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Relatório Otálvora: Migração venezuelana desencadeia crise no Continente

EDGAR C. OTÁLVORA

@ecotalvora

Publicado em Espanhol no Diario las Américas 

A decisão dos governos do Peru e do Equador para exigir passaporte dos migrantes venezuelanos que tentam entrar no seu território e a violência contra os refugiados venezuelano na cidade fronteiriça brasileira de Pacaraima, estado de Roraima, fizeram que a onda de imigrantes venezuelanos começa a ser tratada como um grave problema de segurança regional.

A partir de 30AGO2018, navios de guerra de uma dezena de países estarão posicionados nas águas do Caribe colombiano. A Colômbia é a base do Exercício Naval Anual UNITAS LIX 2018, este ano coma participantes das marinhas: Argentina, Brasil, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Equador, EUA, Honduras, México, Panamá, Peru, Reino Unido e da República Dominicana.

A Armada do Equador, que por onze anos não participou das UNITAS por ordens de Rafael Correa, agora enviou a corveta CM13 Los Rios, que navegou 23AGO18 de rota Guayaquil para Cartagena de Indias No mesmo dia, o governo de Lenin Moreno anunciou sua decisão de se desassociar da aliança castrista ALBA.

 

Corveta CM13 Los Rios da Armada do Equador

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Vários governos sul-americanos, liderados pelo Brasil, estão tentando impedir a dissolução da UNASUL para reorientar os objetivos da organização. Durante o mês de setembro, uma reunião de ministros das Relações Exteriores ou representantes seniores dos doze governos membros da UNASUL seria realizada em Montevidéu, no Uruguai.

Em 20AGO18 chanceler brasileiro Aloysio Nunes visitou La Paz, onde se reuniu com o seu homólogo boliviano Fernando Huanacuni Mamani, em que o brasileiro tinha o evidente interesse em manter relações estreitas com o seu principal fornecedor de gás. Huanacuni condecorou Nunes com a Ordem do Condor de los Andes e Nunes condecorou seu colega com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. Além dos gestos típicos de cerimônias diplomáticas, os ministros das Relações Exteriores discutiram o destino da UNASUL, uma organização cuja presidência rotativa detém atualmente a Bolívia.

 

O chanceler brasileiro Aloysio Nunes visitou La Paz, onde se reuniu com o seu homólogo boliviano Fernando Huanacuni Mamani, em 20AGO2018.

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Convocada pelo então presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, em 31 de agosto de 2008, o que foi chamado de primeira Cúpula Sul-Americana que reuniu os líderes dos doze países do subcontinente aconteceu em Brasília. Desde então, a idéia de criar a Comunidade Sul-americana de Nações CASA com a qual o Brasil aspirava a desempenhar um papel de líder regional começou a ser tratada. O CASA promoveria um programa ambicioso que incluísse planos de infraestrutura e confluência dos pactos comerciais do MERCOSUL e a “Comunidad Andina de Naciones” (CAN). Pela mão de Hugo Chávez, a CASA tornou-se a UNASUL e a entidade sul-americana nasceu, em 23MAI2008, como uma plataforma política a serviço do eixo dos governos castristas, que proliferavam naqueles dias. Parece que agora, após o fim da influência Castrochavista, a chancelaria brasileira planeja recuperar a ideia original do organismo para isto tem conversado com vários governos da região.

O chanceler brasileiro disse em La Paz, 20AGO2018, que o Brasil procura "superar impasses políticos que estão impedindo o funcionamento da UNASUL" e chamados para o trabalho de "manter essa organização e orientando mais precisamente com questões práticas, pragmáticas, que o interesse de perto vida de nossos povos". Em abril de 2017, os governos da Argentina, do Brasil, do Chile, da Colômbia, do Paraguai e do Peru optaram por suspender temporariamente sua participação paralisando de fato qualquer decisão. Como parte do confronto de Nicolás Maduro contra vários governos da região, os representantes da Venezuela, Bolívia e Suriname bloquearam a nomeação de um novo Secretário Geral.

O governo equatoriano de Lenin Moreno exigiu que a UNASUL devolvesse o edifício sede localizado nos arredores de Quito, o que implica que o Equador se retiraria. O novo presidente colombiano, Iván Duque, anunciou que a Colômbia sairá definitivamente da UNASUL, uma posição que o governo argentino também considerou. No entanto, até o momento, o Equador e a Colômbia ainda não materializaram os procedimentos legais para sua saída da UNASUL, provavelmente dependendo dos esforços feitos pelo Brasil. Nomear um Secretário Geral, redesenhar a estrutura funcional do secretário geral com a mudança de todos os seus gerentes e aprovar um plano de ação são os pontos que estariam sobre a mesa. A construção de um sistema ferroviário que ligaria o porto de Santos (São Paulo), no Brasil, até o porto de Ilo, Peru, no Pacífico ou da crise migração maciça dos venezuelanos são questões que, de acordo com vários governos, teria, um espaço natural em uma organização regional como a UNASUL.

A propósito, em 28AGO2018, chegará a Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, o presidente do governo espanhol Pedro Sánchez como parte de uma excursão que também o levará ao Chile, Colômbia e Costa Rica. Sánchez vem buscar negócios para empresas espanholas e assinará um memorando de entendimento com Evo Morales "para viabilizar a participação de investimentos" da Espanha na construção do corredor ferroviário bioceânico. O custo da construção de novas ferrovias e a reconstrução das existentes seriam da ordem de US $ 15 bilhões e atraiu o interesse de empresas europeias, com a Alemanha assumindo a liderança.

 

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O secretário de Defesa dos Estados Unidos, James Mattis concluiu 17AGO18 uma turnê sul-americana durante o qual ele foi recebido pelos presidentes do Chile e da Colômbia, e realizou reuniões com os ministros da Defesa e chanceleres da Argentina, Brasil, Chile e Colômbia. Algumas horas depois de um café da manhã com o presidente colombiano Ivan Duque em Bogotá, Mattis ofereceu uma coletiva de imprensa aos jornalistas que o acompanharam em seu voo de volta a Washington.

Lá, ele informou que havia concordado com Duque em enviar um navio-hospital para a Colômbia para atender "aos refugiados venezuelanos e ao impacto desestabilizador que eles têm". Mattis disse que é "uma missão absolutamente humanitária". Nós não estamos enviando soldados; Estamos enviando médicos E é um esforço para lidar com o custo humano de Maduro e seu regime cada vez mais isolado ". Em 21AGO2018, o governo dos EUA informou oficialmente que em meados de setembro, o T-AH-20 USNS Comfort, um barco com mil leitos hospitalares, estará viajando para a Colômbia em uma missão humanitária com "refugiados" venezuelanos. A operação será coordenada pelo Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM) e incluirá outros países sul-americanos.

 

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A notícia de enviar navio-hospital para a Colômbia correu rapidamente e poucas horas depois de o anúncio de Mattis, o presidente boliviano Evo Morales twittou: "Condenamos a invasão secreta do governo dos EUA na América Latina, para o Pentágono enviar à Colômbia navio  desculpa" ajuda humanitária "aos irmãos venezuelanos. O navio USNS Comfort, capaz de transportar helicópteros de guerra, é uma ameaça contra a Venezuela. " As reações do regime chavista não demoraram e anunciaram a chegada iminente de um navio hospital chinês em águas venezuelanas como uma suposta resposta à ação dos Estados Unidos. "Navio-hospital chinês vai realizar operação na Venezuela para vencer a sabotagem dos EUA", twittou o secretário do Conselho de Defesa, Major-General Angiolillo Fernández.

A conta de Twitter da Comandante do Comando Estratégico Operacional da Fuerza Nacional Bolivariana (CEOFANB), A/J Remigio Ceballos retwittou  Fernández acrescentando: "La FANB ejecuta Operación Estratégica Combinada Integral para fortalecer la Defensa de la Nación contra las Amenazas Transfronterizas e Internas". O governo de Maduro apresentou a presença de um hospital flutuante dos EUA na Colômbia como um ato de agressão contra a Venezuela e a chegada de um navio hospital chinês como a resposta militar de um aliado.

 

 

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Apesar dos exaltados anúncios do governo chavista, a visita do navio-hospital He Ping Fang Zhou (Arca da Paz) à Venezuela não é uma resposta chinesa ao envio do USNS Comfort aos EUA. Em 28JUN2018, porta-voz do Ministério da Defesa Nacional da China, coronel Wu Qian, durante a sua conferência de imprensa diária informou que o navio-hospital Paz Ark zarparia naquele dia, do porto de Zhoushan, para uma turnê chamada "Missão Armoniosa 2018", que incluiria Papua Nova Guiné, Vanuatu, Fiji, Tonga, Venezuela, Granada, Dominica, Antígua e Barbuda, República Dominicana e Equador. A inclusão da República Dominicana na lista de países a visitar seria uma recompensa pela decisão do governo de Danilo Medina de romper relações diplomáticas com Taiwan e de abri-las com a China. Por certo,

A visita às águas venezuelanas da Arca da Paz é parte de uma operação que, de acordo com o governo chinês, pretende fornecer "serviços médicos humanitários". Autoridades chinesas realizaram reuniões com autoridades militares venezuelanas em 13 de julho de 18 em Caracas para coordenar a operação do navio. A turnê anual Peace Ark será concluída em dezembro em Valparaíso, no Chile, onde participará de eventos para marcar o 200º aniversário da Marinha do Chile. A Arca da Paz estará presente na feira EXPONAVAL 2018, que será realizada na Base Aeronaval Concón,  em Dezembro, na cidade de Valparaíso, Chile.

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A decisão dos governos do Peru e do Equador para exigir passaporte aos venezuelanos que tentam entrar no seu território e a violência contra os refugiados venezuelano na cidade fronteiriça brasileira de Pacaraima, identifica a onda de imigrantes venezuelanos como um grave problema de segurança regional. As conversas entre as chancelarias sobre o assunto se multiplicaram nos últimos dias. O governo colombiano, temeroso de que as medidas do Equador e do Peru represem os venezuelanos em seu território, organizou uma reunião com as autoridades de imigração dos três países que ocorrerá, em 28 AGO2018.

O Equador está convidando treze governos da América do Sul e Central para uma reunião técnica a ser realizada, em Quito, 17SET2018, para analisar a crise da imigração venezuelana. A Colômbia está promovendo a realização urgente de uma reunião de chanceleres, provavelmente no nível da OEA. Em 23AGO2018, o chanceler colombiano Carlos Holmes Trujillo se reuniu com o secretário-geral da ONU, António Guterres, que pediu a nomeação de um enviado especial para atender a crise de imigração venezuelana, enquanto os olhos regionais começam a serem dirigidos para Washington e a Europa, no entendimento de que o fluxo dos refugiados venezuelanos requer a coordenação que pode ser fornecida pela ONU, mas também enormes recursos que não são previstos pelos governos locais.

Em 23AGO2018, o chanceler colombiano Carlos Holmes Trujillo se reuniu com o secretário-geral da ONU, António Guterres, que pediu a nomeação de um enviado especial para atender a crise de imigração venezuelana.

 

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