11 Abril 2021
DUBAI – Um incidente elétrico na instalação nuclear de Natanz, no Irã, neste domingo foi causado por um ato de "terrorismo nuclear", disse o chefe nuclear do país, Ali Akbar Salehi, acrescentando que Teerã se reserva o direito de tomar medidas contra quem tiver cometido a ação.
Ali Akbar Salehi, chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, não chegou a culpar ninguém pelo incidente, que, segundo ele, não deixou vítimas nem provocou contaminação. Ainda são poucos os detalhes sobre o que aconteceu na manhã de domingo na usina. Inicialmente, falou-se em um blecaute em larga escala causado por uma pane na rede elétrica que alimenta o local.
O apagão ocorreu horas depois de funcionários do reator de Natanz reiniciarem a rotação de centrífugas avançadas que poderiam acelerar a produção de urânio enriquecido do país, no que era considerado um momento crucial no programa nuclear do país.
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Autoridades de Israel deram a entender que estão por trás de um ataque cibernético à usina. O chefe da defesa israelense, Aviv Kochavi, disse que as operações do país “no Oriente Médio não são feitas de modo oculto aos olhos do inimigo ”.
Muitos meios de comunicação israelenses, citando fontes não identificadas, informaram que um ataque cibernético interrompeu o fornecimento de energia em Natanz e danificou uma instalação que abriga centrífugas sensíveis. A rádio israelense Kan Radio, citando fontes de inteligência, disse que os danos foram mais extensos do que os relatados oficialmente por Teerã.
O governo de Israel não impôs censura ou restrições na cobertura do episódio, o que costuma acontecer em situações do tipo.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não fez nenhuma referência direta a Natanz, mas afirmou a repórteres:
— A luta contra a nuclearização do Irã é uma tarefa gigantesca.
O apagão mal explicado é considerado um acirramento das tensões entre os dois inimigos, que há muito tempo travam uma disputa com ações geralmente secretas.
A usina atômica, localizada no deserto na província central de Isfahan, ao sul de Teerã, é a peça central do programa de enriquecimento de urânio do Irã e é monitorada por inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica, o cão de guarda nuclear da ONU.
Teerã diz que seu programa nuclear tem fins puramente pacíficos.
Negociações e ataques
O incidente nas instalações de Natanz ocorre em meio aos esforços de Teerã e Washington para reviver o acordo nuclear do Irã com as grandes potências de 2015, depois que o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o abandonou três anos atrás.
Trump reimpôs sanções que haviam sido suspensas sob o acordo e criou muitas outras. Em retaliação, o Irã retomou uma série de atividades que prometera abandonar.
Nesta semana, começou em Viena a renegociação indireta do acordo. Segundo pessoas presentes nas conversas, o saldo da primeira semana de conversas foi positivo, embora ambos os lados tenham adotado posições duras.
O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, chegou neste domingo a Israel, na primeira visita de um alto representante do governo de Joe Biden ao país. A posição do democrata sobre o Irã, de costurar um acordo mais abrangente e estável do que o assinado em 2015, preocupa Netanyahu.
Segundo John Ghazvinian, diretor do Centro para o Oriente Médio da Universidade da Pensilvânia, o objetivo israelense não é militar, mas sim "atrasar a diplomacia".
"Da perspectiva de Israel, esses atos são uma jogada brilhante porque colocam os EUA em uma posição impossível. Se a equipe de Biden os condenar, será defenestrado internamente por criticar Israel. Por outro lado, se a equipe de Biden não disser nada, dá a impressão de que os EUA toleram (ou até mesmo foram cúmplices) o ataque. Isso, por sua vez, torna o Irã mais inflexível em sua posição — e mais propenso a acusar os EUA de negociar de má-fé", afirmou em uma rede social. "É uma tática engenhosa e apenas Israel pode realmente empregá-la".
Se o ciberataque a Natanz for confirmado, ele não será o primeiro ataque secreto israelense contra a usina ou contra o programa nuclear iraniano. Em julho do ano passado, ocorreu um incêndio na instalação, que o Irã disse ser uma tentativa de sabotar o programa nuclear do país.
Em 2010, descobriu-se o vírus de computador Stuxnet, desenvolvido, segundo a maioria das suspeitas existentes, pelos Estados Unidos e por Israel, foi usado para atacar Natanz, provocando estragos físicos em suas centrífugas.
No ano passado, o Irã culpou Israel pelo assassinato do físico Mohsen Fakhrizadeh, o principal cientista do programa nuclear iraniano, que Israel acusava de estar por trás de um programa secreto de armas nucleares.
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