Daniela Fernandes
Cerca de 1,6 mil pessoas entram em contato diariamente com o serviço de recrutamento para apresentar sua candidatura. Antes dos ataques, a média era de 400, afirma o coronel Eric de Lapresle, chefe do escritório de comunicação do recrutamento do Exército. "É colossal, o fluxo de candidaturas é maciço", disse o militar à imprensa francesa.
Em 2014, a média de franceses que queriam se tornar soldado era de 100 a 150 por dia. O número saltou para 400 logo após os atentados de janeiro contra a revista satírica Charlie Hebdo e o supermercado judaico.
Os candidatos se inscrevem em um site das Forças Armadas e também apresentam candidaturas em centros de recrutamento. "É certo que o interesse pelo Exército foi impulsionado pelos atentados", disse o coronel Lapresle.
De acordo com ele, a principal motivação dos candidatos é a de querer "proteger os franceses" e não a de participar de uma guerra.
É o caso de Terry, 23 anos, agente de segurança que trabalhava no Stade de France no dia do atentado. "Quando cheguei ao local das explosões, vi restos dos corpos dos homens-bomba espalhados por todos lados", contou ao jornal Le Monde.
O jovem diz que sempre teve vontade de entrar nas Forças Armadas, mas não se sentia preparado para corresponder ao perfil. "Não estou pronto em relação aos aspectos físicos, mas os ataques da sexta me preparam psicologicamente", afirmou.
Mulheres também têm apresentado candidaturas. "Os atentados me fizeram ter consciência de que devo me alistar rapidamente. Eu quero agir e proteger a França", disse à BBC Brasil a estudante de literatura Marina Morgny, 18 anos.
Filha de um militar da Força Aérea, ela já tinha planos de entrar nas Forças Armadas, mas sem data prevista. Os atentados em Paris aceleraram seu projeto. Ela diz se sentir envolvida na tragédia e considera o alistamento "um dever patriótico". "A França precisa de nós. Visaram a juventude, que é o futuro da França, mas vamos acabar com eles", diz a estudante.
No próximo mês, Marina deve ser convocada ao Centro de Informação e de Recrutamento de Lyon. Ela afirma que já começou a praticar atividades esportivas para se preparar para os testes físicos.
O perfil dos franceses que querem se alistar é diferente do normal – de jovens entre 17 e 29 anos. Após os atentados da semana passada, pessoas com mais de 40 anos têm procurado os centros de recrutamento. Mas a idade limite é de 35 anos.
A Defesa francesa havia anunciado, em 2013, o corte de 34 mil postos até 2019 como parte das medidas de redução do orçamento para equilibrar as contas públicas.No entanto, o presidente da França, François Hollande, anunciou na semana passada que não haverá nenhum corte nas forças da Defesa até 2019.
A Defesa francesa prevê recrutar 15 mil pessoas neste ano e 16 mil em 2016. Eles são selecionados após uma série de testes médicos, psicológicos, de desempenho físico e raciocínio.
Após os últimos atentados, o número de soldados que patrulha a França, na chamada operação Sentinelle (lançada após os ataques de janeiro), passou de 7 mil para 10 mil, sendo 6 mil homens apenas em Paris e seus arredores, segundo o ministério da Defesa.