John Bellinger, assessor legal da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, advertiu hoje que as alegações sobre vôos ilegais da CIA na Europa "prejudicam a cooperação entre os Estados Unidos e a Europa" no âmbito antiterrorista.
Em reunião com a imprensa, Bellinger disse que "as alegações de que houve um grande número de vôos com detidos a bordo e, ainda pior, destinados a serem torturados, são simplesmente absurdas, e a sugestão de que estes vôos são ilegais é perigosa (…), porque prejudica a cooperação entre os EUA e a Europa".
O assessor legal americano reconheceu que em "raras ocasiões" depois dos atentados de 11 de setembro, em Washington, tinha transferido suspeitos de terrorismo de um país a outro para evitar que escapassem da Justiça, mas não com o propósito de que fossem torturados.
A comissão do Parlamento Europeu que investiga as atividades da CIA na Europa concluiu na semana passada que a agência americana tinha realizado mais de 1.000 vôos clandestinos na Europa, além de ter atuado em seqüestros de suspeitos para que fossem interrogados em outros países.
Segundo Bellinger, a última alegação sobre uma destas transferências data de 2003.
A maioria dos vôos operados pela CIA normalmente leva analistas ou provas judiciais de um país para outro, como parte da troca de informações entre Governos, disse.
"É possível que, no futuro, os EUA sejam reticentes em enviar analistas à Europa ou compartilhar informações se for sugerido que cada vôo está envolvido em atividades ilegais", advertiu. Bellinger ainda disse estar convencido de que a cooperação neste âmbito evitou atentados terroristas.
O assessor legal disse também que os EUA estão cumprindo as obrigações internacionais e respeitam a soberania de seus parceiros europeus.
"Não confirmamos os vôos dos serviços de inteligência em público, mas realizamos conversas regulares com os Governos", explicou.
Bellinger pediu que os Governos europeus "serenem os ânimos" neste caso, expliquem que "não há provas" de atividades ilegais e que estes vôos são "uma manifestação de cooperação" antiterrorista.
O assessor de Rice disse estar consciente de que a imagem dos EUA foi prejudicada pela decisão de Washington de não publicar detalhes sobre as atividades da CIA, a fim de não prevenir os terroristas sobre os procedimentos da agência.
"As atividades de informação são feitas em segredo", disse.
Bellinger se comprometeu hoje a se reunir em Washington com os membros do comitê do Parlamento Europeu que investiga os vôos da CIA, mas disse que "há limitações sobre o que pode dizer" aos parlamentares.
Washington também está consciente das preocupações européias em torno da base americana de Guantánamo, em Cuba, onde estão detidos supostos membros da organização terrorista Al Qaeda e do Talibã, acrescentou, em resposta a uma pergunta.
Os EUA não querem manter esse centro de detenção aberto "mais que o necessário", porque não pretende ser "o carcereiro do mundo", disse Bellinger, que criticou os Estados que pedem seu fechamento e não oferecem uma alternativa em troca.