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Presidente turco inflexível em negociações com Rússia sobre a Síria

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, excluiu nesta quarta-feira (26) "dar um único passo para trás" frente ao regime de Bashar al-Assad, no noroeste da Síria, demonstrando sua intransigência antes de negociar com a Rússia, aliada de Damasco.

Novo epicentro do conflito que assola a Síria há quase nove anos, a província de Idlib é palco de um jogo de interesses entre a Turquia, que apoia grupos rebeldes, e o regime de Assad, apoiado pela Rússia.

A ofensiva desencadeada pelo regime sírio em dezembro para recuperar a última fortaleza rebelde causou uma catástrofe humanitária, com quase um milhão de deslocados em uma estreita faixa de território na fronteira turca.

Nesse contexto, o presidente Erdogan pressiona Damasco a se retirar antes do final de fevereiro de algumas áreas de Idlib, onde postos de observação turcos (grupos de soldados de vigilância) estão cercados pela progressão das forças de Damasco.

Nove combatentes do regime sírio morrem em ataques turcos em Idlib

Nove combatentes do regime sírio morreram nesta segunda-feira (24) em bombardeios turcos na região de Idlib (noroeste), onde as forças fiéis ao presidente Bashar al-Assad avançam contra a última fortaleza jihadista e rebelde do país, com o apoio da Rússia.

Os rebeldes apoiados pela vizinha Turquia conseguiram recuperar a cidade de Nayrab, a sudeste da cidade de Idlib, enquanto a artilharia turca matou nove combatentes das forças do regime na área, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

Antes, o Observatório havia relatado a morte de cinco civis por ataques aéreos da Rússia, aliada do regime no setor de Khabal Al Zawia, no sul de Idlib, onde os combates estão concentrados principalmente no oeste da cidade de Maaret. Al Numan, de acordo com (OSDH).

O regime lançou sua ofensiva em dezembro no noroeste e quase 900.000 pessoas abandonaram a região por causa da violência, segundo a ONU.

Os jihadistas do grupo Hayat Tahrir Al Sham (HTS, antigo braço sírio da Al Qaeda) ainda dominam metade da província de Idlib e setores próximos nas províncias de Aleppo, Hama e Latakia.

Iniciada em março de 2011 após a repressão de manifestações pacíficas, a guerra na Síria já provocou mais de 380.000 mortos.

 

"Não daremos um único passo para trás, repeliremos o regime (sírio) além das fronteiras que determinamos", disse nesta quarta-feira o chefe do Estado turco em um discurso diante dos deputados de seu partido, o AKP, em Ancara.

"Estamos planejando a liberação, de uma maneira ou de outra, desses pontos de observação até o final de fevereiro", acrescentou.

Sabendo que Ancara não pode usar o espaço aéreo controlado por Moscou em Idlib, Erdogan afirmou que uma solução será encontrada em breve, sem dar mais detalhes.

Essas declarações são produzidas às vésperas da chegada de uma delegação russa à Turquia para uma nova rodada de negociações para encontrar uma solução para a crise de Idlib.

A ofensiva do regime, apoiada pela aviação russa, gerou atritos entre Ancara e Moscou que, apesar dos interesses díspares na Síria, reforçaram sua cooperação nas últimas semanas.

Segundo o chefe da diplomacia turca, Mevlüt Cavusoglu, as negociações com a delegação russa começam nesta quarta-feira à noite.

"A prioridade para a Turquia é acabar com os ataques do regime" em Idlib, enfatizou. Em fevereiro, 17 soldados turcos perderam a vida em bombardeios do regime nesta região.

O ministro turco também confirmou que Erdogan e seu colega russo, Vladimir Putin, "concordaram em se reunir" antes de uma possível cúpula com França e Alemanha.

O porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, afirmou que prepara uma cúpula Rússia-Turquia-Irã sobre a Síria, embora, no momento, "não haja um acordo definitivo".

No terreno, o regime de Damasco continua avançando.

Em comunicado lido na televisão pública, o comando do Exército sírio anunciou nesta quarta-feira que "recuperou o controle" nos últimos dias de uma dúzia de localidades e reiterou "sua determinação em libertar todos os territórios da República Árabe da Síria do terrorismo".

Na terça, o regime recuperou a simbólica cidade de Kafranbel, uma das primeiras a se mobilizarem contra Assad em 2011.

Nas últimas semanas, Assad recuperou cerca de metade da província de Idlib, controlada por anos pelos jihadistas da Hayat Tahrir al-Sham, ex-facção síria da Al-Qaeda, e por grupos rebeldes.

Mais de 400 civis já morreram nesta última ofensiva do regime, segundo o OSDH, e cerca de 900.000 estão deslocados, de acordo com a ONU. Entre os deslocados, 170.000 civis dormem ao ar livre, ou em edifícios inacabados, devido à falta de lugar nos acampamentos já lotados.

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