LA PAZ – Muitas pessoas que passaram em frente à Assembleia Legislativa na movimentada Plaza Murillo, em La Paz, estranharam o relógio instalado no prédio do governo. Outras sentiram vertigem. Desde a celebração do novo ano amazônico andino, os ponteiros giram no sentido contrário ao convencional. O ministro das Relações Exteriores da Bolívia, David Choquehuanca, explicou que a mudança nos relógios oficiais se deve à recuperação da identidade dos bolivianos.
– Estamos no Sul, no momento de resgatar a nossa identidade, e o governo boliviano está recuperando nosso sarawi, que significando caminho (em aimara). De acordo com o nosso sarawi e o nosso Nan (em quéchua), nossos relógios deveriam girar para a esquerda – disse o chanceler.
Os números romanos do relógio da Assembleia foram substituídos por algarismos arábicos. De um a cinco estão posicionados à esquerda, enquanto de 7 a 11, à direita.
Choquehuanca justificou que "o relógio solar, que é um relógio natural, gira à esquerda no Sul e no Norte gira para o outro lado".
Críticos, no entanto, sustentam que o sentido horário faz parte das convenções universais.
– A Terra gira no sentido horário – destacou o físico boliviano Francesco Zaratti, da Universidade Maior de San Andrés
Não é a primeira vez que o chanceler Choquehuanca faz declarações que levantam controvérsia. Ele já havia defendido a inclusão de folha de coca no café da manhã das escolas, por se tratar de uma planta com muitos valores nutricionais.