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Quem está vencendo a guerra na Ucrânia: duelo de versões marca os 100 dias do conflito

Enquanto os soldados continuam a se enfrentar no front, autoridades russas e ucranianas têm discursos diferentes para avaliar esses 100 dias de confronto entre os dois países vizinhos. Nesta sexta-feira (3), o Kremlin afirmou ter alcançado "certos" objetivos, depois de "libertar várias localidades", o que permitiu a seus habitantes voltarem a "uma vida de paz".

Já o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou em um vídeo no Instagram: "a vitória será nossa". Após esses 100 dias de ofensiva contra a Ucrânia, o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, disse que "este trabalho vai continuar, até que todos os objetivos da operação militar especial sejam alcançados".

Ele destacou que "muitas localidades foram libertadas das Forças Armadas pró-nazistas da Ucrânia, assim como de elementos nacionalistas". Em 24 de fevereiro, a Rússia iniciou uma vasta ofensiva contra a Ucrânia, justificada pela necessidade de proteger o país de um suposto "genocídio" da população de língua russa do Donbass (leste), onde algumas áreas são controladas por separatistas pró-Moscou, desde 2014.

Há anos o Kremlin considera que a política pró-Ocidente de Kiev é uma ameaça para o país e justifica a operação com o objetivo de "desnazificar" o governo ucraniano. O cerco russo a Kiev, no entanto, fracassou. Atualmente, as tropas se concentram no Donbass, onde combates violentos ocorreram nas últimas semanas.

Em um vídeo de 36 segundos gravado na sede da presidência, em Kiev, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou: "os representantes do Estado estão aqui, defendendo a Ucrânia há 100 dias".

Ele estava ao lado do primeiro-ministro ucraniano, Denys Chmygal, do líder do partido de governo, David Arakhamia, além do chefe de gabinete da presidência, Andriy Yermak e Mikhaylo Podoliak, um de seus principais conselheiros.
 

Na quinta-feira (2), Zelensky havia admitido que as tropas russas ocupam, atualmente, "cerca de 20%" do país.

ONU diz que não haverá vencedor

"Esta guerra não tem e não terá vencedor", afirmou, nesta sexta-feira, em um comunicado, o secretário-geral adjunto e coordenador de crises da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Ucrânia, Amin Awad. "Precisamos de paz. A guerra deve cessar", acrescentou o funcionário da ONU, no momento em que as negociações entre Rússia e Ucrânia estão paralisadas, há várias semanas.

A invasão russa "teve um preço elevado para os civis", destaca Awad, que cita "a destruição e a devastação de cidades", assim como a perda de "vidas, casas, empregos e perspectivas".

Awad afirmou, ainda, que em pouco menos de três meses "quase 14 milhões de ucranianos foram obrigados a fugir de suas casas, a maioria mulheres e crianças". Segundo ele, trata-se de um fenômeno "sem precedentes na história".

Para o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, o Ocidente deve se preparar para "uma guerra de desgaste" no "longo prazo".

Mais de 8 milhões de ucranianos estão deslocados internamente, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Somam-se a isso 6,8 milhões que fugiram para o exterior, mais da metade deles — 3,6 milhões — para a Polônia.

Há várias semanas, os exércitos ucraniano e russo se enfrentam no Leste do país, na bacia de mineração do Donbass, e no Sul, onde Moscou já mencionou a possibilidade de convocar referendos com o objetivo de anexar os territórios ocupados.

Rússia avança no Leste e no Sul

As forças russas continuam a bombardear para controlar a cidade-chave de Severodonetsk, capital administrativa da região de Lugansk, que agora está entre "80% a 90% ocupada", segundo fontes militares francesas. A presidência ucraniana informou que "a luta continua no centro da cidade".

"Estamos lutando e controlando cada metro da região de Lugansk", disse Serguiï Gaïdaï, governador local, na manhã desta sexta-feira, denunciando a destruição pelos russos de mais de 400 quilômetros de estradas, 33 hospitais, 237 clínicas, quase 70 escolas e 50 jardins de infância.

As forças russas também estão bombardeando fortemente a região de Donetsk, incluindo Sloviansk, 80 km a oeste de Severodonetsk.

Desde o início da invasão, as tropas russas assumiram o controle de zonas do sul da Ucrânia — a maior parte de Kherson e parte de Zaporizhia. No entanto, as forças ucranianas estão novamente na ofensiva, com batalhas em torno de Mykolaiv e Kherson, como observa Mathieu Boulègue, especialista do think tank britânico Chatham House.

Ao redor de Mykolaiv, perto de Odessa, bombardeios russos durante a noite deixaram pelo menos um morto e um ferido, segundo a presidência ucraniana.

De acordo com o Instituto Americano para o Estudo da Guerra (ISW), "as contra-ofensivas ucranianas na região noroeste de Kherson empurraram as forças russas para a margem leste do rio Ihulets e, provavelmente, continuarão a dificultar as linhas de comunicação terrestres russas ao longo da rodovia".

Dezenas de milhares de mortos

Não existe um balanço global das vítimas civis do conflito. Somente para a cidade de Mariupol, as autoridades ucranianas falaram de 20.000 mortos, há várias semanas.

Entre os militares, fontes ocidentais calculam cerca de 12.000 soldados russos mortos. Uma fonte militar francesa estimou à AFP cerca de 15.000. Essas perdas, em três meses de confrontos, estão próximas das registradas em nove anos pelo Exército soviético no Afeganistão, observa o Ministério da Defesa britânico.

As forças ucranianas perdem entre 60 e 100 soldados todos os dias em combate e cerca de 500 ficam feridos, lamentou o presidente Zelensky à mídia americana Newsmax, na quarta-feira (1).

 

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