O presidente Tayyip Erdogan se reuniu com o presidente da Venezuela para assinar acordos comerciais e o ministro de Relações Exteriores turco se encontrou com o representante da Rússia para tratar dos cereais da Ucrânia presos no Mar Negro.
Mais de cem dias depois do início dos ataques russos à Ucrânia, o governo de Ancara media a liberação do Mar Negro, mas nenhum dos lados conseguiu chegar a um acordo para evitar uma iminente crise alimentar mundial. São mais de 20 milhões de toneladas de grãos presos na Ucrânia enquanto a Rússia continua os ataques e os preços do trigo disparam.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, se reuniu em Ancara, na quarta-feira (8), com o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Çavusoglu, para tratar da criação de corredores de embarque. O objetivo é permitir que os grãos ucranianos acessem o mercado internacional a partir do Mar Negro, que banha tanto a costa turca, quanto russa e ucraniana.
Çavusoglu afirmou que a Turquia está pronta para trabalhar com as Nações Unidas para criar essa via segura, que vai, depois, escoar para o Estreito de Bósforo rumo ao restante do mundo. Uma questão-chave continua sendo a remoção de minas que protegem o porto ucraniano de Odessa.
Moscou coloca a responsabilidade em Kiev para liberar caminho. Mas Kiev busca garantias de que as forças russas não lançarão um ataque anfíbio a Odessa. Diante desse impasse, a Turquia se oferece para sediar uma nova reunião aqui em Istambul para discutir esses detalhes.
Reforço da aliança Ancara-Moscou na Síria
Um ganho para o governo turco nesse encontro foi a confirmação do apoio da Rússia sobre os ataques militares que a Turquia quer retomar no norte da Síria. A Turquia ganha de Moscou o reforço que perdeu, em 2019, dos Estados Unidos, que retiraram tropas de cidades estratégicas do norte da Síria.
É justamente Washington que o governo de Ancara está querendo chamar para negociação agora. O ministro das Relações Exteriores turco voltou a afirmar que há uma ameaça crescente contra a Turquia causada pelo grupo armado curdo PKK e seu braço sírio, as Unidades de Proteção Popular, na fronteira.
Há um acordo de três anos atrás com Estados Unidos e Rússia, que também mantêm tropas na Síria, sobre libertar a região de terroristas. Por isso, o governo de Ancara argumenta ter o direito de esperar que esses compromissos sejam cumpridos.
Em contrapartida ao suporte de Moscou, o chanceler turco Çavusoglu apoiou o pedido russo para suspender as sanções internacionais caso um acordo sobre o transporte dos grãos ucranianos seja firmado. Mas, por enquanto, parece improvável que a Casa Branca concordará com a flexibilização.
Venezuela e Turquia contra os EUA
Um outro país que sente as sanções econômicas da Casa Branca foi recepcionado também na quarta-feira pela Turquia: a Venezuela. Nicolas Maduro foi a Ancara para ampliar acordos comerciais e aumentar o coro antiamericano de Tayyip Erdogan.
A Turquia já era aliada da Venezuela, que busca estreitar laços também com China, Irã e Rússia depois dos embargos americanos ao governo de Caracas. O presidente turco anunciou que a nova meta no comércio com a Venezuela é de US$ 3 bilhões, o que seria mais do que triplicar os resultados atuais. Na entrevista após o encontro, novamente, os Estados Unidos como pano de fundo. Para isso, Erdogan criticou a Grécia e a OTAN.
Tayyip Erdogan questionou por que ter nove bases americanas na vizinha Grécia, país com que a Turquia mantém relações conflituosas por questões territoriais. O presidente turco acusa o primeiro-ministro grego, Kyriákos Mitsotákis, de recomendar a Washington que não venda caças militares à Turquia.
Ele se referia a um discurso do mês passado, quando, em visita ao Congresso americano, o governante grego fez um pronunciamento para que os Estados Unidos evitem uma nova fonte de instabilidade na OTAN. Sobre o bloco militar do Atlântico Norte, Tayyip Erdogan voltou a reiterar que é uma segurança, não uma organização que apoia o terrorismo. De novo, a tática do presidente turco: alfinetar os Estados Unidos para negociar o fim da sanção de armas, obter mais apoio na política externa e popularidade interna.