A atual intervenção da Turquia na cidade de Afrin, no norte da Síria, contra a milícia curda YPG abalou ainda mais as já estremecidas relações entre os dois maiores exércitos da OTAN: a Turquia e os Estados Unidos, que apoiam as YPG.
Na prática, é como se dois aliados no âmbito da OTAN estivessem lutando entre si, pois as YPG foram armadas pelos americanos. No início da operação em Afrin, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou avançar até a cidade de Manbij, também controlada pelas YPG e onde soldados dos EUA estão estacionados.
Erdogan alertou que as tropas americanas lá estacionadas não deveriam se opor à operação turca. Washington respondeu que não tem planos de retirar seus soldados da cidade e enviou dois generais para visitas a Manjib.
Um deles, Paul Funk, declarou que, se forem atacadas, as forças americanas responderão de forma agressiva para se defender. A resposta de Erdogan foi imediata: "Está bem claro que aqueles que dizem 'nós vamos responder agressivamente se atacados' nunca experimentaram um tapa otomano".
Aproximação com a Rússia
Para complicar ainda mais a situação, a tensão entre os EUA e a Turquia ocorre em paralelo a uma aproximação entre Ancara e Moscou. Para irritação dos membros da OTAN, a Turquia comprou o sistema de mísseis antiaéreos S-400 justamente da Rússia, e não de um país da OTAN. A Turquia também está colaborando, ao lado do Irã, com os esforços diplomáticos russos para acabar com a guerra na Síria.
Para a operação em Afrin, Erdogan até mesmo anunciou que obteve o aval da Rússia, que controla o espaço aéreo do lado ocidental do rio Eufrates. Analistas afirmam que uma das intenções do presidente Vladimir Putin, ao dar seu aval à operação turca, era justamente estremecer ainda mais as relações da Turquia com os EUA. Afinal há tempos os turcos se queixavam do apoio americano aos curdos.
E já há tempos, também, as relações entre EUA e Turquia estão estremecidas. A acusação, velada ou mesmo explícita, de apoio de Ancara a grupos jihadistas, como a Frente al-Nusra ou o Estado Islâmico, é feita recorrentemente pelos americanos. Mas a situação piorou mesmo depois do fracassado golpe de Estado contra Erdogan, em julho de 2016. O presidente turco acusa o clérigo Fethullah Gülen de estar por detrás da tentativa de golpe. Gülen está asilado nos Estados Unidos, que se recusam a extraditá-lo.
Longe da democracia?
O golpe fracassado também piorou as relações da Turquia com outros aliados dentro da OTAN, como a Alemanha, que concederam asilo a muitos militares acusados de participar da conspiração.
Erdogan tem agido com rigor contra todos que ele acusa de participação na tentativa de golpe. Isso vale também para militares que trabalham no âmbito da OTAN. Cerca de 400 adidos militares turcos ao exterior, que ocupavam postos na Aliança Atlântica, foram afastados de suas funções e convocados de volta para a Turquia. Muitos obtiveram asilo nos países onde estavam baseados, o que irritou profundamente o governo em Ancara.
Entre os países da OTAN, cresce a preocupação com os atuais rumos da Turquia. A percepção é de que Ancara se afasta dos valores democráticos e do Estado de direito e se aproxima do autoritarismo e do fundamentalismo religioso islâmico. Ao agir assim, a Turquia estaria prejudicando a Aliança Atlântica – que se sustenta sobre valores democráticos – e sobre o princípio de que o ataque a um membro é um ataque a todos.
Parlamento holandês reconhece massacre de armênios como genocídio
O Parlamento holandês aprovou nesta quinta-feira (22/02), por 142 votos contra três, uma resolução reconhecendo como genocídio o massacre de até 1,5 milhão de armênios em 1915 pelo Império Otomano, Estado antecessor da atual República da Turquia.
A moção, que passou com o apoio de todos os principais partidos, ameaça comprometer ainda mais as relações diplomáticas entre Haia e Ancara, dois aliados no âmbito da Otan. Estas são tensas desde que, em março de 2017, a Holanda proibiu um ministro turco de fazer campanha em seu território pelo referendo constitucional que favoreceu a presidência de Recep Tayyip Erdogan.
Uma segunda moção aprovada nesta quinta-feira pede o envio de um alto funcionário do governo holandês à cerimônia formal em memória das vítimas do massacre, em 24 de abril, na capital da Armênia, Yerevan. Em ocasiões anteriores, o embaixador representara a Holanda.
A ministra do Exterior da Holanda, Sigrid Kaag, confirmou que um representante oficial será enviado, mas ressaltou: "É um sinal de respeito pelas vítimas", e não de que Haia reconheça a matança dos armênios como genocídio. Ela afirmou que o governo não vai seguir a posição do Parlamento.
Ela insistiu, ainda, que a decisão do Parlamento nada tem que ver com as atuais tensões com Ancara. "Essa questão não deve ser politizada", afirmou.
Diversos países e instituições internacionais já aprovaram resoluções semelhantes, entre os quais a Organização das Nações Unidas, a Igreja Católica, Brasil, o Parlamento e o Conselho Europeus, assim como Alemanha, Brasil, Bulgária, França, Itália, Rússia e Venezuela.
O termo "genocídio" foi definido pela ONU em 1948 como atos cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. A Turquia nega que a perseguição e matança sistemática dos armênios, no auge da Primeira Guerra Mundial, constitua tal crime.
Também a cifra de 1,5 milhão de vítimas é questionada. Na impossibilidade de uma contabilização concreta das mortes, ela se baseia no fato de que antes da Primeira Guerra cerca de 2 milhões de armênios viviam no território do Império Otomano, e em 1922 seu número não chegava a 400 mil.
Ani, cidade-fantasma e patrimônio armênio |
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Entrada proibidaDebruçada sobre o rio Akhurian na província turca de Kars, a cidade armênia de Ani se localizava entre várias rotas comerciais leste-oeste. Construída no século 17, Ani agora tem vista para a fronteira turco-armênia. A placa alerta que a entrada na área é proibida. |
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Cavalos selvagensEm seu apogeu, a cidade chegou a ter uma população de 100 mil habitantes. Agora, desabitada e abandonada por quase 300 anos, terremotos abrindo fendas ao longo da fronteira com a Armênia, o vandalismo e a mínima preservação fizeram com que os edifícios, palácios e fortificações de Ani desabassem lentamente. |
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Reino perdidoEntre 961 e 1045, Ani foi capital do reino armênio dos Bagrátidas. A cidade era famosa por sua grandeza e glória. A capital desse reino único, que englobava a atual Armênia e o leste da Turquia, é considerada pelos armênios como parte essencial de seu patrimônio e identidade nacionais. |
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Porta do LeãoA Porta do Leão era provavelmente a entrada principal da cidade. A rua atravessa o centro até a cidadela. Em 1996, grandes partes do muro, torre e da porta foram seriamente danificadas durante a reconstrução. |
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Rua principalA rua principal de Ani partia da Porta do Leão em direção à fortaleza da cidade. A estrada foi escavada antes da Primeira Guerra Mundial, revelando um antigo sistema de tubulação de água que percorria o subsolo da cidade. |
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Cidade das 1.001 igrejasAni já foi chamada "Cidade de 1.001 igrejas". A Igreja de São Gregório foi construída por volta do século 10. Ela se localizava na extremidade da planície elevada com vista para o vale e para o rio. |
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Danos recentesO interior da Igreja de São Gregório está recoberto de afrescos da mesma época que o edifício. Nos últimos anos, eles foram danificados por grafiteiros. |
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Sob vigilânciaNo extremo sul da cidade localiza-se a catedral, construída no ano 1001. É o maior e mais imponente edifício no local. No fundo, vê-se uma torre de vigilância russa que garante segurança para a Armênia ao longo da fronteira com a Turquia. |
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A igreja do mercadorEncomendada por um rico comerciante chamado Tigran Honents, a Igreja de São Gregório de Tigran Honents foi concluída em 1215. |
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Paredes iluminadas
A Igreja de São Gregório de Tigran Honents é inteiramente coberta por afrescos com dois temas principais: a vida de Cristo e a vida de São Gregório, o Iluminador, santo padroeiro da Armênia. |
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Terra de pastagem
O gado pasta perto da mesquita de Minuchihr, que está situada entre a cidadela e a catedral. Acredita-se que a mesquita tenha sido construída pelo emir Minuchihr, o primeiro da dinastia Shaddadida, que governou Ani a partir de 1072. |