Fernando Eichenberg
Osama bin Laden morreu, anunciou o presidente Barack Obama, na noite de domingo. Mas nem os americanos nem o mundo verão imagens, em fotos ou vídeos, de seu cadáver. Em conversas com seus principais assessores, Obama decidiu não divulgar as reivindicadas imagens do líder da al-Qaeda — morto numa operação no Paquistão — pelo temor de que possam servir como propaganda extremista e por considerar que representariam um “risco à segurança” dos EUA. A decisão presidencial recebeu críticas e apoio de parlamentares, mas foi reprovada pela maioria da população. Segundo uma pesquisa feita pela CNN, 56% dos entrevistados se manifestaram a favor da divulgação das fotos, e 39% se disseram contra.
— Os riscos da divulgação superam os benefícios. Há um risco real de que a divulgação das fotos sirva apenas para inflamar a opinião pública do Oriente Médio. Uma foto não vai fazer diferença para provar que ele morreu. Alguns sempre vão duvidar, mas o fato é que Osama bin Laden não andará pela Terra novamente — justificou Obama, em entrevista ao programa “60 Minutos”, da rede CBS.
‘Bin Laden não é um troféu’, diz Obama
De acordo com os relatos oficiais americanos, Bin Laden recebeu dois tiros à queima-roupa ao resistir ao ataque, um na cabeça e outro no peito. Segundo a CBS, que diz ter tido acesso às imagens — classificadas como “horrendas e potencialmente incendiárias” pelo governo americano — a foto do corpo mostraria Bin Laden com um grave ferimento na cabeça e com perda de massa encefálica.
— É importante assegurarmos que imagens muito dramáticas de alguém que recebeu um tiro na cabeça não fiquem circulando como incitação a mais violência e como ferramenta de propaganda. Não somos assim. Osama bin Laden não é um troféu — defendeu Obama.
A decisão de não divulgar as imagens foi discutida em conjunto com os secretários de Defesa, Robert Gates, e de Estado, Hillary Clinton, e com assessores de inteligência e de segurança nacional da Casa Branca.
— Nós discutimos isso internamente. Todos concordaram. Tenham em mente que nós estamos absolutamente certos de que era ele. Nós fizemos testes de DNA. Então, não há dúvida de que nós matamos Osama bin Laden — garantiu o presidente.
O senador republicano Lindsey Graham definiu a opção de Obama como “um erro”:
— O objetivo de enviar nossos soldados ao assalto em vez de fazer um bombardeio aéreo era obter provas indiscutíveis da morte de Bin Laden. Eu sei que Bin Laden está morto. Mas a melhor maneira de defender nossos interesses no exterior é provar esse fato para o resto do mundo. Temo que essa decisão tomada pelo presidente Obama vá prolongar desnecessariamente este debate.
O líder da maioria republicana na Câmara, John Boehner, “apoiou”, e o presidente da Comissão de Segurança Interna, Peter King, “respeitou” a decisão.
— Eu entendo a decisão do presidente e não vou me opor. Embora tenha dito que a divulgação da foto possa ser uma boa maneira de evitar previsíveis teorias de conspiração sobre a morte de Bin Laden, essa é uma decisão a ser tomada pelo presidente, e eu a respeito — disse King.
Fotos exibindo três homens mortos no esconderijo de Abbottabad foram divulgadas ontem pela agência de notícias Reuters. As imagens foram feitas por um oficial paquistanês na madrugada de segunda-feira, momentos depois do assalto do comando especial da Marinha americana.
Ontem, uma pesquisa realizada pelo “New York Times” e pela CBS mostrou que Obama continua colhendo frutos da morte de Bin Laden. Sua aprovação subiu de 46% no mês passado para 57%.
Somente nos EUA, cerca de 57 milhões de pessoas assistiram ao pronunciamento em que Obama anunciou a morte de Bin Laden, no domingo. Apesar de o número de espectadores ser menor do que o obtido pelo discurso do presidente George W. Bush logo após o impacto de dois aviões contra as Torres Gêmeas, em 2001 — visto por 82 milhões de pessoas — essa é a maior audiência televisiva de Obama até agora.
A última vez em que o atual titular da Casa Branca havia conseguido uma audiência similar, ainda que menor, foi logo depois de sua posse como presidente, quando 52 milhões de pessoas assistiram ao seu primeiro discurso numa sessão conjunta do Congresso. Os novos números reforçam análises de que a morte do líder da al-Qaeda fortaleceu a posição do presidente diante dos republicanos para as eleições de 2012.