Sergei Karpov/REUTERS
AP
A cidade russa de Volgogrado foi palco ontem do terceiro atentado terrorista no Sudoeste do país desde outubro, num acontecimento que contribui para a sensação de que está em andamento uma onda de ataques em locais próximos ao turbulento Norte do Cáucaso – onde ficam a Chechênia e o Daguestão, redutos de extremistas islâmicos e separatistas. Os atentados elevam a apreensão local e internacional quanto a um possível ataque durante os Jogos Olímpicos de inverno, que serão disputados em fevereiro justamente no Sudoeste russo, na cidade de Sochi.
Autoridades russas confirmaram que 16 pessoas morreram e outras 37 ficaram feridas, 15 delas com gravidade, após a ação de uma terrorista suicida na estação de trem de Volgogrado. Com a estação lotada devido aos feriados de fim de ano, a responsável pelo ataque detonou seus explosivos quando foi abordada por guardas diante de detectores de metais. Sua bomba trazia fragmentos de metal, procedimento comumente usado por terroristas para que o ataque seja mais letal.
De acordo com investigadores russos, a explosão foi equivalente à detonação de uma bomba com dez quilos de TNT. Rodou o mundo o vídeo feito por uma câmera de vigilância em frente à estação ferroviária, no qual é possível ver o exato momento em que um enorme clarão laranja toma a entrada do local e arrebenta os vidros das janelas.
– As pessoas estavam jogadas no chão, gritando e pedindo ajuda. Ajudei a carregar um policial que estava com o rosto ensanguentado. Ele não conseguia falar – contou Alexander Koblyakov, testemunha do atentado
Devido ao ataque, a segurança foi reforçada em outras estações de trem em Volgogrado e também em Moscou. O governo russo decretou luto oficial de três dias.
Ainda não se sabe a motivação do ataque ou se a terrorista agiu a mando de algum grupo. Ataques do gênero, porém, têm sido realizados nos últimos anos pelas chamadas "viúvas negras" chechenas. Por enquanto, há a certeza apenas de uma tensão crescente na região a poucas semanas de um grande evento internacional que, por ser a menina dos olhos do governo de Vladimir Putin, enraivece os extremistas do Cáucaso – em julho, o líder rebelde checheno Doku Umarov pediu à militância o uso de "força máxima" contra os Jogos Olímpicos de inverno, que chamou de "satânicos".
– Eles querem os Jogos sobre os ossos de nossos ancestrais, sobre os ossos de muitos muçulmanos mortos, enterrados na nossa terra no Mar Negro – disse Umarov em vídeo.
Há três dias, o alvo foi Pyatigorsk, a 270 quilômetros de Sochi e muito próxima ao Norte do Cáucaso. Um carro-bomba foi detonado na cidade, conhecida por seus resorts, e matou três pedestres. Em 21 de outubro, também em Volgogrado, Naida Asyalova detonou seus explosivos dentro de um ônibus, tirando a sua vida e a de outras seis pessoas. Naida era do Daguestão e foi identificada como uma "viúva negra". Ontem, uma das versões para o atentado na estação de trem também dizia que teria sido cometido por uma "viúva negra" do Daguestão chamada Oksana Aslanova, supostamente amiga de Naida.
Motivos não faltam para que Volgogrado tenha sido escolhida como alvo preferencial de extremistas. A quase 700 quilômetros de Sochi e a 600 quilômetros do Norte do Cáucaso, a cidade tem mais de 1 milhão de habitantes, é um importante centro regional e vai ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2018. Para completar, Volgogrado já foi chamada de Stalingrado em homenagem ao ditador soviético Josef Stalin – odiado no Norte do Cáucaso por ter ordenado a deportação de centenas de milhares de nativos da região para a Ásia Central. Dezenas de milhares de pessoas morreram no processo.
– Podemos esperar mais ataques – disse Alexei Filatov, que fez parte da unidade antiterrorismo russa Alfa. – A ameaça é maior agora, porque é quando os terroristas podem chamar mais a atenção. Com a segurança reforçada no entorno de Sochi, eles vão atacar nas cidades próximas, como Volgogrado.