O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, afirmou ontem em cadeia nacional que as negociações de paz entre seu governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) previstas para começar no início do próximo mês em Oslo deverão durar "meses, não anos". No discurso, o chefe de Estado pediu "paciência" ao povo de seu país, pois atentados da guerrilha poderão continuar ocorrendo durante as conversas.
Santos reforçou que as operações militares contra os guerrilheiros não cessarão e alertou para a possibilidade de possíveis "sabotagens". "Eu sei o que é a guerra", afirmou o presidente. Ao mesmo tempo, a procuradoria-geral colombiana anunciou a suspensão das ordens de prisão contra guerrilheiros designados pelas Farc como seus delegados nas negociações.
"Hoje (ontem) quero anunciar que essas reuniões exploratórias culminaram com a assinatura de um acordo entre o governo e as Farc que estabelece um procedimento, um roteiro para chegar a um acordo final que dê fim de uma vez por todas nessa violência entre filhos da mesma nação", disse Santos.
O documento "Acordo geral para o término do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura" não prevê a criação de uma zona desmilitarizada na Colômbia para a negociação de paz, como ocorreu em San Vicente del Caguán, entre 1999 e 2002, durante a fracassada tentativa de acordo entre o governo de Andrés Pastrana e as Farc. Ontem, Santos divulgou a íntegra do documento de seis pontos.
"As operações militares (do Exército) continuarão com a mesma ou maior intensidade", disse Santos. "Esse acordo não é ainda a paz nem se trata de um acordo final. É um roteiro que define com precisão os termos de discussão para chegar a esse acordo final."
"Trabalhamos com seriedade e devo reconhecer que as Farc também. Tudo o que foi acertado até agora se respeitou. Se as Farc abordarem a fase seguinte com a mesma seriedade, temos boas perspectivas", disse o presidente, que pediu "unidade para que o sonho de viver em paz se converta por fim em uma realidade".
Depois do encontro na Noruega, a negociação entre as Farc – que mantêm mais de 8 mil combatentes – e Bogotá deverá continuar em Havana, onde foi firmado o acordo preliminar. O governo colombiano também tem interesse que o Exército de Libertação Nacional (ELN), grupo guerrilheiro que conta com outros 2,5 mil membros ativos, participe da negociação de paz.
O presidente explicou que Noruega e Cuba atuam como "anfitriões e avalistas" – e Chile e Venezuela acompanharão o processo de paz.
Na capital cubana, seis integrantes das Farc convocaram uma entrevista para confirmar as conversas com o governo da Colômbia e exibir um vídeo com um comunicado de Rodrigo Lodoño, o comandante máximo da milícia, conhecido como "Timochenko".
Na solenidade, o guerrilheiro Mauricio Jaramillo – que assinou o acordo preliminar – anunciou no Palácio das Convenções de Havana "o fechamento do encontro exploratório e a instalação da mesa de negociações como parte do árduo, mas necessário, caminho da construção da paz estável e duradoura para a Colômbia".
O breve e raro encontro com a imprensa ocorreu uma hora depois do discurso do presidente colombiano. No vídeo, o líder das Farc agradece os governos de Venezuela, Noruega e Cuba por sua atuação nas conversas.
Os guerrilheiros prometeram emitir um novo comunicado em Havana amanhã.