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Retirada ocidental do Afeganistão ocorre em “pé de guerra”; G7 debate prazo final

Forças ocidentais no aeroporto de Cabul trabalhavam freneticamente nesta terça-feira para retirar pessoas do Afeganistão antes do prazo final de 31 de agosto, e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, enfrenta uma pressão crescente para negociar mais tempo para uma ponte aérea de milhares de pessoas que tentam fugir.

Um caos generalizado pontuado por episódios de violência se instalou no aeroporto de Cabul, onde tropas ocidentais e seguranças afegãos repelem multidões desde que o Talibã tomou a capital do país no dia 15 de agosto.

Países que retiraram cerca de 58.700 pessoas ao longo dos últimos 10 dias estavam tentando cumprir o prazo combinado anteriormente com o Talibã para a retirada das forças estrangeiras, disse um diplomata da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) à Reuters.

"Todo membro de forças estrangeiras está trabalhando em ritmo de pé de guerra para cumprir o prazo", disse o funcionário, que não quis ser identificado.

Líderes dos países do G7 – EUA, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão – se reúnem virtualmente nesta terça-feira para debater a crise, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, deve pressionar por uma prorrogação do prazo final.

Biden, que diz que as tropas norte-americanas podem ficar depois desta data, alerta que a retirada será "difícil e dolorosa" e que muita coisa ainda pode dar errada.

O deputado democrata norte-americano Adam Schiff, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, disse aos repórteres após um informe de autoridades de inteligência que não acredita que a retirada pode ser finalizada nos dias que restam.

"É possível, mas acho que é muito improvável, dado o número de americanos que ainda precisam ser retirados", avaliou Schiff.

Na segunda-feira, uma autoridade do Talibã disse que uma prorrogação não será concedida, mas também disse que as forças estrangeiras não a solicitaram. Washington disse que as negociações continuam.

O diretor da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA), William Burns, encontrou-se com o líder do Talibã, Abdul Ghani Baradar, em Cabul também na segunda-feira, noticiou o jornal Washington Post, citando autoridades não identificadas dos EUA que falaram sob condição de anonimato.

A Reuters não conseguiu verificar a reportagem de imediato.

O ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, disse ao canal Sky News que duvida de uma prorrogação do prazo.

Mas o ministro das Relações Exteriores alemão, Heiko Maas, disse que seu país está trabalhando com EUA e Reino Unido para que os parceiros da OTAN possam retirar civis por via aérea após o prazo final.

Talibã diz querer que afegãos fiquem no país e espera fim de retirada estrangeira até 31 de agosto

O Talibã espera que as retiradas de estrangeiros de Cabul terminem até o final do mês, disse o principal porta-voz do grupo islâmico nesta terça-feira, exortando os afegãos a ficarem para ajudar a reconstruir o país.

Zabihullah Mujahid disse que o movimento não concordou com uma prorrogação do prazo final de 31 de agosto, que disse ter sido combinado com os Estados Unidos para sua saída do Afeganistão, e que o grupo quer que todas as partidas ocorram até esta data.

"A prorrogação foi unilateral do lado dos Estados Unidos", disse ele, aparentemente se referindo a um comentário do presidente norte-americano, Joe Biden, que disse na semana passada que as tropas de seu país poderiam ficar depois de 31 de agosto.

"Foi uma violação do acordo. Queremos que eles retirem todos os cidadãos estrangeiros até 31 de agosto", disse Mujahid, de acordo com um tradutor. "E não somos favoráveis a deixar que afegãos partam".

Ainda nesta terça-feira, uma autoridade dos EUA disse que Biden aceitou uma recomendação do Pentágono de retirar os soldados do Afeganistão até o final do mês, mas que a decisão depende de o Talibã cooperar com os EUA na finalização das retiradas.

Não ficou claro se o comentário do porta-voz do Talibã indicou que haveria uma proibição formal à saída de afegãos do país.

Ele disse que as multidões que se aglomeram diante do aeroporto podem ir para casa e que sua segurança está garantida, e pediu aos EUA que não incentivem afegãos instruídos e treinados a deixarem sua terra natal.

Ele também negou que patrulhas do Talibã estão procurando alvos de represálias de porta em porta, dizendo: "Esquecemos tudo no passado".

Talibã ordena que ex-autoridades "não entrem em pânico e voltem ao trabalho"

Ashraf Haidari, economista do Ministério das Finanças afegão, estava esperando apreensivamente em casa quando veio uma ligação do Talibã: um comandante ordenou que ele volte ao trabalho para ajudar a administrar o país assim que os "estrangeiros loucos" partirem.

Como milhares de outros que trabalhavam para o governo apoiado pelo Ocidente, varrido pela conquista vertiginosa do Afeganistão por parte dos militantes islâmicos, ele temia poder ser vítima de represálias.

O comandante pediu a Haidar que voltasse ao ministério, onde trabalha alocando fundos para as 34 províncias do país.

"Ele disse 'não entre em pânico ou tente se esconder, as autoridades precisam do seu conhecimento para administrar nosso país depois que os estrangeiros loucos partirem'", disse Haidari, de 47 anos, à Reuters.

Para se adequar às normas do antigo governo do Talibã, quando o grupo impôs brutalmente uma interpretação rígida da lei islâmica, Haidari deixou a barba crescer. Depois do telefonema de domingo, ele trocou o terno por túnicas afegãs tradicionais para se encontrar com seus novos chefes.

A Reuters conversou com três outros funcionários de escalão médio do Ministério das Finanças e do Banco Central que disseram ter sido orientados pelo Talibã a voltarem ao trabalho, já que o país enfrenta uma turbulência econômica e escassez de dinheiro.

Sohrab Sikandar, que trabalha no departamento de rendas do ministério, disse que não viu nenhuma colega desde que voltou ao escritório –durante o governo de 1996 a 2001 do Talibã, as mulheres eram proibidas de trabalhar, tinham que cobrir o rosto e só sair de casa na companhia de um parente masculino.

ONU adverte sobre catástrofe humanitária no Afeganistão

A ONU disse nesta terça-feira (24) que uma "catástrofe humanitária" espera os afegãos neste inverno, se a comunidade internacional não oferecer ajuda.

Durante uma coletiva de imprensa online de Genebra, a subdiretora regional do Programa Mundial de Alimentos (PMA) para a Ásia e o Pacífico, Anthea Webb, disse que a organização conseguiu transportar 600 toneladas de alimentos para o Afeganistão esta semana e ajudar 80.000 pessoas.

Este número se soma às mais de cinco milhões de pessoas que o PMA já pôde ajudar desde o início do ano.

Depois da queda de Cabul para mãos talibãs, a ONU pediu ao grupo que garanta o acesso humanitário.

Nesta terça-feira, o PMA pediu à comunidade internacional que acelere as operações destinadas a posicionar antecipadamente a ajuda humanitária, diante do inverno que se aproxima.

"Normalmente, nesta época do ano, o PMA estão tentando posicionar, antecipadamente, reservas de alimentos nos armazéns e dentro das comunidades do Afeganistão, que, depois são distribuídas para famílias afegãs necessitadas antes de serem interrompidas por nevascas brutais de inverno", relatou.

"Este ano, porém, com baixos níveis de financiamento e necessidades crescentes, corremos o risco de ficar sem farinha de trigo, nosso principal suprimento, a partir de outubro. Temos apenas algumas semanas para garantir o financiamento necessário dos doadores e estabelecer as reservas de alimentos até que a neve bloqueie as passagens da montanha", acrescentou.

Quando houver neve, será tarde demais para ajudar o povo afegão, alerta o PMA, segundo o qual uma em cada três pessoas passa fome no Afeganistão.

Além do conflito, o Afeganistão foi afetado por uma seca severa durante vários anos, e a pandemia covid-19 piorou a situação humanitária.

Remédio para mais uma semana

Também nesta terça, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que tem suprimentos médicos suficientes no Afeganistão para "uma semana", após a tomada de Cabul por parte dos talibãs em 15 de agosto passado.

"A OMS conta atualmente com suprimentos no país para apenas uma semana", disse Ahmed al Mandhari, chefe da OMS para a região do Mediterrâneo Oriental, que vai do Marrocos ao Afeganistão.

"Ontem (segunda-feira), 70% desses insumos foram entregues a postos de saúde", acrescentou.

Mandhari afirmou ainda que 500 toneladas de remédios e suprimentos foram retidas em Dubai, devido aos esforços caóticos de retirada no aeroporto de Cabul. No momento, voos comerciais não estão autorizados.

"Os países que enviam aviões vazios para recolher pessoas não se sentem em condições de nos dar ajuda", lamentou Mandhari.

No domingo, a OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) pediram em conjunto que "se estabeleça, de imediato, uma ponte aérea humanitária confiável e dinâmica a poder enviar suprimentos" ao Afeganistão.

"Mesmo antes dos acontecimentos das últimas semanas, o Afeganistão já representava a terceira maior operação humanitária do mundo, com mais de 18 milhões de pessoas com necessidades de assistência em saúde", dizia o comunicado de domingo.

As tropas lideradas pelos Estados Unidos intensificaram as operações para retirar milhares de pessoas de Cabul, depois que os talibãs avisaram que não vão permitir a extensão do prazo de sua saída total para além de 31 de agosto.

Pelo menos 50.000 estrangeiros e afegãos deixaram o país, pelo aeroporto de Cabul, depois da tomada de poder pelos talibãs.

¹com AFP
 

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