A ofensiva russa é cada vez mais intensa no leste da Ucrânia, segundo as autoridades de Kiev, que nesta terça-feira (21) denunciaram uma "destruição catastrófica" em Lysychansk, localidade vizinha de Severodonetsk, onde quase 570 pessoas estão refugiadas na fábrica de produtos químicos Azot.
O governador da região de Lugansk (leste), Serguii Gaiday, citou combates na zona industrial de Severodonetsk e uma destruição catastrófica em Lysychansk".
"As últimas 24 horas foram difíceis para as forças ucranianas", acrescentou.
O governador informou que os ataques prosseguem contra as três pontes que ligam as duas cidades, separadas pelo rio Donets, apesar de já estarem destruídas, o que deixou Severodonetsk isolada do resto dos territórios controlados pela Ucrânia.
Gaiday também afirmou que 568 pessoas, incluindo 38 crianças, estão refugiadas na fábrica Azot.
O local é um ponto emblemático da cidade industrial, que tinha 100.000 habitantes antes da guerra. Um terço da localidade permanece sob controle de Kiev. A área é considerada uma etapa crucial para a conquista integral do Donbass, uma região parcialmente administrada pelos separatistas pró-Rússia desde 2014.
A localidade de Toshkivka, a poucos quilômetros de Severodonetsk e Lysychansk, está totalmente sob controle russo, informou o diretor do distrito de Severodonetsk, Roman Vlasenko.
"A pressão continua na linha de frente, onde a batalha do Donbass está em pleno curso", informou.
A região é cenário de violentos combates de artilharia entre as forças russas e ucranianas há várias semanas. O presidente Volodymyr Zelensky pediu "resistência" ao exército ucraniano, dando a entender que o resultado da guerra depende de sua perseverança e capacidade para frear o avanço russo.
Outras cidades do Donbass que permanecem sob controle de Kiev se preparam para para a luta contra as tropas russas, como Sloviansk e Kramatorsk, ao leste de Severodonestk.
A situação "é complexa porque a frente se aproximou nas últimas semanas, a até 15-20 quilômetros", explicou à AFP Vadim Liakh, prefeito de Sloviansk. "Esperamos que as novas armas para o nosso exército cheguem em breve", acrescentou.
– Consequências para a Lituânia –
No plano diplomático, a disputa entre Rússia e União Europeia (UE) se agravou nesta terça-feira, depois que Moscou ameaçou com "sérias consequências" para a Lituânia, país membro do bloco e da Otan, por impor restrições ao tráfego ferroviário de mercadorias até Kaliningrado devido às sanções ocidentais contra Moscou.
Este enclave estratégico e militarizado, sede da frota russa no Mar Báltico, faz fronteira com a Lituânia e a Polônia, dois países que apoiam a Ucrânia desde o início do conflito.
A Rússia reagirá aos "atos hostis" e as medidas "terão sérias consequências negativas para a população da Lituânia", disse Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança da Rússia, durante uma visita a Kaliningrado.
A diplomacia de Moscou acusou a UE de estimular uma "escalada" e exigiu o restabelecimento imediato do tráfego para o enclave, separado do território russo.
– Russificação –
Na província de Kiev, onde várias localidades ficaram sob controle russo em março, o comandante local da polícia anunciou que foram encontrados até o momento os corpos de 1.333 civis, mortos pelas forças russas, segundo ele. E 213 cadáveres ainda não foram identificados.
No sul da Ucrânia, desde que a região passou ao controle russo, Moscou aplica uma política de russificação, que inclui a introdução do rublo – a moeda russa – e a entrega de passaportes russos.
O exército russo anunciou que os moradores de Kherson, sob controle de Moscou, terão acesso "gratuito" aos canais de televisão da Rússia.
Entre as emissoras disponibilizadas estão as que pertencem ao grupo público VGTRK, que tem uma linha editorial ligada ao Kremlin.
Um dos novos líderes pró-Rússia da região de Kherson, Kirill Stremusov, disse que o território pode fazer parte da Rússia "até o fim do ano", após um referendo, segundo a agência de notícias TASS.
Ao mesmo tempo, em um gesto altamente simbólico, o editor-chefe do jornal independente russo Novaya Gazeta, Dmitri Muratov, leiloou na segunda-feira a medalha de ouro do Prêmio Nobel da Paz que ganhou em 2021 e com o dinheiro obtido ajudará as crianças deslocadas pela guerra na Ucrânia.
"É necessário que as pessoas entendam que há um conflito e que temos que ajudar as pessoas que mais sofrem", declarou o jornalista crítico do Kremlin.
Adquirida por um comprador anônimo pela colossal quantia de 103,5 milhões de dólares, o valor supera de longe os 4,76 milhões de dólares que outra medalha do Nobel alcançou em 2014.