O surto de coronavírus provocou uma onda de sentimento anti-China pelo mundo, desde lojas que impedem a entrada de turistas chineses até zombaria sobre o comércio exótico de carnes do país.
O vírus, originário da China, se espalhou para mais de uma dúzia de países, muitos deles no sudeste da Ásia, que mantêm relações sensíveis com a China devido aos gastos chineses com infraestrutura e a influência política de Pequim na região, além de disputas de soberania no Mar do Sul da China.
Mas em lugares distantes como a França, um jornal foi criticado por sua manchete “Alerta Amarelo”, ecoando termo racista ocidental “Perigo Amarelo”, usado para semear o medo da influência asiática, enquanto autoridades e escolas em Toronto, no Canadá, alertaram contra a discriminação em relação a canadenses de origem chinesa.
“Pressupostos orientalistas, desconfiança política e preocupações com a saúde são uma combinação bastante poderosa”, disse Charlotte Setijadi, antropóloga e professora da Universidade de Administração de Cingapura.
Autoridades chinesas disseram que o vírus surgiu de um mercado que vendia animais silvestres comercializados ilegalmente, dando origem a escárnio generalizado pelas mídias sociais sobre a demanda da China por iguarias e ingredientes exóticos para a medicina tradicional.
“Pare de comer morcegos”, disse um usuário do Twitter na Tailândia, o principal destino dos turistas chineses. “Não surpreende que os chineses estejam causando novas doenças”, postou outro usuário tailandês ao lado de um videoclipe que mostrava um homem comendo carne crua.
O Ministério das Relações Exteriores da China não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. A China disse que o surto de vírus não deve ser politizado.
“Como seu país está começando a espalhar doenças… não aceitamos servir hóspedes da China”, dizia uma placa em inglês do lado de fora do hotel Danang Riverside, na cidade vietnamita de mesmo nome. As autoridades disseram mais tarde ao hotel para remover a placa, disse seu gerente em um post no Facebook.
O Vietnã, que esteve sob ocupação chinesa séculos atrás e contesta as amplas reivindicações marítimas de Pequim no Mar do Sul da China, tem relações particularmente difíceis com a China, mas não está sozinho na região.
Mais de 60% dos participantes de uma pesquisa com autoridades do sudeste asiático, acadêmicos e outros profissionais disseram em uma sondagem este mês que desconfiavam da China. Quase 40% afirmaram considerar a China “um poder revisionista e com pretensão de transformar o Sudeste Asiático em sua esfera de influência”. A pesquisa não mencionou o vírus.