A Alemanha voltou a ser alvo de duras críticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta terça-feira (30/05). O magnata manifestou no Twitter sua insatisfação em relação aos temas comércio e defesa, horas depois de a chanceler federal alemã, Angela Merkel, indicar que os laços entre ambos os países mudaram.
Trump reclamou do déficit comercial americano com o país europeu e do que considera uma baixa contribuição financeira por parte dos alemães à OTAN.
"Temos um ENORME déficit comercial com a Alemanha, e eles pagam MUITO MENOS do que deveriam à OTAN e à forças armadas", escreveu Trump na plataforma online. "Muito ruim para os EUA. Isso vai mudar", prometeu.
As declarações de Trump prometem abalar ainda mais as relações entre os dois países e sugerem uma resposta aos recentes comentários de Merkel sobre o governo de Trump e as possíveis implicações para a aliança transatlântica.
No último domingo, ao fim da primeira viagem internacional de Trump como presidente, a chanceler federal alemã alertou para o fato de que EUA e Reino Unido já não podem ser considerados parceiros completamente confiáveis.
Na segunda-feira, foi a vez do vice-chanceler federal e ministro do Exterior alemão, Sigmar Gabriel, chamar as medidas do presidente americano de políticas "míopes", que "enfraqueceram o Ocidente" e prejudicam interesses europeus.
Na cúpula do G7 encerrada no último fim de semana, na Itália, Trump rejeitou a pressão dos demais membros do grupo para se comprometer com o Acordo do Clima de Paris e repreendeu 23 dos 28 integrantes da OTAN por "ainda não pagarem o que deveriam" para financiar a aliança.
Dias antes, na Arábia Saudita, Trump fechou um acordo sobre venda de armamentos no valor de 110 bilhões de dólares pela próxima década, que inclui navios, tanques e sistemas antimísseis.
Gabriel disse na segunda-feira que "qualquer um que acelere as mudanças climáticas ao enfraquecer a proteção ambiental, que venda mais armas para zonas de conflito e que não queira resolver conflitos religiosos politicamente está pondo em risco a paz na Europa".
Nesta terça-feira, Merkel reiterou sua visão de que a Europa deve "tomar seu destino nas próprias mãos". No entanto, dois dias depois de sua declaração polêmica em relação aos EUA, ela salientou a "extrema importância" da aliança para a Alemanha.
Merkel defende Europa mais proativa
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, salientou nesta terça-feira (30/05) a importância das relações transatlânticas para o país, mas enfatizou a necessidade de a Europa assumir um papel mais proativo na política internacional.
As afirmações foram feitas após encontro com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que está em Berlim para a quarta edição da bienal de Consultas Intergovernamentais (IGC) sobre comércio, investimento e relações estratégicas.
Dois dias depois de uma declaração polêmica que levantou dúvidas sobre o futuro das relações transatlânticas, Merkel tratou de salientar a "extrema importância" da aliança para a Alemanha.
Em uma coletiva de imprensa ao lado do premiê indiano, Merkel afirmou que "diferenças em questões individuais" não devem prevalecer em um ponto que, historicamente, continuará sendo de "uma grande importância" para os alemães
A chefe do governo alemão ressaltou, no entanto, que isso não deve alterar o fato de que a Europa deva também "sozinha tomar seu destino em suas próprias mãos". "A Europa deve ser um ator que também se envolve internacionalmente", disse ela a respeito de uma resolução do conflito na Líbia.
Durante a coletiva, Merkel também elogiou Modi pela implantação "intensa e engajada" na Índia do acordo de Paris sobre as alterações climáticas. Os dois líderes discutiram ainda negociações comerciais entre a Índia e a União Europeia, paralisadas em 2013, e assinaram acordos que abrangem desde terrorismo até segurança ferroviária.
A Alemanha é o maior parceiro comercial da Índia na UE, com comércio bilateral avaliado em quase 20 bilhões de dólares, quase dois terços dos quais representam as exportações alemãs para a Índia. A Alemanha é também um dos maiores contribuintes do investimento estrangeiro na Índia.
"Nós intensificamos nossos relacionamentos bilaterais em uma variedade de áreas", disse Merkel ao final do encontro, "mas eu também conversei com o primeiro-ministro ontem à noite sobre a formação da ordem global".
"Conversamos detalhadamente sobre todos os tópicos a nível ministerial", acrescentou Modi, que chegou a Berlim na segunda-feira à noite. "A parceria é vantajosa para ambos os países, mas acho que nossa relação também tem grande significado internacionalmente".
Na quarta-feira, Merkel deverá receber o premiê chinês Li Keqiang.