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VENEZUELA – Brasil ajudará Maduro


Sergio Leo
Jornalista e especialista em relações internacionais pela UnB.

O governo brasileiro engajou-se ao lado do presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, no que o mandatário venezuelano considera uma "guerra econômica" travada por oposicionistas contra seu governo. Para superar o desabastecimento de gêneros de primeira necessidade, o maior problema enfrentado nos primeiros sete meses de gestão de Maduro, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, negociaram com o governo venezuelano o fornecimento de pelo menos US$ 300 milhões em produtos brasileiros às cadeias de
varejo estatais no país.

"O governo venezuelano quer fazer um grande estoque de alimentos e outros bens, que permita enfrentar situação de desabastecimento", informou ao Valor Marco Aurélio Garcia. "O que se acertou foi compra maciça de bens, do Brasil", disse. Empresas interessadas já estão em conversa com o governo.

Não há segredo que Maduro quer inundar o mercado de bens antes de 8 de dezembro, quando se realizam no país eleições municipais, que funcionarão como uma espécie de referendo político sobre o governo chavista.

Em setembro, Maduro já firmou acordo semelhante – em valor estimado em US$ 600 milhões, principalmente carne, lácteos e ovos – com o governo conservador de Juan Manuel Santos, na Colômbia.

Também firmou com a China um acordo de cooperação, que prevê ingresso, na Venezuela, do equivalente a US$ 5 bilhões em máquinas e equipamentos industriais, financiamentos e investimentos, a serem pagos em petróleo.

Governo venezuelano quer fazer um grande estoque de alimentos

As negociações ocorrem em momento de crise econômica no país, em grande parte resultantes de erros graves na administração da economia, mas atribuída pelos governistas à sabotagem da oposição e grandes grupos econômicos.

"Eles têm consciência dos problemas em curto, médio e longo prazo no país e estão muito preocupados em enfrentar, de forma clara e estratégica, as dificuldades históricas da economia venezuelana", analisa Garcia. Ele prevê, após as eleições, a edição de medidas "tributárias, fiscais e cambiais" para corrigir os rumos da economia venezuelana, sujeita ao crescimento de apenas 1% neste ano, segundo previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI), deficiências de infraestrutura e inflação ameaçando superar os 50% anuais.

As conversas com Pimentel e Garcia foram comandadas pelo próprio Maduro e seu vicepresidente econômico, Rafael Ramirez, encarregado das medidas para ajustar a economia venezuelana.

Uma questão de fundo nas discussões entre Brasil e Venezuela é o atraso nos pagamentos pelas importações de produtos brasileiros, provocado pela falta de divisas em moeda estrangeira no mercado venezuelano, fortemente controlado pelo Estado. Há empresas com atrasos de até um ano no recebimento, não por falta de dinheiro do importador na Venezuela (muitas vezes uma subsidiária da brasileira), mas pela falta de autorização do Cadiv, o mecanismo de pagamento de moeda estrangeira.

Garcia comenta que está implícita nas conversas com os venezuelanos a necessidade de garantias para o pagamento aos brasileiros. Diz desconhecer, porém, qualquer acordo nesse tema. "Sou solidário com as empresas brasileiras; se a Venezuela quer apoio tem de resolver o problema", disse Garcia, que nega, porém, terem levado uma cobrança ao governo Maduro.

"A missão não foi lá meter a faca no pescoço de ninguém, de maneira nenhuma, até porque muitas empresas brasileiras ganharam muito dinheiro com o comércio bilateral."

Durante a viagem, Pimentel propôs a Ramirez um sistema pelo qual um acordo entre Banco do Brasil e Banco da Venezuela financiaria diretamente o comércio bilateral, à margem do sistema do Cadiv.

Como informou no Valor o repórter Fabio Murakawa, o sistema deve ser detalhado em breve, com um "memorando de entendimentos sobre créditos à exportação".

Para o economista Welber Barral, da consultoria Barral M Jorge Associados, que assessora empresas com interesses na Venezuela, as propostas ensaiadas até agora não resolvem o problema das empresas, que seguirão sem saber quando receberão por suas exportações.

"Com países como Venezuela, o Brasil tem de pensar em mecanismos de 'counter trade', como a China vem fazendo", diz ele, citando o modelo chinês, que toma petróleo como garantia de pagamento.

Garcia diz que o Brasil se dispõe a ajudar a Venezuela como faz com qualquer país latinoamericano.

Não há informações sobre como a Venezuela ajustará seu sistema de preços, distorcido pelo tabelamento dos armazéns oficiais, que desestimula a produção e comércio privados e alimenta o desabastecimento. Recentemente, o governo Maduro iniciou processo para punir a rede de televisão Globovisión por noticiar o desabastecimento no país.

É do interesse do Brasil apoiar um esforço de estabilização na economia do promissor mercado vizinho. Mas é obrigação brasileira aproveitar a mãozinha para exercer maior influência na correção das aberrações macroeconômicas promovidas pelo governo chavista.
 

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