Moscou apresentou nesta quarta-feira (02/12) o que considerou serem provas sobre a compra de petróleo do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) pela Turquia. Após uma semana intensa de acusações, o Ministério russo de Defesa revelou imagens feitas por satélite que comprovariam o negócio entre Ancara e os jihadistas.
As imagens supostamente mostram vários caminhões-tanque sendo carregados com petróleo em instalações controladas pelo "Estado Islâmico" na Síria e no Iraque e depois cruzando a fronteira da Turquia.
"A Turquia é o principal consumidor do petróleo roubado dos legítimos proprietários, a Síria e o Iraque. De acordo com informações que recebemos, a liderança política máxima do país, o presidente [Recep Tayyip] Erdogan e sua família estão envolvidos nesse negócio criminoso", afirmou o vice-ministro da Defesa da Rússia, Anatoli Antonov.
O ministério não especificou que evidência Moscou teria que comprovaria o envolvimento direito de Erdogan no contrabando de petróleo, que é uma das principais fontes de financiamento do grupo terrorista.
"No Ocidente, ninguém faz perguntas sobre o fato de que o filho do presidente turco dirige uma das maiores companhias de energia ou de que seu genro foi nomeado ministro de Energia. Que negócio familiar maravilhoso", argumentou Antonov.
Três rotas de contrabando
Segundo o ministério russo, as imagens capturadas revelariam as três principais rotas de contrabando de petróleo do território do EI para a Turquia. Uma delas ligaria campos de produção próximos a Raqqa, na Síria, ao assentamento de Azaz, na fronteira da Turquia. De lá, os caminhões seguiriam para a cidade turca de Reyhanli.
"Não há nenhuma inspeção dos veículos no lado turco", disse Sergei Rudskoy, vice-diretor das Forças Armadas Russas, afirmando que as imagens de satélites compravam essa alegação. O militar acrescentou ainda que parte do contrabando é destinada ao uso doméstico, e outra é exportada a partir dos portos de Iskenderum e Dortyol.
Outra rota de contrabando ligaria Deir ez-Zor a Al-Qamishli, ambas na Síria, de onde os caminhões transportariam o petróleo até uma refinaria na cidade turca de Batman. O terceiro caminho aproximaria o leste da Síria e o oeste do Iraque ao sudeste da Turquia.
O ministério alegou ainda que não houve redução no fluxo do contrabando na região desde o verão e afirmou que as informações divulgadas são apenas parte das evidências que possuem sobre o envolvimento turco no financiamento do grupo terrorista.
Armas e equipamento
O Ministério russo da Defesa foi além das acusações sobre o contrabando de petróleo para a Turquia nesta quarta-feira e alegou que as mesmas redes criminosas são usadas para fornecer armas e equipamentos, além de treinamento, ao "Estado Islâmico" e outros grupos islamitas.
"De acordo com nossos dados de inteligências, a Turquia vem realizando tais operações há longo período e com frequência. E o mais importante, não pretende interrompê-las", afirmou Rudskoy.
O ministério questionou ainda o motivo pelo qual a coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos não lançou mais ataques aéreos sobre caminhões-tanques em regiões controlados pelos jihadistas. "É difícil não notá-los", acrescentou Rudskoy.
Moscou e Ancara têm travado uma guerra verbal há uma semana, desde que um caça russo foi abatido pela Força Aérea turca próximo à fronteira do país com a Síria – o pior incidente envolvendo a Rússia e um país integrante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em meio século.
Turquia nega acusações
Desde que a Rússia vem acusando Ancara de financiar os jihadistas, Erdogan nega veemente as alegações e afirma que o país compra somente petróleo de fontes legítimas. O presidente afirmou ainda que está tomando providências para evitar o contrabando e desafiou quem está fazendo acusações a prová-las.
Após a apresentação do que Moscou considera provas, Erdogan voltou a rejeitar nesta quarta-feira as acusações de que ele e sua família estão lucrando ao realizar negócios com jihadistas.
"Ninguém tem o direito de proferir tal calúnia, ao sugerir que a Turquia compra petróleo do EI. A Turquia não perdeu seus valores morais para comprar petróleo de uma organização terrorista. Aqueles que fazem tais alegações têm que prová-las", ressaltou o presidente turco.
Na terça-feira, Erdogan declarou que deixaria o cargo que ocupa se alguém provasse que as alegações russas são verdadeiras.
"Estado Islâmico" decapita espião russo em vídeo
Um vídeo divulgado pelo grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) nesta quarta-feira (02/12) supostamente mostra a decapitação de um homem que os jihadistas afirmaram ser um espião russo. O executado teria estado na Síria e no Iraque desde o ano passado.
As imagens mostram um homem vestindo um macacão laranja sentado. Em russo, ele dá detalhes de seu aparente recrutamento pelos serviços de inteligência da Rússia e confessa estar espionando o EI. Depois disso, em outro local, aparece um jihadistas que ameaça, também em russo, Moscou e o presidente Vladimir Putin com ataques, antes de decapitar o espião.
De acordo com o serviço de monitoramento Site, o vídeo foi filmado na província de Raqqa, o principal reduto do EI na Síria. Moscou não comentou as imagens, cuja autenticidade ainda não foi confirmada.
Essa é a primeira vez que o grupo terrorista apresenta um refém da Rússia. Moscou não relatou a captura de cidadãos do país pelos jihadistas. Essa também é a primeira suposta execução de um russo desde que o país deu início a bombardeios aéreos contra alvos do EI na Síria, no final de setembro.
Em janeiro, o grupo extremista divulgou um vídeo no qual mostra um menino atirando contra dois homens acusados de serem espiões russos. O grupo terrorista já decapitou reféns de diversos países.
Moscou se tornou um alvo potencial do "Estado Islâmico" depois de iniciar os ataques aéreos contra o grupo. Os jihadistas reivindicaram o ataque a bomba que derrubou um avião russo na península egípcia do Sinai em outubro, matando as 224 pessoas a bordo.
A milícia terrorista disse que tinha inicialmente planejado derrubar um avião pertencente a um país integrante da coalizão internacional liderada pelos EUA, mas que mudou de ideia depois que Moscou começou a sua própria campanha na Síria.