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Revolta no Irã entra na terceira semana com vários protestos pelo mundo

Estudantes saíram às ruas de várias cidades iranianas neste sábado (1°), dando início à terceira semana de contestação no país. A dura repressão às manifestações já deixaram mais de 80 mortos. Atos de apoio à mobilização foram realizadas em várias cidades pelo mundo.

Publicações nas redes sociais neste sábado mostravam protestos em várias universidades do país. Na capital iraniana, estudantes pediram libertação de manifestantes presos desde o início da revolta. e a polícia usou bombas de gás lacrimogênio para dispersá-los.

Na sexta-feira (30), em Zahedan (sudeste), 19 pessoas morreram em confrontos depois de rumores que uma jovem havia sido estuprada por membros das forças de segurança. Segundo o correspondente da RFI em Teerã, Siavosh Ghazi, homens armados atacaram três delegacias da cidade. O governador da província onde fica Zahedan afirmou que bancos e lojas foram alvo de vandalismo durante o protesto.

O movimento de contestação teve início após a morte de Mahsa Amini, iraniana de origem curda de 22 anos, em 13 de setembro. Ela foi detida em Teerã pela polícia da moral sob a justificativa de uso de roupas inadequadas.

Segundo o irmão da jovem, que testemunhou a detenção, ela teria deixado parte dos cabelos à mostra sob o véu islâmico, obrigatório no país. Gravemente ferida, Mahsa foi transferida da prisão para um hospital, onde morreu, três dias depois. As autoridades iranianas recusam qualquer responsabilidade em sua morte.

As primeiras manifestações ocorreram em 17 de setembro e se espalharam rapidamente pelas 31 províncias do país. Os protestos uniram todas as categorias sociais, inclusive minorias étnicas e religiosas e se viraram contra o governo. 

O movimento é duramente reprimido pelas forças de ordem; as autoridades locais classificam os manifestantes de "baderneiros". Segundo a ONG Human Rights Watch, ao menos 83 pessoas morreram nos confrontos, entre civis e policiais. O governo iraniano, que ameaçou diversas vezes os manifestantes, culpa os Estados Unidos de explorar os problemas sociais para tentar desestabilizar o Irã.

Atos em apoio aos iranianos pelo mundo

Milhares de pessoas saíram às ruas de cerca de 150 cidades pelo mundo neste sábado, em apoio aos iranianos. Em Roma, cerca de mil pessoas marcharam e pediram justiça para Mahsa Amini. Em Tóquio, manifestantes exibiram faixas com a mensagem "Não vamos parar". 

Em Saqez, no Curdistão iraniano, cidade de onde Mahsa era originária, os manifestantes voltaram a protestar na sexta-feira (30). "Mulheres, vida, liberdade!", gritaram homens e mulheres, entoando o lema do movimento de contestação. 

Na sexta-feira, o governo iraniano anunciou a prisão de nove estrangeiros nas manifestações no país, cidadãos da Alemanha, Polônia, Itália, França, Holanda e Suécia. Segundo Teerã, eles foram abordados nos locais de "rebelião". O Ministério das Relações Internacionais indicou neste sábado ter pedido às autoridades locais contato com um holandês preso. 

No total, desde o início da revolta, mais 1.200 manifestantes foram detidos. Segundo ONGs, entre os presos estão militantes dos direitos humanos, advogados e jornalistas.

Forças de segurança oficiais abrem fogo contra manifestantes no Irã

As forças de segurança iranianas abriram fogo nesta sexta-feira (30) contra manifestantes armados com pedras, de acordo com uma mídia estrangeira, no momento em que o movimento de protesto desencadeado pela morte de uma jovem presa pela chamada polícia moral entra em sua terceira semana.  

A repressão aos protestos, que resultou até agora em pelo menos 83 vítimas fatais, começaram após a morte em 16 de setembro de Mahsa Amini, uma mulher curda iraniana, três dias após ela ter sido presa por violar o rígido código de vestuário do Irã, que exige que as mulheres usem o véu islâmico.

O governo, que nega qualquer envolvimento da polícia na morte da jovem de 22 anos, criticou os manifestantes como "desordeiros" e relatou centenas de detenções.

O Iran International, um canal de televisão em língua persa com sede em Londres, transmitiu diversas vídeos nesta sexta-feira, que a agência AFP não foi capaz de autenticar imediatamente.

Um dos vídeos afirmava que as mulheres da cidade de Ardabil, no noroeste do país, estavam cantando "Morte ao ditador". Em Avaz (sudoeste), forças de segurança dispararam gás lacrimogêneo para dispersar muitas pessoas que saíram às ruas para gritar slogans contra o governo, de acordo com outro vídeo.

Ataque a uma delegacia de polícia

Em Zahedan, na província sudeste de Sistan-Baluchistão, homens foram baleados enquanto atiravam pedras em uma delegacia de polícia, de acordo com outras filmagens divulgadas pela Iran International.

A ONG Iran Human Rights, com sede em Oslo, declarou que diversas pessoas foram mortas em Zahedan.

Enquanto isso, a televisão estatal iraniana relata que "pistoleiros abriram fogo nesta sexta-feira e jogaram coquetéis Molotov em uma delegacia de polícia na mesma cidade". "Diversos policiais e transeuntes foram feridos na troca de tiros", acrescentou a emissão.

De acordo com a agência de notícias iraniana Fars, cerca de 60 pessoas foram mortas desde o início dos protestos, enquanto a ONG Iran Human Rights já contabilizou pelo menos 83 mortos.

A Anistia Internacional denunciou o uso de violência "impiedosa" pelas forças de segurança, citando o uso de munições reais, espancamentos e violência sexual contra as mulheres.

Cantor preso

Teerã está "reprimindo impiedosamente as manifestações (…) com o objetivo de reprimir qualquer desafio ao seu poder", disse a ONG em uma declaração nesta sexta-feira.

As autoridades também relataram a prisão de mais de 1,2 mil manifestantes desde 16 de setembro. Ativistas, advogados e jornalistas também foram presos, de acordo com ONGs.

Uma mulher que estava almoçando sem lenço na cabeça em um restaurante de Teerã, cuja foto viralizou nas redes sociais, foi presa, afirmou sua irmã nesta sexta-feira.

As forças de segurança também prenderam o cantor Shervin Hajipour, cuja canção "Baraye" ("For"), composta de tweets sobre os protestos, viralizou no Instagram. A informação é do grupo de direitos Artigo 19 e da mídia persa sediada fora do Irã.

O Comitê de Proteção aos Jornalistas sediado em Washington afirmou que pelo menos 29 jornalistas foram detidos como parte da repressão.

Culpa dos EUA

Desde que os protestos começaram, as autoridades iranianas acusam as forças no exterior, incluindo os Estados Unidos, seu inimigo jurado, de estarem por trás das manifestações ou de as promoverem.

O Irã realizou greves transfronteiriças na quarta-feira (28) que mataram 13 pessoas na região iraquiana do Curdistão, acusando grupos armados da oposição sediados no local de alimentarem a agitação.

A repressão aos protestos foi denunciada por diversas capitais ocidentais, onde se realizaram manifestações solidárias ao movimento. Outros protestos estão planejados para o próximo sábado (1°) em 70 cidades ao redor do mundo.

Cineastas, atletas, músicos e atores iranianos expressam solidariedade aos manifestantes, incluindo a seleção nacional de futebol.

Em uma carta nesta sexta-feira, porém, os torcedores de futebol iranianos pediram à Fifa que proibisse sua equipe de participar da Copa do Mundo no Catar, por causa da repressão.

(Com AFP)

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