioração da economia e as turbulências políticas, já sob o governo de Nicolás Maduro.
A disparada no gasto público, em meio a duas eleições presidenciais, entre outubro de 2012 e abril do ano passado, ajudam a explicar os problemas de caixa enfrentados por Maduro. O país também vem recebendo cada vez menos dólares com as vendas de petróleo, responsável por 96% das exportações. Segundo dados da estatal PDVSA, cerca de 350 mil barris diários, de uma produção total de 2,7 milhões de barris, são destinados a honrar créditos de US$ 40 bilhões concedidos pela China. Outros 400 mil barris são vendidos a preços subsidiados a aliados, sobretudo Cuba.
As reservas internacionais caíram mais de 30% em 2013, para US$ 20,7 bilhões, o menor nível em nove anos. Com poucos dólares em caixa, o governo, que detém as divisas obtidas com as exportações petroleiras, passou a controlar ainda mais as importações, priorizando setores essenciais, como alimentos e medicamentos.
Os importadores venezuelanos devem hoje cerca de US$ 10 bilhões a fornecedores no exterior, porque não conseguem obter do Banco Central os dólares necessários para pagá-los. A dívida com os exportadores brasileiros chega a US$ 1,5 bilhão, segundo fontes. Internamente, o resultado disso foi um aumento do índice de escassez medido pelo próprio governo. Em janeiro, o indicador subiu de 22% a 28%. A inflação disparou, de 20,1% em 2012 para 56,2% em 2013.
É unanimidade na comunidade de negócios brasileira em Caracas que a fria relação entre Dilma e Maduro tem dificultado a solução de problemas das empresas do Brasil no país. Uma fonte nota que a Venezuela foi o país mais visitado por Lula durante sua gestão, entre 2003 e 2010, assim como o Brasil está no topo da lista de países visitados por Chávez no período. Enquanto presidente, Lula esteve na Venezuela em 16 ocasiões. Chávez fez 20 visitas ao Brasil.
Maduro só viajou a Brasília uma vez depois de eleito, em maio, enquanto Dilma esteve na Venezuela apenas três vezes. Na primeira, em dezembro de 2011, Chávez ainda governava. Ela voltou para o velório do líder bolivariano, em março do ano passado, e ficou apenas algumas horas no país. Foi embora antes do discurso de Maduro, para o espanto de diplomatas, empresários e outros chefes de Estado presentes. Em abril, voltou a Caracas para a posse de Maduro.
Fontes afirmam que, sentindo a falta de uma boa interlocução entre os governos, as construtoras brasileiras passaram a contar, informalmente, com a ajuda do ex-embaixador da Venezuela em Brasília Maximilien Arvelaíz para ter melhor acesso ao Miraflores. Na semana passada, porém, ele foi designado para assumir a Embaixada da Venezuela em Washington. No novo cargo, não deve ter a mesma disponibilidade para interceder pelas empresas do Brasil.
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Um problema que já vinha afetando os exportadores brasileiros agora passa a preocupar também as empreiteiras do Brasil que atuam na Venezuela, onde elas possuem um portfólio estimado em US$ 20 bilhões em obras de infraestrutura e saneamento. Segundo fontes consultadas pelo Valor, os atrasos nos pagamentos pelos serviços prestados pelas construtoras no país vêm se agravando nos últimos meses, e a dívida do governo venezuelano com companhias do setor já soma entre US$ 2 bilhões e US$ 2,5 bilhões de dólares.
As dificuldades econômicas enfrentadas pela Venezuela, dizem as fontes, são apenas uma parte da explicação desse fenômeno. A outra questão, igualmente importante, está relacionada à articulação cada vez mais falha entre os dois países sob os governos de Nicolás Maduro e Dilma Rousseff, em comparação ao que ocorria quando Hugo Chávez e Luiz Inácio Lula da Silva eram presidentes.
"Antes, o Lula era amigão do Chávez. Quando eles se encontravam, destravavam todos os problemas", diz uma fonte próxima ao tema, que, como as demais fontes, pediu para não ser identificada. "Agora, com pouco dinheiro em caixa, o governo venezuelano está mais pragmático. O 'amigão' é quem traz financiamento. Nesse sentido, estamos perdendo cada vez mais espaço para a China."
O Valor apurou que cerca de 70% do endividamento do governo venezuelano com as empreiteiras brasileiras corresponde a serviços prestados pela Odebrecht.
A maior construtora brasileira é também a que tem mais projetos no país. E tinha uma relação muito próxima com Chávez. Mas, segundo fontes, essa relação começou a azedar na eleição presidencial de outubro de 2012, a última disputada pelo líder bolivariano, quando chegou aos ouvidos dos serviços de inteligência venezuelanos que a empresa se aproximou também do opositor Henrique Capriles.
"Assim como o Brasil deixou de ser o parceiro prioritário da Venezuela, em detrimento da China, a Odebrecht deixou de ter prioridade nos projetos e nos pagamentos dos atrasados pelo governo venezuelano", diz uma segunda fonte.
O Valor apurou que, por conta dos atrasos e das incertezas econômicas e políticas que rondam o país – que viveu nas últimas semanas uma onda de protestos contra o governo -, a Odebrecht está diminuindo o ritmo de obras e demitindo funcionários. A empresa emprega cerca de 13 mil pessoas na Venezuela. Dentre seus principais projetos no país estão duas linhas do metrô de Caracas, uma nova pista do aeroporto de Maiquetía, que serve a capital, uma hidrelétrica e duas pontes. A favor da empresa, diz uma fonte, ainda pesa a boa fama de entregar os projetos, apesar dos atrasos, enquanto empresas de outros países simplesmente abandonam as obras.
As outras grandes empreiteiras brasileiras – Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez – também enfrentam um aumento nos atrasos. Mas o montante devido a elas, assim como sua presença no país, são bem menores.
Consultada, a Odebrecht minimizou o problema. "O atraso nos pagamentos é normal no negócio de infraestrutura. Não tenho nenhum problema aqui que eu não tenha em outros lugares", disse José Claudio Daltro, diretor administrativo e financeiro da Odebrecht na Venezuela. "Nós temos um compromisso com o país e não temos nenhuma intenção de paralisar nossos trabalhos. Nosso compromisso é entregar todas as obras que temos contratadas", afirmou Daltro. Ele disse desconhecer os números de endividamento apurados pelo Valor.
Os atrasos nos pagamentos, tanto de exportações como relativos à prestação de serviços, sempre ocorreram na Venezuela chavista. Mas eles começaram a se intensificar no ano passado, com a deterioração da economia e as turbulências políticas, já sob o governo de Nicolás Maduro.
A disparada no gasto público, em meio a duas eleições presidenciais, entre outubro de 2012 e abril do ano passado, ajudam a explicar os problemas de caixa enfrentados por Maduro. O país também vem recebendo cada vez menos dólares com as vendas de petróleo, responsável por 96% das exportações. Segundo dados da estatal PDVSA, cerca de 350 mil barris diários, de uma produção total de 2,7 milhões de barris, são destinados a honrar créditos de US$ 40 bilhões concedidos pela China. Outros 400 mil barris são vendidos a preços subsidiados a aliados, sobretudo Cuba.
As reservas internacionais caíram mais de 30% em 2013, para US$ 20,7 bilhões, o menor nível em nove anos. Com poucos dólares em caixa, o governo, que detém as divisas obtidas com as exportações petroleiras, passou a controlar ainda mais as importações, priorizando setores essenciais, como alimentos e medicamentos.
Os importadores venezuelanos devem hoje cerca de US$ 10 bilhões a fornecedores no exterior, porque não conseguem obter do Banco Central os dólares necessários para pagá-los. A dívida com os exportadores brasileiros chega a US$ 1,5 bilhão, segundo fontes. Internamente, o resultado disso foi um aumento do índice de escassez medido pelo próprio governo. Em janeiro, o indicador subiu de 22% a 28%. A inflação disparou, de 20,1% em 2012 para 56,2% em 2013.
É unanimidade na comunidade de negócios brasileira em Caracas que a fria relação entre Dilma e Maduro tem dificultado a solução de problemas das empresas do Brasil no país. Uma fonte nota que a Venezuela foi o país mais visitado por Lula durante sua gestão, entre 2003 e 2010, assim como o Brasil está no topo da lista de países visitados por Chávez no período. Enquanto presidente, Lula esteve na Venezuela em 16 ocasiões. Chávez fez 20 visitas ao Brasil.
Maduro só viajou a Brasília uma vez depois de eleito, em maio, enquanto Dilma esteve na Venezuela apenas três vezes. Na primeira, em dezembro de 2011, Chávez ainda governava. Ela voltou para o velório do líder bolivariano, em março do ano passado, e ficou apenas algumas horas no país. Foi embora antes do discurso de Maduro, para o espanto de diplomatas, empresários e outros chefes de Estado presentes. Em abril, voltou a Caracas para a posse de Maduro.
Fontes afirmam que, sentindo a falta de uma boa interlocução entre os governos, as construtoras brasileiras passaram a contar, informalmente, com a ajuda do ex-embaixador da Venezuela em Brasília Maximilien Arvelaíz para ter melhor acesso ao Miraflores. Na semana passada, porém, ele foi designado para assumir a Embaixada da Venezuela em Washington. No novo cargo, não deve ter a mesma disponibilidade para interceder pelas empresas do Brasil.
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Um problema que já vinha afetando os exportadores brasileiros agora passa a preocupar também as empreiteiras do Brasil que atuam na Venezuela, onde elas possuem um portfólio estimado em US$ 20 bilhões em obras de infraestrutura e saneamento. Segundo fontes consultadas pelo Valor, os atrasos nos pagamentos pelos serviços prestados pelas construtoras no país vêm se agravando nos últimos meses, e a dívida do governo venezuelano com companhias do setor já soma entre US$ 2 bilhões e US$ 2,5 bilhões de dólares.
As dificuldades econômicas enfrentadas pela Venezuela, dizem as fontes, são apenas uma parte da explicação desse fenômeno. A outra questão, igualmente importante, está relacionada à articulação cada vez mais falha entre os dois países sob os governos de Nicolás Maduro e Dilma Rousseff, em comparação ao que ocorria quando Hugo Chávez e Luiz Inácio Lula da Silva eram presidentes.
"Antes, o Lula era amigão do Chávez. Quando eles se encontravam, destravavam todos os problemas", diz uma fonte próxima ao tema, que, como as demais fontes, pediu para não ser identificada. "Agora, com pouco dinheiro em caixa, o governo venezuelano está mais pragmático. O 'amigão' é quem traz financiamento. Nesse sentido, estamos perdendo cada vez mais espaço para a China."
O Valor apurou que cerca de 70% do endividamento do governo venezuelano com as empreiteiras brasileiras corresponde a serviços prestados pela Odebrecht.
A maior construtora brasileira é também a que tem mais projetos no país. E tinha uma relação muito próxima com Chávez. Mas, segundo fontes, essa relação começou a azedar na eleição presidencial de outubro de 2012, a última disputada pelo líder bolivariano, quando chegou aos ouvidos dos serviços de inteligência venezuelanos que a empresa se aproximou também do opositor Henrique Capriles.
"Assim como o Brasil deixou de ser o parceiro prioritário da Venezuela, em detrimento da China, a Odebrecht deixou de ter prioridade nos projetos e nos pagamentos dos atrasados pelo governo venezuelano", diz uma segunda fonte.
O Valor apurou que, por conta dos atrasos e das incertezas econômicas e políticas que rondam o país – que viveu nas últimas semanas uma onda de protestos contra o governo -, a Odebrecht está diminuindo o ritmo de obras e demitindo funcionários. A empresa emprega cerca de 13 mil pessoas na Venezuela. Dentre seus principais projetos no país estão duas linhas do metrô de Caracas, uma nova pista do aeroporto de Maiquetía, que serve a capital, uma hidrelétrica e duas pontes. A favor da empresa, diz uma fonte, ainda pesa a boa fama de entregar os projetos, apesar dos atrasos, enquanto empresas de outros países simplesmente abandonam as obras.
As outras grandes empreiteiras brasileiras – Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez – também enfrentam um aumento nos atrasos. Mas o montante devido a elas, assim como sua presença no país, são bem menores.
Consultada, a Odebrecht minimizou o problema. "O atraso nos pagamentos é normal no negócio de infraestrutura. Não tenho nenhum problema aqui que eu não tenha em outros lugares", disse José Claudio Daltro, diretor administrativo e financeiro da Odebrecht na Venezuela. "Nós temos um compromisso com o país e não temos nenhuma intenção de paralisar nossos trabalhos. Nosso compromisso é entregar todas as obras que temos contratadas", afirmou Daltro. Ele disse desconhecer os números de endividamento apurados pelo Valor.
Os atrasos nos pagamentos, tanto de exportações como relativos à prestação de serviços, sempre ocorreram na Venezuela chavista. Mas eles começaram a se intensificar no ano passado, com a deterioração da economia e as turbulências políticas, já sob o governo de Nicolás Maduro.
A disparada no gasto público, em meio a duas eleições presidenciais, entre outubro de 2012 e abril do ano passado, ajudam a explicar os problemas de caixa enfrentados por Maduro. O país também vem recebendo cada vez menos dólares com as vendas de petróleo, responsável por 96% das exportações. Segundo dados da estatal PDVSA, cerca de 350 mil barris diários, de uma produção total de 2,7 milhões de barris, são destinados a honrar créditos de US$ 40 bilhões concedidos pela China. Outros 400 mil barris são vendidos a preços subsidiados a aliados, sobretudo Cuba.
As reservas internacionais caíram mais de 30% em 2013, para US$ 20,7 bilhões, o menor nível em nove anos. Com poucos dólares em caixa, o governo, que detém as divisas obtidas com as exportações petroleiras, passou a controlar ainda mais as importações, priorizando setores essenciais, como alimentos e medicamentos.
Os importadores venezuelanos devem hoje cerca de US$ 10 bilhões a fornecedores no exterior, porque não conseguem obter do Banco Central os dólares necessários para pagá-los. A dívida com os exportadores brasileiros chega a US$ 1,5 bilhão, segundo fontes. Internamente, o resultado disso foi um aumento do índice de escassez medido pelo próprio governo. Em janeiro, o indicador subiu de 22% a 28%. A inflação disparou, de 20,1% em 2012 para 56,2% em 2013.
É unanimidade na comunidade de negócios brasileira em Caracas que a fria relação entre Dilma e Maduro tem dificultado a solução de problemas das empresas do Brasil no país. Uma fonte nota que a Venezuela foi o país mais visitado por Lula durante sua gestão, entre 2003 e 2010, assim como o Brasil está no topo da lista de países visitados por Chávez no período. Enquanto presidente, Lula esteve na Venezuela em 16 ocasiões. Chávez fez 20 visitas ao Brasil.
Maduro só viajou a Brasília uma vez depois de eleito, em maio, enquanto Dilma esteve na Venezuela apenas três vezes. Na primeira, em dezembro de 2011, Chávez ainda governava. Ela voltou para o velório do líder bolivariano, em março do ano passado, e ficou apenas algumas horas no país. Foi embora antes do discurso de Maduro, para o espanto de diplomatas, empresários e outros chefes de Estado presentes. Em abril, voltou a Caracas para a posse de Maduro.
Fontes afirmam que, sentindo a falta de uma boa interlocução entre os governos, as construtoras brasileiras passaram a contar, informalmente, com a ajuda do ex-embaixador da Venezuela em Brasília Maximilien Arvelaíz para ter melhor acesso ao Miraflores. Na semana passada, porém, ele foi designado para assumir a Embaixada da Venezuela em Washington. No novo cargo, não deve ter a mesma disponibilidade para interceder pelas empresas do Brasil.
– See more at: http://diplomatizzando.blogspot.de/#sthash.zK3XxUv8.dpuf
Um problema que já vinha afetando os exportadores brasileiros agora passa a preocupar também as empreiteiras do Brasil que atuam na Venezuela, onde elas possuem um portfólio estimado em US$ 20 bilhões em obras de infraestrutura e saneamento. Segundo fontes consultadas pelo Valor, os atrasos nos pagamentos pelos serviços prestados pelas construtoras no país vêm se agravando nos últimos meses, e a dívida do governo venezuelano com companhias do setor já soma entre US$ 2 bilhões e US$ 2,5 bilhões de dólares.
As dificuldades econômicas enfrentadas pela Venezuela, dizem as fontes, são apenas uma parte da explicação desse fenômeno. A outra questão, igualmente importante, está relacionada à articulação cada vez mais falha entre os dois países sob os governos de Nicolás Maduro e Dilma Rousseff, em comparação ao que ocorria quando Hugo Chávez e Luiz Inácio Lula da Silva eram presidentes.
"Antes, o Lula era amigão do Chávez. Quando eles se encontravam, destravavam todos os problemas", diz uma fonte próxima ao tema, que, como as demais fontes, pediu para não ser identificada. "Agora, com pouco dinheiro em caixa, o governo venezuelano está mais pragmático. O 'amigão' é quem traz financiamento. Nesse sentido, estamos perdendo cada vez mais espaço para a China."
O Valor apurou que cerca de 70% do endividamento do governo venezuelano com as empreiteiras brasileiras corresponde a serviços prestados pela Odebrecht.
A maior construtora brasileira é também a que tem mais projetos no país. E tinha uma relação muito próxima com Chávez. Mas, segundo fontes, essa relação começou a azedar na eleição presidencial de outubro de 2012, a última disputada pelo líder bolivariano, quando chegou aos ouvidos dos serviços de inteligência venezuelanos que a empresa se aproximou também do opositor Henrique Capriles.
"Assim como o Brasil deixou de ser o parceiro prioritário da Venezuela, em detrimento da China, a Odebrecht deixou de ter prioridade nos projetos e nos pagamentos dos atrasados pelo governo venezuelano", diz uma segunda fonte.
O Valor apurou que, por conta dos atrasos e das incertezas econômicas e políticas que rondam o país – que viveu nas últimas semanas uma onda de protestos contra o governo -, a Odebrecht está diminuindo o ritmo de obras e demitindo funcionários. A empresa emprega cerca de 13 mil pessoas na Venezuela. Dentre seus principais projetos no país estão duas linhas do metrô de Caracas, uma nova pista do aeroporto de Maiquetía, que serve a capital, uma hidrelétrica e duas pontes. A favor da empresa, diz uma fonte, ainda pesa a boa fama de entregar os projetos, apesar dos atrasos, enquanto empresas de outros países simplesmente abandonam as obras.
As outras grandes empreiteiras brasileiras – Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez – também enfrentam um aumento nos atrasos. Mas o montante devido a elas, assim como sua presença no país, são bem menores.
Consultada, a Odebrecht minimizou o problema. "O atraso nos pagamentos é normal no negócio de infraestrutura. Não tenho nenhum problema aqui que eu não tenha em outros lugares", disse José Claudio Daltro, diretor administrativo e financeiro da Odebrecht na Venezuela. "Nós temos um compromisso com o país e não temos nenhuma intenção de paralisar nossos trabalhos. Nosso compromisso é entregar todas as obras que temos contratadas", afirmou Daltro. Ele disse desconhecer os números de endividamento apurados pelo Valor.
Os atrasos nos pagamentos, tanto de exportações como relativos à prestação de serviços, sempre ocorreram na Venezuela chavista. Mas eles começaram a se intensificar no ano passado, com a deterioração da economia e as turbulências políticas, já sob o governo de Nicolás Maduro.
A disparada no gasto público, em meio a duas eleições presidenciais, entre outubro de 2012 e abril do ano passado, ajudam a explicar os problemas de caixa enfrentados por Maduro. O país também vem recebendo cada vez menos dólares com as vendas de petróleo, responsável por 96% das exportações. Segundo dados da estatal PDVSA, cerca de 350 mil barris diários, de uma produção total de 2,7 milhões de barris, são destinados a honrar créditos de US$ 40 bilhões concedidos pela China. Outros 400 mil barris são vendidos a preços subsidiados a aliados, sobretudo Cuba.
As reservas internacionais caíram mais de 30% em 2013, para US$ 20,7 bilhões, o menor nível em nove anos. Com poucos dólares em caixa, o governo, que detém as divisas obtidas com as exportações petroleiras, passou a controlar ainda mais as importações, priorizando setores essenciais, como alimentos e medicamentos.
Os importadores venezuelanos devem hoje cerca de US$ 10 bilhões a fornecedores no exterior, porque não conseguem obter do Banco Central os dólares necessários para pagá-los. A dívida com os exportadores brasileiros chega a US$ 1,5 bilhão, segundo fontes. Internamente, o resultado disso foi um aumento do índice de escassez medido pelo próprio governo. Em janeiro, o indicador subiu de 22% a 28%. A inflação disparou, de 20,1% em 2012 para 56,2% em 2013.
É unanimidade na comunidade de negócios brasileira em Caracas que a fria relação entre Dilma e Maduro tem dificultado a solução de problemas das empresas do Brasil no país. Uma fonte nota que a Venezuela foi o país mais visitado por Lula durante sua gestão, entre 2003 e 2010, assim como o Brasil está no topo da lista de países visitados por Chávez no período. Enquanto presidente, Lula esteve na Venezuela em 16 ocasiões. Chávez fez 20 visitas ao Brasil.
Maduro só viajou a Brasília uma vez depois de eleito, em maio, enquanto Dilma esteve na Venezuela apenas três vezes. Na primeira, em dezembro de 2011, Chávez ainda governava. Ela voltou para o velório do líder bolivariano, em março do ano passado, e ficou apenas algumas horas no país. Foi embora antes do discurso de Maduro, para o espanto de diplomatas, empresários e outros chefes de Estado presentes. Em abril, voltou a Caracas para a posse de Maduro.
Fontes afirmam que, sentindo a falta de uma boa interlocução entre os governos, as construtoras brasileiras passaram a contar, informalmente, com a ajuda do ex-embaixador da Venezuela em Brasília Maximilien Arvelaíz para ter melhor acesso ao Miraflores. Na semana passada, porém, ele foi designado para assumir a Embaixada da Venezuela em Washington. No novo cargo, não deve ter a mesma disponibilidade para interceder pelas empresas do Brasil.
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