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Tropas russas deixarão Cazaquistão após fim da missão, diz Putin

O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou nesta segunda-feira (10) que o Cazaquistão foi alvo do "terrorismo internacional" e anunciou que as forças russas e seus aliados destacados para ajudar o governo do país vizinho partirão após o fim de sua missão.

"Assim que o contingente tiver cumprido suas funções, ele vai-se retirar do território do Cazaquistão", disse Putin em uma reunião por videoconferência com seus aliados, incluindo o presidente do Cazaquistão, Kassym Jomart Tokayev.

No encontro, advertiu que Moscou não vai tolerar "revoluções coloridas" na ex-União Soviética, expressão usada pelo Kremlin para descrever revoltas, no seu entender, orquestradas pelo Ocidente na região. Antes da intervenção de Putin, o presidente Tokayev declarou que a retirada dessas forças ocorrerá "em breve".

Liderados pela Rússia, cerca de 2.030 militares da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) foram enviados para o Cazaquistão a pedido de Tokayev.

O presidente do Cazaquistão disse, nesta segunda, que os sangrentos distúrbios que abalaram o país foram uma "tentativa de golpe de Estado" por parte de "combatentes armados".

Ex-chefe de Inteligência do Cazaquistão é preso acusado de alta traição

O ex-chefe da agência de Inteligência do Cazaquistão foi detido por acusações de alta traição durante os distúrbios que abalaram o país, e a Rússia respondeu aos Estados Unidos pelas críticas à sua mobilização nesta ex-república soviética.

A notícia da prisão de Karim Masimov, que foi primeiro-ministro e durante muito tempo aliado do ex-presidente e fundador do país Nursultán Nazarbáyev, ocorre em meio a especulações sobre uma luta de poder no país.

O Comitê de Segurança Naiconal (KNB) anunciou em um comunicado que seu ex-diretor foi demitido na quinta-feira após o início de uma investigação por crimes de alta traição.

Masimov foi demitido de seu cargo como chefe do KNB esta semana depois que os manifestantes invadiram prédios do governo em Almaty, a capital econômica do país.

Após quase uma semana do início da crise, o Kremlin informou que o presidente russo Vladimir Putin ligou para seu homólogo cazaque Kassym Jomart Tokayev e que ambos tiveram uma "longa" conversa telefônica.

O maior país da Ásia central foi palco de protestos que começaram no último domingo nas províncias, após um aumento do preço do gás, e se espalharam para outras cidades, com distúrbios violentos em Almaty que deixaram dezenas de mortos.

Rússia critica declarações dos EUA

Diante do caos crescente, Tokayev pediu uma mobilização de efetivos da Organização do Tratado da Segurança Coletiva, liderada pela Rússia, para ajudar as forças de segurança locais.

Na conversa, os presidentes Putin e Tokayev "trocaram opiniões sobre as medidas para restaurar a ordem no Cazaquistão", disse o Kremlin neste sábado, acrescentando que ambos decidiram manter contato "permanente".

Tokayev afirma que a mobilização será temporária, mas o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, alertou na sexta-feira que o país pode ter dificuldades para conseguir a retirada dos russos.

"Uma lição da história recente é que quando os russos chegam na sua casa, às vezes é muito difícil conseguir que saiam", afirmou o chefe da diplomacia americana.

A chancelaria russa respondeu energicamente e classificou os comentários de Blinken como uma tentativa "tosca" de "brincar sobre os trágicos incidentes do Cazaquistão".

Em referência às invasões em terras indígenas americanas, na Coreia, Vietnã e outros países, a diplomacia russa disse: "Quando os americanos estão em sua casa, pode ser difícil continuar com vida, fazer com que não te roubem ou que não te agridam".

As tensões entre Rússia e os países ocidentais estão em um nível não visto desde a Guerra Fria devido aos temores de que a Rússia esteja preparando uma invasão à Ucrânia, acusação que o Kremlin nega.

As autoridades do Cazaquistão afirmaram na sexta-feira que a situação estava sob controle, mas o presidente Tokayev disse que autorizava a polícia a atirar sem aviso prévio e descartou negociar com os manifestantes.

Neste sábado, um correspondente da AFP em Almaty informou que as forças de segurança respondiam com tiros contra quem se aproximava da praça central da cidade.

Um porta-voz de Nazarbáyev negou os rumores de que o ex-presidente tenha fugido do Cazaquistão e fez um apelo para "não espalhar informações falsas".

Nazarbáyev pediu a "todos os cidadãos que se unam em torno do presidente do Cazaquistão para permitir que ele supere esta crise", informou no Twitter seu porta-voz Aidos Ukibay.

O ex-governante de 81 anos não fez nenhuma aparição pública desde o início da onda de protestos.

Parte da indignação dos manifestantes está voltada contra este ex-presidente, que ainda tem muita influência.

4.000 detidos

O presidente Tokayev prometeu "eliminar" os "bandidos" que provocaram esses distúrbios que, segundo ele, são "20.000" e tinham "um plano claro".

Segundo o ministério do Interior, 26 "criminosos armados" morreram. Por sua vez, as forças de segurança reportaram 18 mortos e 748 feridos entre seus efetivos.

Mais de 4.000 pessoas foram detidas, incluindo estrangeiros, segundo o ministério.

Neste sábado o gabinete do presidente Tokayev informou que na segunda-feira será declarado dia nacional de luto.

Os voos para Almaty foram cancelados e as autoridades informaram que o aeroporto permanecerá fechado para a aviação civil pelo menos até segunda-feira.

Na manhã deste sábado não houve indícios de novos confrontos, mas testemunhas alegam que houve disparos.

O aposentado Leonid Kiselyev, de 68 anos, afirmou que seu carro foi atingido por um tiro quando dirigia por volta das 08h30 perto de um prédio municipal.

"Ontem foi um dia tranquilo, mas isso aconteceu", lamentou Kiselyev ainda assustado, enquanto aguardava chegada de combustível em um posto de gasolina.

O ministério das Relações Exteriores de Israel informou que um cidadão deste país, de 22 anos e que morava há muitos anos no Cazaquistão, morreu após ser baleado na sexta-feira à noite.

EUA buscam respostas do Cazaquistão sobre a necessidade de tropas lideradas pela Rússia¹

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse neste domingo que Washington estava buscando respostas das autoridades do Cazaquistão sobre por que eles precisavam chamar as forças de segurança lideradas pela Rússia para resolver os distúrbios domésticos, e ele condenou a ordem do governo de atirar para matar.

"Nós temos dúvidas reais sobre por que eles se sentiram compelidos a ligar para esta organização que a Rússia domina", disse Blinken em uma entrevista na transmissão "Estado da União" da CNN, acrescentando que o Cazaquistão deve ser capaz de lidar com os protestos pacificamente. "Estamos pedindo esclarecimentos sobre isso."

As autoridades do Cazaquistão disseram neste domingo que estabilizaram a situação em todo o país após o surto de violência mais mortal em 30 anos de independência, e as tropas da aliança militar liderada pela Rússia estavam protegendo "instalações estratégicas".

A Rússia enviou tropas na semana passada e o governo do Cazaquistão autorizou o uso de força letal para conter os distúrbios.

"A ordem de atirar para matar, na medida em que existe, está errada e deve ser rescindida", disse Blinken neste domingo no programa "This Week" da ABC.

¹com Reuters
 

 

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