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Ucrânia é oportunidade para União Europeia voltar a ter protagonismo geopolítico

No apagar das luzes de 2021, a Europa atravessa uma redefinição de atores e papeis em sua cena política. Na Alemanha o novo governo ensaia seus primeiros passos, interna e externamente: a ministra de Relações Exteriores Annalena Baerbock visitou alguns países europeus, a leste e a oeste, e o primeiro-ministro Olaf Scholz visitou o presidente francês Emmanuel Macron.

Por sua vez este enfrenta o desafio de assumir em janeiro a presidência da União Europeia por seis meses e a pressão do próximo pleito presidencial em abril, ameaçado pelo crescimento da direita tradicional e da extrema-direita. Scholz também realizou encontros em Bruxelas com autoridades da UE e com o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg.

A União Europeia enfrenta quatro grandes desafios imediatos. De todos, o mais premente é o das novas ondas da pandemia coronavírus/Covid-19, com suas diferentes cepas. Há ainda a questão do relacionamento com a China, diante do boicote liderado pelos Estados Unidos aos jogos olímpicos de inverno naquele país e a crise de um aumento disseminado da inflação no continente, puxado pelos preços da energia no inverno que começa.

O maior e mais complexo dos desafios, no entanto, é o da crise na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia, envolvendo a OTAN e os Estados Unidos. Este apresenta o risco de um desdobramento militar que seria de grandes proporções.

Os Estados Unidos e a OTAN, junto com o governo de Kiev, acusam a Rússia de concentrar tropas na fronteira, o que abriria espaço para uma invasão militar da Ucrânia. Por sua vez o governo russo alega que a movimentação de tropas é defensiva, e afirma que não vai aceitar a presença de tropas da OTAN na Ucrânia, o que seria possível se este país passar a integrar a organização.

Há um movimento separatista, pró-russo, na região de Donbass, rica em carvão e metalurgia, na fronteira entre os dois países. Essa região se estende até as margens do mar de Azov e a Rússia a considera um tampão estratégico, junto com a re-anexada província da Crimeia, para o controle do estreito que liga aquele ao Mar Negro, onde a presença de navios militares de países da OTAN vem aumentando.

Canal de negociação

No encontro entre Olaf Scholz e Emmanuel Macron ambos reafirmaram a disposição de abrir um canal de negociação para obter uma solução diplomática para a crise, incluindo os governos russo e ucraniano. Esta iniciativa faria parte de um esforço para devolver à União Europeia uma condição de co-protagonista no cenário geopolítico internacional.

A pretensão é grande, mas o caminho é difícil, porque o presidente russo, Vladimir Putin, tem dado mostras de preferir uma interlocução direta com o norte-americano Joe Biden.

E o bloco europeu dá sinais de fissuras constantes, com os conflitos entre a França e o Reino Unido sobre direitos de pesca e o problema do acordo entre este, os Estados Unidos e a Austrália sobre construção de submarinos estratégicos, marginalizando Paris. Para complicar mais este já conturbado tabuleiro, há a questão energética.

Um dos componentes da crise ucraniana é o de que este país se sente prejudicado pela construção do gasoduto Nordstream 2, duplicando a já existente ligação direta entre a Rússia e a Alemanha. Kiev teme que este novo gasoduto lhe roube parte da renda que lhe garante a passagem do gás russo por seu território em direção à Europa.

O novo gasoduto é uma herança que Scholz recebe do governo de sua antecessora, Angela Merkel, que fez o acordo com Moscou. E é um espinho entalado na garganta do novo governo de Berlim.

A ministra Annalena Baerbock é contra; por sua vez, a última coisa que Scholz parece desejar é um conflito com Moscou sobre o fornecimento de gás, o que encareceria os custos e preços em seu país. Se o governo alemão rachar ou trincar, a União Europeia pode dar adeus a seu desejo de voltar a ser protagonista na cena geopolítica.

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