O Senado dos Estados Unidos aprovou nesta terça-feira (17/12) a imposição de sanções contra empresas que atuam na construção do polêmico gasoduto russo Nord Stream 2, uma imensa rede de dutos submarinos que vem sendo instalada no fundo do Mar Báltico. As sanções já haviam sido aprovadas pela Câmara de Representantes americana no dia 12 de dezembro.
A medida tem como objetivo paralisar as obras – que já estão 80% concluídas – e deve provocar atritos entre os EUA e vários países europeus, em especial a Alemanha. Berlim é uma das principais promotoras do projeto, que prevê dobrar a capacidade de importação de gás russo pela nação europeia sem a necessidade de que o combustível passe por nações que mantêm relações tensas com Moscou, como a Ucrânia e a Polônia.
O projeto é na verdade uma ampliação da capacidade do sistema Nord Stream 1, que funciona desde 2011, e que liga a cidade russa Ust-Luga a Greifswald, no leste alemão. As obras do Nord Stream 2, lideradas pela estatal russa Gazprom, são avaliadas em 10,5 bilhões de dólares (43 bilhões de reais).
As sanções passaram no Senado americano por 86 votos a 8. Nos últimos anos, Washington vem fazendo pressão contra o projeto, argumentando que ele vai aumentar a dependência europeia em relação à Rússia e enfraquecer nações aliadas no leste da Europa, que dependem das taxas de trânsito sobre gás russo que passa por dutos instalados em seus territórios.
Além disso, Moscou poderá fornecer mais gás diretamente a seu principal comprador, a Alemanha, o que levanta o temor de que os russos terão mais facilidade para eventualmente pressionar outras nações que ficam na rota dos velhos gasodutos de superfície, podendo trancar os dutos, se quiserem.
No entanto, críticos da posição dos EUA apontam que a real intenção de Washington é vender mais gás natural liquefeito americano para os europeus.
As sanções previstas pelo Senado americano preveem que o governo dos EUA terá 60 dias para identificar empresas e indivíduos associados à construção do gasoduto. Entre as medidas que podem ser impostas estão a proibição de entrada nos EUA e bloqueio de bens e valores em solo americano. O grupo suíço Allseas, contratado pela Gazprom para instalar os dutos do Nord Stream 2, deve ser a empresa mais afetada pelas medidas.
Na semana passada, quando as sanções foram aprovadas pela Câmara dos Representantes dos EUA, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski., que busca conter a influência russa em seu país, declarou que seu governo expressou "gratidão" pela ação dos deputados americanos. Zelenski argumenta que o Nord Stream 2 deve privar seu país empobrecido de pelo menos 2 bilhões de dólares anuais em taxas de trânsito.
Berlim, no entanto, reagiu com irritação. O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, denunciou a estratégia americana como "interferência estrangeira". "Decisões sobre a política energética europeia devem ser tomadas pela Europa", disse Maas na semana passada. "Nós rejeitamos a interferência e, por uma questão de princípio, sanções extraterritoriais".
Já a Câmara de Comércio Russo-Alemã declarou que o Nord Stream 2 é importante para a segurança energética da Europa e pediu que os países interessados na conclusão da obra retaliem os EUA com outras sanções, que podem mirar importações de gás natural liquefeito (GNL) americano.
O Nord Stream 2 se tornou ainda mais estratégico para a Alemanha após Berlim estabelecer um abandono gradual da energia nuclear no país e estabelecer metas para a redução de emissões de CO2 e consumo de carvão. O gás natural produz 50% menos dióxido de carbono do que o carvão.
O gasoduto de 1.200 quilômetros de extensão deve permitir que o país dobre efetivamente o volume de gás natural que importa da Rússia. Em 2017, Berlim comprou um recorde de 53 bilhões de metros cúbicos do combustível russo, cerca de 40% de seu consumo total. O sistema Nord Stream 2 é projetado para transportar até 55 bilhões de metros cúbicos por ano.