O presidente russo, Vladimir Putin, alertou a Ucrânia nesta quinta-feira para “consequências muito sérias para o Estado ucraniano” se Kiev iniciar uma ação militar contra rebeldes pró-Moscou no leste durante a Copa do Mundo, que começa na Rússia na semana que vem.
Zakhar Prilepin, escritor russo que aconselha os rebeldes da região separatista de Donetsk, que tem apoio de Moscou, pediu a Putin para comentar a possibilidade de a Ucrânia iniciar uma ação militar durante o torneio, ao participar de um programa de perguntas e respostas ao vivo na televisão com o presidente.
“Espero que não haja nenhuma provocação, mas, se acontecer, acho que teria consequências muito sérias para o Estado ucraniano em geral”, disse Putin.
A Rússia vai sediar a Copa do Mundo entre 14 de junho e 15 de julho em 11 cidades, inclusive Rostov-on-Don, situada a cerca de 100 quilômetros da fronteira com a Ucrânia.
Mais de 10 mil pessoas morreram desde abril de 2014 em um conflito que opõe forças ucranianas e separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia. Confrontos intermitentes persistem, apesar de um cessar-fogo nacional e esforços de paz diplomáticos.
Para Putin, Copa do Mundo prova que Rússia não pode ser contida pelo Ocidente
Vladimir Putin tem poucas esperanças de acabar com as sanções ocidentais contra a Rússia e é visto por muitos no Ocidente como um pária, por isso a Copa do Mundo deste mês é um momento bem-vindo sob os holofotes globais.
Aos olhos do presidente russo, a competição envia uma mensagem de desafio ao mundo e ao seu próprio povo que combina com sua retórica: a Rússia está progredindo apesar do empenho do Ocidente para contê-la.
“Para Putin, sediar a Copa do Mundo ilustra o fracasso das sanções e o fracasso dos esforços ocidentais para isolá-lo”, disse o professor Sergei Medvedev, da Escola Superior de Economia de Moscou, referindo-se às sanções ocidentais impostas à Rússia depois que o país anexou a Crimeia da Ucrânia em 2014.
“Apesar de tudo isso, (sua mentalidade é) ainda temos a Crimeia, estamos desenvolvendo nossa agenda e mesmo assim vejam, todos vieram à Copa do Mundo”, disse Medvedev.
Putin não quer que os russos pensem que seu país está isolado porque isso poderia minar sua narrativa da Rússia como uma grande potência influente que tem voz na decisão de questões globais.
Trinta e duas seleções competirão no torneio de 14 de junho a 15 de julho, sediado na Rússia pela primeira vez na história da Copa do Mundo a um custo oficial de 11 bilhões de dólares.
Uma autoridade de alto escalão do governo russo, que não quis ser identificada por não ter autorização para falar à mídia, disse que o torneio é o mais recente de uma série de eventos que mostram que as tentativas ocidentais de isolar Moscou estão fracassando.
“Se isto é isolamento, estamos gostando”, ironizou o funcionário.
Pesquisas apontam que a mensagem de Putin, segundo a qual a Rússia está em alta apesar de um Ocidente hostil, ressoa entre os eleitores. Ela é amplificada por autoridades governamentais que passaram meses se queixando de um complô ocidental para desacreditar a Copa do Mundo russa.
“Quanto mais forte é a campanha antirrussa antes da Copa do Mundo, mais as pessoas ficarão genuinamente maravilhadas quando virem que não há arame farpado nos estádios”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, aos repórteres no mês passado.
Uma insinuação feita em março pelo chanceler britânico, Boris Johnson, de que Putin usará o Mundial para fortalecer a imagem de seu país como Adolf Hitler fez com a Olimpíada de 1936 na Alemanha nazista foi vista como uma prova de que o Ocidente quer estragar a festa russa.