A Turquia atacará o regime sírio em todo país, caso suas posições militares, estacionadas na província de Idlib (noroeste), sejam novamente atacadas – ameaçou o presidente Recep Tayyip Erdogan nesta quarta-feira (12).
O chefe de Estado turco também acusou a Rússia de cometer "massacres" de civis na Síria.
"Quero dizer que atacaremos o regime em todo país, em caso de novos ataques", disse Erdogan.
"O regime e as forças russas que o apoiam atacam os civis sem descanso e cometem massacres", completou.
A Rússia já reagiu e acusou a Turquia de não "neutralizar os terroristas" em Idlib.
Desde o início de fevereiro, 14 soldados turcos morreram, e 45 ficaram feridos em ataques do governo na região de Idlib, último bastião rebelde na Síria. Nesta zona, a Turquia tem vários postos de observação em virtude de acordos firmados com a Rússia.
Os bombardeios do regime sírio, apoiados por Moscou, aumentaram nas últimas semanas em Idlib, o que permitiu a Damasco reconquistar várias zonas da província.
"Os aviões que bombardeiam a população civil em Idlib não podem mais realizar as ações tranquilamente como antes", afirmou Erdogan, sem especificar os meios que serão empregados com esse objetivo, ou se os aviões russos também serão um alvo.
A Turquia, que apoia os grupos rebeldes, enviou nos últimos dias importantes reforços e tanques para o noroeste da Síria para mobilizá-los para novas posições militares.
Desde o início de dezembro, os combates nas províncias vizinhas de Idlib e Aleppo provocaram o deslocamento forçado de 690.000 pessoas, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
Ancara teme que a ofensiva de Damasco provoque uma nova onda migratória para a Turquia.
Também nesta quarta, o presidente russo, Vladimir Putin, e seu colega turco manifestaram o desejo de manter e aplicar os acordos de distensão na Síria, durante uma conversa por telefone, segundo um comunicado do Kremlin.
Ambos os presidentes "destacaram a importância da plena aplicação dos acordos russo-turcos", segundo o Kremlin, referindo-se, sobretudo, à zona desmilitarizada criada na região de Idlib, onde as forças turcas e sírias se enfrentaram nos últimos dias.
Putin e Erdogan discutiram "diversos aspectos da solução da crise síria, em primeiro lugar, sobretudo, no contexto de um conflito na zona de distensão em Idlib", diz o comunicado, informando que a conversa foi iniciativa de Ancara.
Desde o começo deste mês, explodiram na província de Idlib confrontos letais sem precedentes entre forças do regime sírio e militares turcos.
Damasco afirma sua vontade de continuar seu avanço para recuperar a última região que escapa a seu controle e onde lançou uma ofensiva com a ajuda dos ataques aéreos de seu aliado russo.
Para evitar uma escalada, Ancara intensifica os contatos com Moscou, principal aliado de Damasco, com o qual concluiu um acordo para uma "zona desmilitarizada" sob controle russo-turco nessa região.
Metade da província de Idlib e setores próximos nas regiões de Aleppo, Hama e Latakia, controlados pelos extremistas do Hayat Tahrir al-Sham (HTS, ex-braço sírio da Al-Qaeda), compõem o último bastião rebelde que escapa ao poder de Damasco.
Mais de 3,5 milhões de sírios encontraram abrigo na Turquia desde 2011, quando começou o conflito sírio. Até o momento, o número de mortos chega a 380 mil.
Helicóptero do Exército sírio é derrubado; Turquia sobe tom contra regime
Ancara lançou um alerta nesta terça-feira (11) ao regime sírio, depois que cinco de seus soldados morreram no noroeste da Síria, onde dois pilotos do regime perderam a vida quando seu helicóptero foi derrubado por um foguete, atribuído às forças turcas.
As ameaças da Turquia, que apoia os grupos rebeldes e conta com tropas militares na região, coincidiram com o avanço das forças sírias pró-governo, que tomaram controle do último trecho de uma rodovia crucial, que liga Damasco a Aleppo.
Nesse contexto de alta tensão, marcado por uma grande crise humanitária – segundo a ONU -, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan se mostrou intransigente nesta terça-feira e disse que o regime sírio pagaria "muito caro" qualquer ataque contra as forças turcas.
De manhã, um helicóptero do Exército sírio foi abatido por um foguete disparado por forças turcas perto da cidade de Qaminas, a sudeste da cidade de Idlib, capital da província com o mesmo nome, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), que afirmou que os dois pilotos haviam morrido. Ancara mencionou um "acidente de avião" sem reivindicar qualquer responsabilidade.
A agência de imprensa oficial síria, Sana, citando uma fonte militar, disse que "o avião foi atingido por um míssil hostil na região de Al Nayrab, no sul de Idlib, o que levou à queda do dispositivo e à morte de sua tripulação".
Depois disso, forças do regime bombardearam áreas perto de um posto de observação turco na mesma cidade.
Pelo menos três pessoas morreram nesses atentados, informou o Observatório, que no entanto não sabia especificar se eram soldados turcos ou combatentes rebeldes aliados.
No nível humanitário, quase 700.000 pessoas fugiram da ofensiva militar lançada em dezembro pelo regime e seu aliado Rússia na região de Idlib. Esta é a onda mais significativa de pessoas deslocadas em nove anos de guerra, informou a ONU na terça-feira.
– "Responder às agressões" –
A Turquia, que tem 12 postos de observação no noroeste da Síria, enviou reforços para a área nos últimos dias.
Já o Exército sírio reafirmou na terça-feira sua determinação em "responder às agressões do Exército turco".
Já o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, manifestou nesta terça-feira seu apoio à Turquia e disse, em um tuíte, que "as agressões em andamento do regime de Assad e da Rússia devem terminar".
Além disso, ele anunciou que o enviado especial dos EUA para a Síria, James Jeffrey, visitaria a Turquia "para coordenar as medidas de resposta".
Esse chegou nesta terça à noite, para as reuniões agendadas para a quarta-feira. Ao chegar no país, Jeffrey declarou aos jornalistas que Washington gostaria de apoiar a Turquia "em tudo o que for possível".
Ancara ainda está em contato com Moscou, o principal aliado do regime de Bashar al-Assad, com quem fechou um acordo para estabelecer uma "zona desmilitarizada" sob o controle da Rússia e da Turquia em Idlib, que, na prática, não deu em nada.
No terreno, e pela primeira vez desde 2012, as forças do regime retomaram o controle total da rodovia M5, que liga o sul do país a Aleppo, no norte, passando por Damasco.
Desde que a ofensiva do regime começou no noroeste, em dezembro, 350 civis morreram, segundo o OSDH, que possui uma vasta rede de informantes no país.
– Operação humanitária –
Metade da província de Idlib e setores vizinhos nas regiões de Aleppo, Hama e Latakia, controlados pelos jihadistas de Hayat Tahrir al-Sham (HTS, ex-Al Qaeda síria), constituem a última fortaleza rebelde que escapa ao poder da Damasco.
Diante do êxodo de civis, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários anunciou uma "enorme operação humanitária" com a remessa, em fevereiro, de mais de 230 caminhões com comida através de dois pontos de passagem na fronteira turca, para servir 400.000 pessoas.
A maioria dos civis fugiu para o norte de Idlib, perto da fronteira com a Turquia, que Ancara fechou com medo de uma nova onda de migrantes.
Mais de 3,5 milhões de sírios encontraram refúgio na Turquia desde 2011, quando começou o conflito sírio, que já deixou mais de 380.000 mortos.