A China pediu nesta terça-feira (9) aos Estados Unidos que "anulem imediatamente" o projeto de venda de 2,2 bilhões de dólares em armas para Taiwan, uma nova escalada da tensão entre os dois países, imersos em uma guerra comercial.
"A China pede que os Estados Unidos (…) cancelem imediatamente este projeto de venda de armas a Taiwan e impeçam qualquer vínculo militar entre Taiwan e os Estados Unidos", disse Geng Shuang, porta-voz do ministério das Relações Exteriores, em entrevista coletiva.
O Congresso americano foi notificado desta venda, que incluiria 108 tanques Abrams M1A2T e cerca de 250 mísseis Stinger. Os legisladores americanos têm 30 dias para contestar, o que parece improvável.
"A venda de armas pelos Estados Unidos a Taiwan (…) viola seriamente o princípio de uma só China (…) interfere seriamente nos assuntos internos da China e prejudica seus interesses de soberania e segurança", disse Geng.
O governo chinês "expressou sua profunda insatisfação, bem como sua firme oposição, e já protestou oficialmente perante os Estados Unidos", acrescentou.
O porta-voz enfatizou a necessidade de evitar mais danos às relações entre a China e os Estados Unidos.
A iniciativa de venda acontece em meio a tensões entre Pequim e Washington, que travam uma guerra comercial desde o ano passado.
A China considera como parte do seu território a ilha de Taiwan, que não é reconhecida como um Estado independente pela ONU.
Washington, que rompeu relações diplomáticas com Taiwan em 1979 para reconhecer o governo de Pequim como o único representante da China, continua sendo o mais poderoso aliado da ilha e seu principal fornecedor de armas.
Esta não é a primeira vez que os Estados Unidos autorizam a venda de armas a Taiwan, e todas as vezes provoca a mesma reação da China.
"Equipamento obsoleto"
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem procurado fortalecer os laços com Taiwan e parece mais disposto a vender armas ao território.
A venda proposta "contribuirá para a modernização da frota de tanques de batalha" e melhorará o seu sistema de defesa aérea, de acordo com um comunicado da Agência de Cooperação de Defesa de Segurança (DSCA), que faz parte do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
Além disso, "apoiaria a política externa e de segurança nacional dos Estados Unidos, ajudando a melhorar a segurança e capacidade defensiva política" Taiwan, disse a DSCA.
A ilha é governada por um governo rival que se refugiou na ilha depois da tomada do continente pelos comunistas em 1949, no final da guerra civil chinesa.
Pequim ameaça usar a força se Taipei declarar formalmente a independência ou em caso de intervenção externa, principalmente dos Estados Unidos.
Taiwan seria superada em termos de número de tropas e poder de fogo em qualquer conflito com a China, e tem procurado atualizar o seu equipamento militar cada vez mais obsoleto, especialmente sua força aérea.
"Taiwan está na mira das ambições de expansão da China e enfrenta enormes ameaças e pressões de Pequim", declarou em um comunicado o ministério das Relações Exteriores de Taiwan.
"Esta venda de tanques M1A2 e vários mísseis vai ajudar muito a aumentar nossas capacidades defensivas", acrescentou.
Os tanques Abrams e mísseis Stinger, que são portáteis e podem ser rapidamente movidos por soldados no campo, aumentariam significativamente a capacidade de Taiwan numa possível invasão chinesa.
Os tanques M1A2 "são realmente confiáveis e vão se tornar uma parte essencial da nossa defesa terrestre" por sua capacidade de manobra, disse a repórteres Yang Hai-ming, general do Exército de Taiwan.
"Ter o M1A2 para substituir nossos tanques mais velhos aumentará de forma rápida e eficaz nossa capacidade de defesa", acrescentou.
A China aumentou significativamente a pressão diplomática e militar sobre Taipei desde que a presidente Tsai Ing-wen foi eleita em 2016.
China denuncia intimidação dos EUA ao Irã
A China atribuiu nesta segunda-feira a intimidação dos Estados Unidos às tensões atuais com o Irã, país que anunciou ter começado a enriquecer urânio a um nível acima do permitido pelo acordo internacional sobre seu programa nuclear.
"A pressão máxima dos Estados Unidos sobre o Irã é a fonte da crise nuclear iraniana", afirmou Geng Shuang, porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores.
"Os fatos demonstram que a intimidação unilateral se torna a cada dia em um tumor que se agrava, que gera em escala mundial problemas ainda mais perigosos e crises ainda mais importantes", completou.
O Irã anunciou no domingo que começou a enriquecer urânio a um nível acima do permitido pelo acordo de 2015 sobre seu programa nuclear.
A medida é a resposta do país à decisão dos Estados Unidos de abandonar unilateralmente o pacto em maio de 2018 e restabelecer as sanções econômicas contra Teerã.
Apesar das críticas, o governo iraniano afirma que a decisão de deixar de cumprir progressivamente alguns de seus compromissos busca apenas salvar o acordo assinado com a União Europeia, Alemanha e os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, França, Reino Unido, China e Rússia).
Três países que ainda integram o acordo reagiram de maneira veemente ao anúncio iraniano. Reino Unido e Alemanha exigiram que o Irã recue em sua decisão, enquanto a França expressou "grande preocupação" e pediu a Teerã que interrompa qualquer atividade "não conforme" ao acordo.