Um cientista iraniano que há muito tempo o Ocidente suspeita ser o mentor de um programa secreto para uma bomba nuclear foi morto em uma emboscada perto de Teerã nesta sexta-feira, o que deve provocar um choque entre o Irã e seus inimigos nas últimas semanas da Presidência do norte-americano Donald Trump.
O conselheiro militar do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, prometeu retaliar os assassinos de Mohsen Fakhrizadeh, que morreu devido aos ferimentos em um hospital depois de assassinos armados dispararem contra seu carro, noticiou a mídia estatal.
“Atacaremos como um trovão os assassinos deste mártir oprimido e os faremos se arrependerem de sua ação”, tuitou Hossein Dehghan, que também é comandante militar.
Há tempos países ocidentais descreviam Fakhrizadeh como um líder de um programa sigiloso para construir a bomba atômica, que foi interrompido em 2003 e que Israel e os Estados Unidos acusam Teerã de tentar reativar em segredo. O Irã vem negando há tempos que almeja usar energia nuclear em armas.
“Infelizmente, a equipe médica não teve sucesso em reviver (Fakhrizadeh) e, poucos minutos atrás, esse administrador e cientista alcançou o alto status de martírio após anos de esforço e luta”, disseram as Forças Armadas do Irã em um comunicado divulgado pela mídia estatal.
A agência de notícias semioficial Tasnim disse que “terroristas explodiram outro carro” antes de atirar contra um veículo que transportava Fakhrizadeh e seus guarda-costas em uma emboscada fora da capital.
O ministro das Relações Exteriores do Irã disse que o Israel, arqui-inimigo do Irã, provavelmente esteve envolvido no assassinato de Fakhrizadeh nesta sexta, embora não tenha apresentado nenhuma evidência.
“Essa covardia –com sérios indícios do papel israelense – mostra uma provocação desesperada para uma guerra pelos perpetradores”, tuitou Mohammad Javad Zarif. “O Irã apela à comunidade internacional –e especialmente à UE– para acabar com seus vergonhosos padrões duplos e condenar este ato de terrorismo de Estado.”
Seja quem for o responsável pelo ataque, ele certamente elevará a tensão entre o Irã e os EUA no final do governo Trump.
Trump, que fracassou em sua tentativa de se reeleger em 3 de novembro e deixa o cargo no dia 20 de janeiro, acusou o Irã diversas vezes de buscar armas nucleares em segredo. Ele retirou os EUA de um acordo pelo qual sanções impostas ao Irã foram suspensas em troca de limites ao seu programa nuclear. O presidente eleito, Joe Biden, disse que irá restaurá-lo.
Uma autoridade norte-americana disse no início deste mês que Trump pediu a assessores militares um plano para um possível ataque ao Irã, mas que decidiu não levá-lo a cabo na ocasião.
Acredita-se que Fakhrizadeh encabeçou o que o órgão de vigilância nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU) e os serviços de inteligência dos EUA acreditam ser um programa coordenado de armas nucleares no Irã, suspenso em 2003.
Ele era o único cientista iraniano mencionado na “avaliação final” de 2015 da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) relacionada a questões em aberto sobre o programa nuclear do Irã.
Em uma apresentação de 2018, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acusou o Irã de continuar buscando armas nucleares nas quais Fakhrizadeh ainda trabalhava dentro dos “projetos especiais” do Ministério da Defesa.
“Lembrem-se deste nome, Fakhrizadeh”, disse Netanyahu à época.
Nesta sexta-feira, antes da notícia sobre o ataque a Fakhrizadeh vir à tona, uma autoridade israelense disse que seu país está debatendo com Estados do Golfo Pérsico como lidar com o Irã.
“A história não é Trump, nem mesmo Israel. A história é o Irã –o temor crescente de que um novo governo dos EUA volte ao acordo nuclear que ameaça a própria existência dos países do Golfo”, disse Tzachi Hanegbi, integrante do gabinete de segurança de Netanyahu, à rádio 102 FM de Tel Aviv. “Saberemos como tratar da questão da ameaça iraniana, ainda que pelos nossos próprios meios.”